ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS 2021 – ARGANIL: Entrevista a José Tiago de Almeida, candidato da CDU à Câmara Municipal

É para uma “mudança de paradigma naquilo que é a realidade do concelho” que José Tiago Almeida se volta a recandidatar pela CDU – Coligação Democrática Unitária (entre os Partido Comunista Português e o Partido Ecologista Os Verdes), à presidência da Câmara Municipal de Arganil.

Depois ter servido durante 35 anos a Câmara Municipal, onde foi técnico superior principal e exerceu funções de chefia na repartição administrativa, José Tiago Almeida embora natural da Pereira, do vizinho concelhio de Tábua, veio para Arganil em 1970, onde casou, considerando-se por isso um arganilense no meio dos arganilenses. Serviu o associativismo, nomeadamente no Grupo Desportivo Argus, colaborou durante alguns anos com a Assistência Folquense.
“Sempre me afirmei como sou. Nunca me deixei intimidar”, disse José Tiago Almeida, mais uma vez candidato da CDU à presidência da Câmara Municipal de Arganil nas eleições autárquicas de 26 de Setembro que, como considera, “ocorrem num momento crucial da evolução política, económica e social a exigir dos eleitores uma reflexão profunda, considerando as responsabilidades das demais candidaturas em décadas de gestão autárquica e porque as suas propostas para os próximos quatro anos, são a continuação das mesmas práticas políticas neoliberais, que PS e PSD nos habituaram de há 40 anos a esta parte e nada de novo se pode esperar”.
Por isso e ainda segundo José Tiago Almeida, “a CDU prepara as próximas eleições autárquicas com reforçadas preocupações, conhecidos que são os resultados provisórios do último censo da população”, em que “o concelho perdeu 1.078 habitantes, 8,9% da sua população na última década e 2 556 em duas décadas, ou seja 19,7% nos últimos 20 anos, cerca de 127 habitantes ao ano”, considerando mesmo que “tais resultados não nos surpreendem, apenas confirmam e dão razão à CDU que, recorrentemente, vem reclamando que, uma nova política, é não só possível como necessária”.

A COMARCA (AC) – E é essa nova política, a mudança de práticas, em que vai apostar a candidatura da CDU?
JOSÉ TIAGO ALMEIDA (JTA
) – Começo por lhe dizer que, ao longo dos últimos 40 anos, essas práticas se revelaram sem qualquer visão estratégica de desenvolvimento, foram feitas à medida de manifestos interesses de grupos e que nos conduziram à atual situação económica e social asfixiante. Hoje temos um concelho cada vez mais pobre e envelhecido e sem perspetivas de futuro. Sem dinâmica económica (empresarial e comercial), sem trabalho e desemprego elevado, baixos salários, cada vez mais desertificado, elevado índice de emigração e diminuição da natalidade. Um concelho cada vez mais vazio e partido ao meio. Tudo factores que minam a sua coesão e identidade colectiva e o seu futuro.
AC – E como é que pensa mudar essa situação?
JTA –
Impõe-se da parte dos eleitores, a interrogação sobre as causas que motivaram a actual situação, os seus responsáveis e o modo de as ultrapassar. É por isso necessário um grau de exigência maior na condução dos seus destinos, que não podem estar dependentes de um simples debate político de quatro em quatro anos e com os votos em cima da mesa.
AC – Um grau de exigência para o qual a CDU está preparada?
JTA –
Com certeza que sim e é com base nesta dura realidade que reafirmamos, como contributo da CDU, que é chegado o momento de mudar a mentalidade e o comportamento autárquico na abordagem metodológica das competências municipais. Os responsáveis deverão assumir as suas responsabilidades, porque as suas propostas falharam e o Município de Arganil deverá então desempenhar, no futuro, o indiscutível papel de promoção do concelho, numa perspetiva de coesão interna com a participação da população, associações, empresários, técnicos, funcionários, etc. em interacção com os demais Municípios vizinhos, cada vez mais assente na valorização das virtudes e suas potencialidades coletivas e cada vez menos no pensamento isolado, que não visa uma perspetiva de desenvolvimento económico e social sustentado. É preciso que todos percebamos que está em causa o futuro do concelho e esse futuro é cada vez mais regional e colectivo.
AC – Quais são as propostas apresentadas pela sua candidatura para alterar esta visão?
