Nota da semana

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Nota da semana

Amigo de infância e meu companheiro dos bancos do Seminário, hoje bem posicionado na vida, felizmente, escreveu-me uma carta amiga onde expressa a sua angústia e perplexidade sobre o caso, suposto caso, de pedofilia num dos Seminários do nosso País. E pergunta-me este amigo o que é que eu penso do assunto. E vai mais longe: pede-me que escreva com o meu saber e prudência (este saber e prudência são considerandos seus), algo sobre o caso.

Gostei da sua carta e da maneira como vê a situação, mas confesso que não é fácil pegar neste assunto e escrever sobre ele, dado o melindre e o perigo de resvalar na análise. Vou, contudo, tentar dizer o que penso sobre a pedofilia, em geral, e no caso vertente, em particular.

A pedofilia é sempre um crime horrendo. Em muitos casos, fruto de uma patologia congénita. Na maioria, motivada e levada a cabo pela malvadez mórbida de quem, por motivos inconfessáveis, procura o lucro fácil à custa de seres indefesos ou facilmente influenciáveis por promessas de dinheiros e outras. Em qualquer das vertentes, repito, é crime abominável, asqueroso e, quando juridicamente comprovado, merecedor de castigo para quem o comete. Lamentavelmente verificamos que nem sempre a justiça é célere a julgar crimes desta natureza, daqui advindo graves prejuízos para as vítimas, a acrescentar àqueles que já sofreram com os abusos de que foram vítimas.

No caso presente, a que os órgãos de comunicação social já deram ampla divulgação, começo por dizer que todo e qualquer indiciado pela prática de um crime, seja ele quem for, é sempre inocente até prova em contrário. Dir-me-ão que, aqui, há fortes indícios da prática do crime uma vez que o presumível infractor está sob medidas de coacção, no caso, prisão domiciliária. É facto. Mas ninguém pode afirmar que está já condenado pela prática do crime de que vai acusado.

Não conheço a pessoa. Nem o seu percurso de vida. Sei, agora, pelas notícias divulgadas, a terra da sua naturalidade e as funções eclesiásticas que desempenhava. Nada mais sei. Ouço já as vozes que se levantam a condená-lo e as que se erguem estranhando o que se diz, afirmando mesmo que não acreditam que tudo tenha acontecido. Trata-se efectivamente de um sacerdote que, pelo facto de o ser, não deixa de ser homem, sujeito às fraquezas humanas e a cometer erros, mais ou menos criminosos, hediondos e ignominiosos como todo o ser humano. Mas não se parta daqui para atirar pedras à Igreja, neste caso a Católica, que o ordenou sacerdote e que ele servia numa instituição de formação – o Seminário. Por experiência própria afirmo peremptoriamente que nunca vi qualquer assomo de pedofilia no Seminário, quando o frequentei nem quando, depois de concluído o curso e ordenado, ali integrei a equipa formadora, como professor e prefeito de estudos. Também já lá vão uns anos. Eram outros tempos e a formação, talvez, mais apertada e moralizada, num contexto social muito diferente do de hoje.

De qualquer modo, haja bom senso, neste como noutros casos. E, sobretudo, que ninguém se adiante à justiça a julgar precipitadamente quem já está sob a alçada da mesma justiça.

A Igreja mantém-se, como seria de esperar, numa postura prudente e atenta. Contudo, o caso, este como outros do mesmo foro, devem merecer da sua parte uma profunda e séria reflexão que, talvez, leve a rever algumas posturas disciplinares, ainda hoje em vigor.

Assinatura Ramos Mendes