ProfNeste mundo cão em que vivemos e com uma sociedade corrupta e corruptora em que nos movemos, é fácil passarem despercebidos acontecimentos e pessoas que sempre viveram ma humildade e nunca se puseram em bicos de pés para se tornarem notadas. Pessoas que doaram totalmente as suas vidas ao próximo, amando-o com amor cristão e servindo-o com absoluto desprendimento sem olhar a sacrifícios e renúncias. São estes que passam por entre a pulhice humana sem se deixarem contaminar e, muito menos, corromper. Poucos reparam nessas pessoas, mas felizmente ainda existem nos nossos dias. E são um exemplo de vida para quantos fazem da própria vida um jogo de interesses e de calculismo.

Vem este intróito a propósito de um acontecimento eclesial recentemente ocorrido na Unidade Pastoral do nosso concelho de Arganil. O padre António Lopes da Conceição, por razões de doença, cessa as funções que de há mais de meio século vinha exercendo em paróquias deste concelho. Neste caso concreto, Moura da Serra e Piódão.

O padre António é piodense por nascimento. Ali nasceu em 9/8/1930. Entrou no Seminário da Figueira da Foz já adolescente, concluiu o curso teológico no Seminário de Coimbra e foi ordenado sacerdote pelo então Arcebispo-Bispo de Coimbra, D. Ernesto Sena de Oliveira, em 15/8/1959. Com raízes na serra, a mesma serra o chamava para aqui exercer o seu ministério sacerdotal. Por isso, após a ordenação, é nomeado pároco da Teixeira onde permaneceu dois anos, os primeiros do seu ministério paroquial. Entretanto, por diligências de monsenhor Pereira de Almeida, natural de Moura da Serra, figura destacada da Cúria diocesana da Guarda onde exercia o cargo de Vigário Geral da Diocese, naquela aldeia era criada a sede de uma nova freguesia e paróquia. O padre António é nomeado pároco desta paróquia, tornando-se assim o primeiro e único pároco de Moura da Serra até agora cessar funções pelos motivos acima apontados. No início da década de setenta, o Piódão fica sem pároco próprio e o padre António acumula, agora, a paroquialidade da sua freguesia natal com a de Moura da Serra, até ao termo do ano findo.

Significa isto que o padre António Lopes da Conceição, neste momento com 53 anos de sacerdócio, gastou-os por inteiro ao serviço das populações das serranias do concelho de Arganil. Cinquenta e três anos de pároco em paróquias da serra!… Para muitos, sobretudo os mais distraídos, ou que não queiram ver, isto poderá parecer de somenos importância. Mas, efectivamente, não o é. Porque o padre António procurou sempre não apenas anunciar o Evangelho mas também ajudar as populações nos aspectos sociais, culturais, associativos e de desenvolvimento a todos os níveis, porque ele estava ali, no meio do seu povo, para servir. E estes 53 anos de pároco da Serra são o exemplo e o testemunho de tudo isso.

Sempre envolto numa humildade cativante, sofrendo em silêncio os efeitos da doença que, de alguns anos a esta parte, o afecta, o padre António cumpriu exemplarmente a sua missão sacerdotal no meio do seu povo a quem amava qual Bom Pastor e de quem recebia igual estima, amizade e carinho. Pessoalmente, posso testemunhar isso mesmo.

O padre António Lopes da Conceição, no exercício do seu ministério, ficará para sempre ligado à Serra do Açor, à serra de Arganil, que contraiu para com ele uma dívida de gratidão que não pode passar em claro.

Padre António, traí a tua humildade, eu sei. Tu não gostas destes escritos. Desculpa e aceita o abraço amigo do teu condiscípulo que aqui mais não fez do que deixar falar o coração e dizer o que é a realidade.

 

Assinatura Ramos Mendes