JTA
– Reforçando o compromisso de lutar pela elaboração dum programa de desenvolvimento estratégico para o concelho de Arganil. Os candidatos não são especialistas em tudo e as estratégias de futuro não podem continuar a ser tratadas isoladamente e de forma desconexa, tudo deve ser posto em equação. A análise das estratégias nucleares ao desenvolvimento deve ser cada vez mais científica. Por isso propomos a criação de uma equipa multidisciplinar que lhe dê corpo, de modo a serem adoptadas as melhores soluções, numa perspetiva de curto, médio e longo prazo, a serem prosseguidas 365 dias por ano e por qualquer gestão que venha a ser eleita e que as concretize. No contexto acentuado das alterações estruturais e sociais operadas nas últimas décadas na região e no concelho, exige-se um diagnóstico estratégico cuidado e abrangente, contemplando toda as questões de âmbito autárquico e, nomeadamente, centrado exclusivamente nas perspetivas de desenvolvimento de modo a refletirmos sobre os desafios e estratégias para o futuro, que garantam melhor qualidade de vida da população.
AC – Considera então que esse diagnóstico ainda não foi feito?
JTA –
Não é demais reforçar a necessidade de uma boa gestão dos meios autárquicos (financeiros, pessoal e equipamentos). Sem teorizar as questões de gestão de cada uma das áreas, importa referir que muito há para fazer em cada uma delas, diariamente censuradas até pela sensibilidade do cidadão comum. A principal preocupação do Município deve centrar-se na resolução atempada dos problemas do seu povo, quaisquer que sejam e na melhoria da sua qualidade de vida e no respeito e valorização do trabalho concelhio. A definição de uma estratégia para as acessibilidades internas e externas, constituirá um contributo importante para a valorização do trabalho, do sector comercial e empresarial, da floresta e actividades complementares, dos recursos naturais, paisagísticos e turísticos, do património público e privado e que são elementos fundamentais à coesão social e económica e ao reforço da identidade do território concelhio.
AC – Porque fala em acessibilidades, não acha que tem sido significativa a aposta na melhoria da rede viária no concelho?
JTA –
A actual estrutura viária regional colocou à disposição da população concelhia facilidades de deslocação, nomeadamente para os concelhos próximos, facilitando os fluxos migratórios em detrimento da mobilidade interna. Por essa razão a ligação entre Arganil e Coja deixou de responder às necessidades actuais, impondo-se, por isso, a criação de uma via rápida, indispensável ao desenvolvimento e animação económica e turística do concelho no seu todo. A beneficiação operada na actual via deixou-a mais estreita, insegura e perigosa. Mas acrescem ainda a importância quanto à conclusão do IC6 com ligação à Covilhã e Celorico da Beira; que é urgente dotar o aeródromo de Coja com as condições necessárias à sua utilização regular; a manutenção das estradas, arruamentos e caminhos existentes e bem assim a eliminação de barreiras arquitetónicas, condição essencial para o pleno exercício dos direitos das pessoas com deficiência.
AC – E no que se refere à defesa do ambiente?
JTA –
A defesa do ambiente – águas de abastecimento público, águas residuais, águas das praias fluviais, resíduos sólidos urbanos e o ruído, etc. – constitui uma questão a merecer profunda preocupação, nomeadamente nas situações de poluição ambiental – linhas de água, eliminação de lixeiras, criação de ecocentros para recolha de lixos-não -domésticos, etc.. E o combate à degradação ambiental do Vale do Alva, agravada, em parte pelo facto da mini-hídrica de Avô e de Rei de Moinho não respeitarem a obrigação de restabelecer o caudal ecológico do Rio Alva de Maio a Setembro, encerrando a laboração.
AC – Outros sectores tão importantes como a educação e o ensino não deixarão de ser também preocupações da sua candidatura?
JTA –
As competências que cabem ao Município no âmbito da construção, apetrechamento e manutenção dos estabelecimentos de educação pré-escolar e do ensino básico, abandono escolar, transportes escolares, gestão de refeitórios, comparticipação no apoio às famílias e crianças carenciadas, etc. deverão ser sempre uma preocupação a cuidar, bem como as questões da juventude deverão ser analisadas nas suas especificações concretas e sua interacção com a responsabilidade autárquica. Para além da mera rotina resultante das competências que actualmente cabem aos Municípios, a CDU propõe alguns temas à reflexão, como a Educação e a Escola; o Trabalho, o Emprego, a Profissão; Os Jovens e o Futuro; Uso do Tempo e Espaços de Lazer. Mas a educação física e o desporto fazem também parte da cultura dos povos e devem constituir preocupação dos responsáveis pela educação e juventude. A criação de hábitos sociais corretos facilitará ao jovem as melhores escolhas de futuro. Pelo que a criação de uma estrutura organizativa para a coordenação de projectos desportivos é fundamental à gestão dos espaços existentes e que permitam a diversificação das modalidades desportivas.
AC – E no que se refere aos sectores do turismo, património, cultura, tempos livres e desporto?
