EDITORIAL

António Lopes Machado

Ano Velho – Ano Novo

 — As perspectivas futuras não melhoram

 

Foi-se embora o 2012, que não nos deixou saudades. Mas o pior da situação é que não são boas as perspectivas para o próximo ano. O 2013 não nos alimenta esperanças de melhorias, e diz-se mesmo que será mais difícil do que o anterior.

Com o país entregue a estranhos, que nos emprestam dinheiro para podermos sobreviver, resta protestar contra tudo e contra todos, sem valer a pena identificar os culpados, tantos eles são. E quem empresta dinheiro põe as condições e exige juros de acordo com o crédito que o devedor merece.

Resta-nos trabalhar e produzir mais e protestar menos, fazendo menos greves. É verdade que isso não se coaduna com as nossas razões. E quando há razões aumenta o descontentamento e perde-se o respeito por tudo e por todos. Como está a acontecer.

O descontentamento é geral e estende-se por esse mundo fora, por onde parece que anda tudo doido. Há dias afirmava-se que ia acabar o mundo, segundo interpretação de um calendário Maia. Já um dia li em qualquer lado que as últimas palavras de Cristo na cruz foram proferidas em língua Maia.

Mas o mundo só acabou para alguns, enquanto outros continuam por aí a penar neste mundo de salve-se quem puder.

Apesar de tudo estar mau e de todos protestarmos, não falta quem queira o poder a qualquer preço. Ser importante. Mandar nos outros.

Mesmo que haja um Parlamento com muita gente eleita democraticamente e decida por maioria, há sempre quem exija depois que seja um homem só, o supremo magistrado da nação, que decida em contrário para satisfazer desejos e vontades de uma minoria que se julga iluminada, para quem Democracia é a sua vontade.

E nós, cá por casa, longe dos rugidos das grandes massas, como vamos? Naturalmente, descontentes também.

O Centro de Arganil está desertificado. A vida alargou-se para a periferia, para onde as pessoas foram morar, mas é necessário conservar os edifícios que constituem o Centro Histórico da Vila.

A reconstrução da antiga Fábrica da Cerâmica foi uma obra importante, mas não é tudo. É verdade de que a Gândara é hoje quase metade da vila, mas Arganil não é apenas uma vila. É um concelho com 18 freguesias.

Aliás, agora vão ser só 14. Perdemos 4 presidências, mas o território é o mesmo. Aí não perdemos nada. Já tínhamos perdido as escolas e não protestámos muito.

Mas as freguesias continuam desertificadas. Têm lá cada vez menos gente. E o que nós precisávamos é que residissem lá pessoas, fazendo uma vida digna. Todos nós clamamos por trabalho remunerado, um emprego, que lá não existe. Por alguma razão os empresários não se sentem motivados para investir.

As Juntas de Freguesia não dispõem de recursos nem rendimentos. Tem que ser o Poder Central, através do município, que as mantém. Mas o concelho é pobre e desenvolve-se pouco. As reformas são necessárias, embora por vezes possam ser inoportunas.

Mas já vimos o que seria hoje o concelho de Arganil se não tivesse havido alterações e reformas administrativas, e nos limites do actual município tivéssemos mais um concelho como sede em Coja, outro em Vila Cova, outro em Celavisa, outro em Pombeiro. A povoação das Relvas a pertencer a Fajão e a freguesia de Moura da Serra a Oliveira do Hospital? Como seria o concelho de Arganil? A vila seria a mesma, e o resto do concelho?

Agora querem-nos incluir numa Comunidade Intermunicipal de Coimbra ou do Baixo Mondego. Mas nós somos uma Comunidade da Beira Serra. Somos serranos do interior pobre do distrito, e por isso temos pago caro a nossa interioridade. Mas é aos nossos vizinhos que nos devemos unir. Góis, Pampilhosa da Serra, Tábua, Oliveira do Hospital, são os nossos companheiros da Beira Serra.

Passámos um século à espera do comboio prometido e agora até o que nos chegava mais perto, a Serpins, nos tiraram. Encheram o país de auto-estradas e não nos deram sequer uma estrada condigna, para o tradicional caminho de Arganil a Coimbra, que era por Góis e pela Lousã, ou Entroncamento de Poiares. A E.N. 342 foi mais uma promessa escandalosamente não cumprida.

Arganil está servida. Sai fora dos limites do concelho e apanha na Moita da Serra a via rápida que nos passa ao lado. E o resto do concelho?

Resta-nos protestar, mas isso não resolve a felicidade desejada para o próximo ano. Que ao menos tenhamos saúde e coragem para lutar contra as adversidades. E que a nossa COMARCA, já velhinha, conte mais um ano de vida e vá pelo menos agitando os assuntos.

O melhor ano possível para todos.

O DIRECTOR.