Fez há dias 36 anos que me inscrevi na Ordem dos Advogados Portugueses e iniciei esta bela e excitante profissão.
Decorrido todo este períodos de vivências intensas e apaixonantes, só sei que nada sei desta arte complexa de lidar com a vida e com as relações mais delicadas e sensíveis do Mundo do Direito.
Encontrei ao longo deste tempo muitos homens, muitas mulheres, muito jovens, desavindos, angustiados, revoltados, recalcados, ressentidos, embrenhados e amantizados com o mundo do conflito.
Milhares e milhares vieram ao meu encontro em busca de um refúgio, de um amparo, da intimidade, da afectividade e da solidariedade que a sociedade e o mundo lhes negava.
Outros procuraram-me para depositar problemas, libertar pesadelos e alimentar caprichos.
Uma plateia enorme de cidadãos manifestaram-me o seu desencanto pelas instituições, pela ineficácia do recurso à via judicial para reparar em tempo útil, os seus direitos violados. Vociferaram contra o sistema e a sua morosidade e muitas vezes me exigiram que fosse o pivot na luta contra as amarras do acesso à justiça.
A vida, com todas as tonalidades, virtualidades, pesadelos, sonhos, convergências, divergências, felicidades, infelicidades, qual filme com imagens multicolores permanentemente novas e a rodar, passou e continua a passar pelo meu escritório de advogado.
Nunca esqueci, nem esquecerei que sou um homem, um advogado cheio de fraquezas, limitações e deslizes. Mas sempre exigi e continuarei a exigir a mim próprio, muita responsabilidade, verticalidade, dignidade, lealdade, honestidade e competência.
Estabeleci durante este período, contactos com centenas de milhares de pessoas. Muitas delas sem equilíbrio nas suas próprias vidas, fazendo dos seus problemas um terramoto.
Adorei tratar com esse lado da vida, em que uma pequena dor, um desrespeito, um contratempo, uma ofensa, um erro, uma rejeição, uma violação, uma infracção ou um dano, pareciam constituir, para os lesados a maior traição do mundo.
Senti grandes desgostos e angústias. Mas não podia ser de outra forma, porque o advogado é parte integrante desses dramas e tem obrigatoriamente que escutar essas sensações estranhas e viver essas emoções paralisantes.
Ser-se ADVOGADO é estar no epicentro da vida, passar por tudo, lidar com as mais inesperadas e apaixonantes situações e apropriar-se delas como suas.
Mas o ADVOGADO verdadeiro, é aquele que se concentra nesta arte de viver envolvido, apaixonado e cúmplice com aqueles que nele confiam e desconfiam, de forma a sorrir ao invés de chorar.
PEDRO PEREIRA ALVES