JTA –
A CDU reafirma que o concelho é detentor de um conjunto ímpar de valores naturais, que permitem a criação de itinerários de turismo de cultura em parceria com organizações nacionais e internacionais, que convidem o público a viajar pelo concelho para conhecer nos seus contextos originais os mais importantes sítios arqueológicos (Lomba do Canho, dólmen e o acampamento militar romano e Chãs de Égua) e naturais de grande beleza (Fraga da Pena, Mata da Margaraça, Mont’Alto, Vale do Alva, etc.), património edificado (Capela de S. Pedro e Póvoa da Rainha Santa, Quinta do Mosteiro, Piódão, Sanguinheda, Vila Cova de Alva, Teatro Alves Coelho, etc.), parques de campismo e outros espaços que deverão ser aproveitados e rentabilizados, aliados às tradições gastronómicas, à cultura, ao património e à história do concelho. Apesar de se conhecerem alguns trabalhos isolados sobre o património cultural concelhio importa valorizá-los e incentivar a novas investigações de modo a contribuírem para esclarecer algumas questões que há muito esperam respostas. Vivemos neste interior beirão onde em grande medida se forjou Portugal. O monumento megalítico e o acampamento romano na Lomba do Canho sugerem a existência de um local povoado em duas épocas distintas e não muito próximas. Impõe-se por isso continuar a ouvir o que os documentos arqueológicos têm para nos dizer acerca do perfil dos povos que nos precederam. Para não falar do período conturbado que levou ao desaparecimento do Império Romano do Ocidente e subsequente invasão islâmica, até à formação de Portugal.
AC – As marcas deixadas no concelho pela tragédia do incêndio de 2017 não foram esquecidas pela CDU?
JTA –
O concelho ainda não recuperou do trauma provocado pelos incêndios de 2017 e já são profundas as preocupações sobre a dimensão do risco actual. Tais preocupações são perfeitamente justas desde logo, face à ignorância sobre as eventuais alterações decorrentes dos incêndios, operadas na ocupação dos solos em área agrícola, florestal, improdutiva, inculta, social, aquática e bem assim as alterações verificadas no conjunto das espécies florestais e quanto à sua colonização por espécies daninhas. Se até àquela data a florestal constituía a segunda maior ocupação do solo e era considerável a sua importância económica, pesem embora as dificuldades que o sector estava a sofrer devido à desvalorização do preço da madeira, ao abandono florestal, à desertificação humana das áreas serranas, à destruição de povoamentos de pinheiro bravo, ao aumento de povoamentos de eucalipto, diminuição de áreas agrícolas com ocupação por espécies daninhas e matos, vimos defendendo que as medidas para a sua valorização têm de centrar-se nos rendimentos dos produtores; na defesa dos baldios e do seu uso e gestão pelos povos, com os apoios necessários; na importância que tem a efectivação do Cadastro Predial Simplificado por georreferência; na atribuição de mais meios públicos – humanos, técnicos, financeiros e materiais – às estruturas do Estado que intervêm na floresta; na valorização do peso do pinheiro bravo e de espécies autóctones, face ao eucalipto.
AC – Preocupações tanto maiores porquanto falta o tão falado ordenamento florestal?
JTA –
Em matéria de ordenamento florestal um dos objetivos essenciais visa o seu uso múltiplo, evitando também a perda da biodiversidade, mediante a aplicação de princípios de gestão das actividades silvícolas e das que produzem material lenhoso em harmonia com a conservação das zoocenoses (conjunto de todos os animais que vivem em determinado meio), beneficiando igualmente da presença de fauna bravia, controlo de pragas, rentabilidade económica da atividade cinegética e do ecoturismo. Em exemplos práticos a merecem estudos mais aprofundadas e a justificarem a definição de estratégias no âmbito das atividades complementares em que é possível tirar partido económico de condições naturais, que se verificam em vários locais, mediante a exploração, nomeadamente, de cerejeira (Cepos, Sobral Gordo, Soito da Ruiva, Serra da Aveleira, Nogueira, Cerdeira, Vinhó, etc.), apicultura, criação de ovinos e caprinos, havendo ainda boas condições para a produção de frutas de outras espécies em outros locais, que importa investigar e criar condições de comercialização.
AC – E que medidas preconiza no âmbito das actividades de prevenção e combate aos fogos florestais?
