À Memória do Senhor Luís Costa (o Senhor S. João (como lhe chamou David Lopes Ramos) que tanto gostava de receber as minhas BOAS FESTAS em verso, com que nunca lhe faltei, mesmo que fossem, como estes, de pé quebrado.
Só uma breve introdução para recordar ao Leitor, que bem o sabe, que aproveito, para não romper com a tradição, o título de uma das peças teatrais de dramaturgo inglês William Shakespear, que não tenho em livro, mas vi representar. Isto porque escrevo em véspera de Reis versos mal-amanhados, mas sinceros, com que trago, como também é tradição, as BOAS-FESTAS a quem me vai lendo. O título desta cómica peça fica a calhar nestes tempos que se não fossem de tragédia seriam de gargalhar tal a má-fé de quem nos faz padecer tempos que outrora eram de Festa e hoje são de lágrimas. Tudo capeando uma comédia com que se recreia o rapazio que nos desgoverna.
Para dar as BOAS-FESTAS
Quando, Senhor, só tu nos restas.
Eu sei, é tarde,
(Como, a Manuel, dizia Anto
E em carta o escrevia)
Assim, como ele, peço desculpa
Embora não seja eu “quem teve a culpa”,
Mas este Portugal de assalto tomado
Com alarde
E sem espanto,
Perdida a soberania,
Por um Pero Coelho mais vilão
Que o que matou Inês.
E que sem dó nem coração,
Pôs na miséria o POVO português.
A troco, ele dizia,
De salvar o país.
No que mentia,
Pois país não há
Se o Povo não viver,
Claro está,
Em Paz e Liberdade,
Que não tem,
Neste sobreviver
Sem bem
Nem dignidade.
Nas leis com que avança
Há roubo e há usura
Antevendo um ano sem ventura
Onde não cabe a esperança.
Assim, desejar ANO BOM,
Como é da tradição,
Seria um sem razão
Sem tom nem som.
Eu sei que foi Natal
E havia Amor
A dar e repartir.
Pensando em Ti, Senhor,
Na vida humana
Que assumiste
Na bondade do vir
P’ra resgatar o destino fatal
E o Céu se nos abrir.
Mas, Cristo Salvador,
Não consigo fugir
Desta condição,
Triste e desumana
Da má-fé que emana
De tanta presunção.
Revolta-se-me o ser.
Face ao impudor
Da mentira grosseira
Com que se engana
Uma Nação inteira
Vendida a quem mais der
Como se fora em Feira.
Na certeza de que por nós Vieste
Resta-me, meu DEUS,
A Saudade da Mulher que perdi
A bênção de filhos e netos
Que me deste.
E, momentos meus,
A alegria dos bisnetos
À volta da Fogueira.
Sem esquecer
Os AMIGOS que fiz a vida inteira.
E o saber que sem TI
Seria bem mais triste este Viver.
BEM HAJAS, nesta NOITE DE REIS,
Por mais este NATAL
Certo de que só Vós podeis
Salvar tão Triste PORTUGAL.
Reis Torgal