Editorial

António Lopes Machado

No Prado e na Guaratiba nas fazendas de Joaquim Francisco

Fazemos a viagem de Salvador para Porto Seguro e a apanhamos a BR 101 que segue para Vitória e nem entramos na cidade.

 

Seguimos em direcção a Prado e almoçamos em Eunapolis.

A estrada é boa mas não é nenhuma auto-estrada. Nas subidas precisava de uma via alternativa; se se apanhar um camião tem de ser fazer fila em marcha lenta.

Em Itamaraju deixamos a estrada e seguimos por uma secundária para o Prado, um Município rural no sul do Estado da Bahia com grandes fazendas de gado e  em franco desenvolvimento, mesmo à beira de numerosas praias.

Esta zona precisa muito de um aeroporto, evitando que tenha que ser servida por Porto Seguro a umas centenas de quilómetros. As praias são aqui maravilhosas mas para as tornar acessíveis a estrangeiros precisam de bons acessos e desenvolvimento hoteleiro. Aqui há já um pequeno aeroporto que de vez em quando recebe um pequeno avião, mas o que é necessário é um aeroporto comercial com carreiras regulares que, segundo se diz, vai surgir em breve aqui perto, em Caravelas, servindo igualmente a grande cidade de Teixeira de Freitas.

A costa atlântica do Brasil, com mais de 8 mil quilómetros, tem praias maravilhosas de águas quentes e areia fina, que constituem uma atracção turística de um futuro promissor.

Antes de chegarmos ao Prado, a 8 quilómetros, paramos na Fazenda Santa Luzia, adquirida e baptizada por Joaquim Francisco, naturalmente recordando alguém da família. O mesmo acontece alguns quilómetros à frente, com a Fazenda S. Francisco, onde Joaquim Francisco tem já um plano imobiliário que pode ter grande importância.

A Santa Luzia tem hoje mais de uma centena de cabeças de gado – vacas, cabras, cavalos – que estão a produzir leite e crias em força.

Joaquim Francisco está a investir em força. Foi uma vida inteira de trabalho e orientação, que começou há muitos anos, em Lisboa, no ramo vidreiro. Começou com a construção de uma vivenda na Guaratiba, uma urbanização em recinto fechado, para lá do Prado, a caminho de Caravelas.

Chegados à Fazenda, a primeira tentação foi dar uma volta a cavalo, mas as mulheres, dr.ª Lurdes Barral Vicente e dr.ª Cristina Teixeira, fizeram ver aos homens que mesmo sem experiência, sabiam conduzir o cavalo com paciência e habilidade.

Em véspera de Carnaval, Joaquim Francisco manda matar uma vaca e fez-se um enorme churrasco numa “torre” turística muito curiosa na Fazenda, num ponto elevado sobre o rio Jucuruçu.

Na Fazenda da há muita fruta, mesmo peras ou maçãs como as nossas, que são aqui caras. Mas há frutos tropicais: manga, papaia, bananas, noni, acerola, fruta pão, jaca, jabuticaba, guaraná, goiabas, a carambola, o caju, o abacaxi, o coco, e muitos outros cujos nomes desconheço, de que se fazem sumos deliciosos.

Apanhámos aqui o Carnaval e ficámos com uma ideia muito completa do que é o Carnaval no Brasil, mas principalmente no Estado da Bahia, mesmo para além de Salvador ou do Rio de Janeiro, onde atinge proporções internacionais, em que muita gente deixa de trabalhar durante uma semana. Aqui no Prado, o Município investe na festa do povo: “Carnaval, lúdico, dilacerador, espiritualizado, físico, a maior festa urbana do Brasil, criada e mantida pelo povo”.

O Prado aumenta de população extraordinariamente nesta ocasião. Vêm das aldeias e das cidades, e algumas muito distantes. A grande alameda central da cidade presta-se para a festa, com os camiões a passar carregados de pessoas que cantam, que tocam, que dançam, que gingam, que vivem o Carnaval de uma forma diferente, sempre em forma de convívio, com amizade e solidariedade. Diz-se que a Bahia é a capital da alegria, o que não significa que, por exemplo, em Salvador não haja todos os anos mortes a contabilizar. O Carnaval vai interligar-se aqui ao turismo e comércio. Fortemente influenciado pelos descendentes dos antigos escravos africanos, que tanto contribuíram para o desenvolvimento da Bahia com a sua força de trabalho, o Carnaval não pode deixar de ter alguma origem de raiz africana.

As praias são aqui outra tentação. Ontem fomos a Cumuraxatiba, 30 quilómetros pela selva em estrada de terra batida, que oferece águas preciosas, quentes, apetecíveis, com as ondas quebradas lá ao longe pelos recifes. Apetece mesmo entrar pela água dentro. António José Francisco e Paulo Vicente não se cansam de nadar e foram até lá muito longe, numa água calma, azul e quente de que não apetece sair.

Sai-se da água e fica-se à sombra de árvores frondosas na orla da praia. Lugar paradisíaco, quase escondido, mas por onde vão surgindo muitos pequenos estabelecimentos curiosos para utilização de turistas, que só precisam de melhores caminhos para lá chegar.

A barra do rio Cahy, onde Cabral teve o primeiro contacto com os índios, a 23 de Abril de 1500, e a ponta do Corumbau oferecem praias ainda melhores. Ainda esperamos lá ir, como a Caravelas.

Na quarta-feira de Cinzas fomos todos à missa por alma de D. Maria Augusta, à igreja paroquial de Prado, cheia que nem um ovo. Foi um dever de gratidão, e especialmente para mim, que fui por ela tão bem acolhido quando aqui estive há 6 anos. Era também natural de Meãs e morreu longe da sua terra a pensar nela, naturalmente.

Na vida tudo morre, tudo passa e tudo esquece.

Mas há algo que não morre nunca: a gratidão e a saudade.

 

O DIRECTOR