JTA –
No âmbito das actividades de prevenção e combate aos fogos florestais e para além das medidas já preconizadas, é necessária a execução de medidas que evitem a acumulação de combustível florestal, associadas ao aproveitamento de biomassa para fins energéticos e instalação de uma Central de Incineração, que envolva proprietários, empresas de limpeza florestal e autarquias. Ainda no que respeita à prevenção assume relevância o papel e a intervenção da Associação de Produtores Florestais cuja actividade deverá ser valorizada e dignificada e a criação de mais brigadas de Sapadores Florestais, que poderão garantir a limpeza de faixas de proteção na zona envolvente às povoações, a manutenção de aceiros e caminhos florestais para além de acções de colaboração no combate aos fogos nos períodos críticos. De referir ainda a importância da acção fiscalizadora dos guardas-florestais e a necessidade de valorizar a sua intervenção. O combate aos fogos florestais para além dos meios aéreos, tem sido assegurado pelos Corpos de Bombeiros de Arganil e Coja e bem assim as demais acções de segurança, proteção e socorro à população concelhia. É inquestionável a importância que assumem, neste contexto, as Associações Humanitárias de Arganil e Coja e a necessidade de se assegurarem os meios necessários ao seu cabal desempenho, bem sabendo que é às autarquias que cabe a responsabilidade pela avaliação e prevenção dos riscos e redução das suas consequências para a população.
AC – A promoção do desenvolvimento económico do concelho está também nas preocupações da CDU?
JTA –
É inquestionável que o sector industrial e o pequeno comércio vivem uma crise sem fim à vista. O sector empresarial e o pequeno comércio foram confrontados com a concorrência de unidades maiores e não dispunham de capacidade concorrencial. As dificuldades existentes no concelho não derivam apenas da crise financeira e imobiliária e dos efeitos da pandemia em curso, são também a expressão do confronto com novos processos produção material, influenciados pelo elevado nível de investigação e desenvolvimento tecnológico e com enormes impactos na vida das sociedades, com o encerramento e deslocalização de empresas, desemprego, trabalho precário e desregulado, baixos salários, obrigando os trabalhadores a procurarem trabalhos noutras paragens, a que se junta a inexistência de políticas sociais que minimizem de forma efectiva os seus efeitos. Políticas essas que deverão ser retomadas, nomeadamente ao nível das crianças, dos jovens e população sénior, pela promoção e valorização trabalho social. Outras das nossas preocupações é defender as micro pequenas e médias empresas e valorização do comércio tradicional e por isso mostra-se necessário estudar, urgentemente, as formas de apoio, que garantam a manutenção/sobrevivência das empresas existentes. E, complementarmente, participar em programas de incentivos à fixação de novas empresas; a promoção do desenvolvimento industrial diversificado e sustentado em estudos, que permitam melhor consciencializar e perspetivar as dinâmicas dos necessários investimentos; a participação na definição de políticas de turismo que digam respeito ao concelho e à região; promover e apoiar o desenvolvimento de actividades artesanais.
AC- E quais são as apostas da sua candidatura para a saúde e a qualidade de vida da população?
JTA –
Os efeitos da pandemia provocada pela SARS-COV-2, nos últimos dois anos, reforça de forma inegável as posições da CDU e das forças políticas que a compõem na defesa do Serviço Nacional de Saúde abrangente e universal e por isso também não poderemos deixar de exigir a contratação de maior número de profissionais da saúde de modo a diminuir a sobrecarga, eliminar as dificuldades de acompanhamento médico e assegurar o funcionamento das Extensões de Saúde, essencialmente com população idosa e mais afastadas de Arganil e de Coja. Os espaços verdes urbanos constituem uma componente indispensável na qualidade de vida urbana e assim sendo pretendemos que esses espaços assumam diversas formas e funções, que vão desde o espaço de lazer e de recreio ao enquadramento de infraestruturas e edifícios e que a qualidade de envolvimento ambiental esteja presente, desde logo, na concepção e no desenvolvimento urbanístico, sem esquecer a necessária definição de arruamentos enquadrados em planos de ordenamento e legalmente aprovados, previamente à construção de edifícios e que se mostra indispensável para garantir o crescimento urbano harmonioso, evitar a especulação imobiliária e que tenha lugar ao abrigo dos instrumentos de gestão territorial.
AC –E na acção social?
JTA –
É fundamental e por isso entendemos ser urgente o estabelecimento de parcerias em programas e projectos de ação social, designadamente de combate à pobreza e exclusão social e apoio ao funcionamento de Jardins-de-Infância, Lares e Centros de Dia para idosos e Centros para deficientes; a criação de Lojas Sociais com roupas, eletrodomésticos e móveis reciclados. Esperamos por isso e com esta abordagem sucinta sobre aquilo que entendemos que devem fazer parte das actividades da autarquia (e que devem preocupar todas as candidaturas interessadas na promoção do concelho) se constitua num contributo válido, porque para a CDU é claro que o futuro se constrói cuidando o presente numa perspetiva dialética e transversal de modo a abarcar todas as áreas de intervenção e valorizando as potencialidades coletivas do concelho de Arganil. Esse será o meu compromisso e empenho, será o compromisso e empenho de todos os nossos candidatos que integram a lista à Câmara Municipal e a lista da Assembleia Municipal que é liderada por Dora Sofia Lopes Lemos.