De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, edição de 2008, a palavra terrorismo significa a “(1)prática de actos violentos (assassinatos, raptos colocação de bombas, etc) contra um governo, uma classe dominante ou pessoas desconhecidas, com o objectivo de fazer impor determinados objectivos, geralmente políticos;” ou então ”(2)sistema de governo que utiliza o terror e medidas violentas”.
Por seu turno, terrorista é definido no mesmo Dicionário como sendo “(1) relativo à prática do terrorismo; (2) que recorre à violência como meio de coacção para fazer impor determinados objectivos, geralmente políticos; (3) que espalha boatos alarmantes”.
Existem depois as designadas organizações terroristas, classificadas por Estados Democráticos ou aglomerados de Estados, surgindo nesta classificação entidades como a Al-Qaeda, as Brigadas dos Mártires Al-Aqsa, a ETA, o Hamas, etc.
Contudo, na Benfeita, concelho de Arganil, no passado dia 2 de Outubro de 2025, foi anunciada uma nova forma de definir o terrorismo e os terroristas, da autoria do Presidente da Assembleia Municipal, e recandidato ao mesmo cargo, neste caso o Dr. António Cardoso.
O mesmo responsável e representante da Assembleia Municipal, Dr. António Cardoso, perante algumas dezenas de pessoas, decidiu classificar a Santa Casa da Misericórdia de Arganil, e os seus representantes, como sendo uma entidade terrorista, liderada por terroristas!
E não foi um erro de gramática, ou uma simples troca de palavras, e muito menos um devaneio do momento, face à insistência no seu discurso do uso repetido desses epítetos para categorizar a secular Instituição e os membros dos seus Órgãos Sociais.
Além de que, entre os ouvintes, estavam presentes membros da dita Instituição, na qualidade de cidadãos convidados pessoalmente pelo Presidente da Junta de Freguesia da Benfeita e recandidato, assim como por outros “benfeitenses”, alguns deles candidatos nestas eleições autárquicas.
Ora, se já de si é revelador do carácter ofensivo e beligerante do referido recandidato à presidência da Assembleia Municipal, maior gravidade tem o uso dos termos de terrorismo e terroristas pela dita figura, quando o seu passado profissional impõe um claro e inequívoco conhecimento do que são organizações terroristas e o que é o terrorismo!
Na realidade, o atual Presidente da Assembleia Municipal de Arganil, e agora recandidato, Dr. António Cardoso, não pode esquecer que a Santa Casa da Misericórdia de Arganil acolhe, e acolheu, cuida, e cuidou, de inúmeros utentes nas suas mais diversas respostas sociais, muitos deles familiares de autarcas em exercício e candidatos a autarcas.
Certamente esqueceu e seguramente esquece, que a Câmara Municipal de Arganil contrata e contratou com a Santa Casa da Misericórdia de Arganil diversos serviços, eventos e imóveis, sabendo que por Lei essa entidade pública está impedida de o fazer, sob pena de ser cúmplice em atos de terrorismo e associar-se a atos perpetrados por terroristas (isto no entendimento do Dr. António Cardoso)!
Na realidade, o uso de tais palavras visaram apenas condicionar e pressionar os dirigentes da Instituição, quer na sua atividade associativa e quer na sua capacidade de ter pensamento próprio e de não se coibirem de o exprimirem sempre que o entendam, ou sempre que a entidade que representam e a sua história tenham de ser defendidas.
Certamente que o referido Presidente da Assembleia Municipal de Arganil e atual recandidato, desconhece que tais dirigentes realizaram juramento por via do qual assumiram um compromisso de honra de defender a Instituição contra todas as adversidades e que dentro desta não há lugar para posicionamento partidários, independentemente dos cidadãos que a constituem terem as suas opções pessoais.
Seguramente esquece, e esqueceu, que quem entenda candidatar-se a qualquer lugar de exercício político público, nomeadamente autárquico, e esteja no Órgãos Executivo da Misericórdia (Mesa Administrativa), suspende o seu mandato, conforme diz, pelo menos, o bom senso.
E que não cabe à Instituição impedir o exercício dos direitos e deveres de cidadania!
E ainda bem que assim é, caso contrário não teria o partido pelo qual concorre às presentes eleições obtido inúmeras vitórias no concelho através de elementos que no passado serviram esta Instituição e, seguramente nunca foram, ou são, terroristas.
Recorda-se, por exemplo, o Prof. José Dias Coimbra, o Dr. Armando Dinis Cosme, o Prof. António Carvalhais da Costa, atual Provedor, entre outros que tanto fizeram pelo Concelho de Arganil e pela Região, ainda antes do Dr. António Cardoso se imaginar a concorrer a Presidente da Assembleia Municipal pelo Partido que esses representaram.
O discurso do Dr. António Cardoso merecia resposta de imediato e no mesmo púlpito, mas o decoro, o alto sentido de responsabilidade dos cidadãos que integram os Órgãos Sociais da Misericórdia, o respeito pelo local (Santuário da Nossa Senhora das Necessidades), a amizade para com os “benfeitenses”, e o momento politico, foram motivos suficientes para manter o palco entregue à insensatez do referido candidato.
O que foi uma decisão bastante lúcida, pois no final do discurso versando sobre terrorismo pronunciado pelo Dr. António Cardoso, vários “benfeitenses”, e candidatos, estavam de tal maneira incomodados, pois não se revêm em tais palavras, que se dirigiram aos cidadãos presentes e que integram os corpos sociais da Misericórdia, desculpabilizando-se por tal atitude.
Mas não se ficou por aí o referido candidato, e talvez por entusiasmo verborreico, deu ainda continuidade à reclassificação do conceito de terrorismo, atribuindo esse termo também ao título A Comarca de Arganil, e tudo por causa da notícia exposta na edição desse mesmo dia (2 de Outubro de 2025).
O que desde logo se estranha, porque das duas uma, ou o Dr. António Cardoso não leu o artigo que suporta a manchete dessa edição, ou descuida que este estava assinado por jornalista credenciado, que assumiu a inteira responsabilidade do manuscrito, e nele abordou a falta de esclarecimentos às interpelações sobre a consignação da obra do novo Centro de Saúde de Arganil e SUB!
Sabe ainda, o Presidente da Assembleia Municipal de Arganil, e recandidato, que tal assunto foi abordado ao longo dos últimos meses, e sem que qualquer resposta aos jornalistas que interpelaram quem tinham que interpelar, tivessem, até ao momento, recebido os esclarecimentos exigíveis, e daí não resultou qualquer boato alarmante, mas apenas o pedido de esclarecimento. Alarmante terá sido, isso sim, a falta de respostas e esclarecimentos!
Mais uma vez, e aproveitando o espírito de campanha política, assim como o período em que esta decorre, o que pretendeu o Dr. António Cardoso foi silenciar quem pergunta o que se impõe e neste caso se foi, ou não, aprovada a adjudicação da empreitada, o Relatório Final, a ratificação do despacho do Sr. Presidente de Câmara Municipal de Arganil de 23 de Maio de 2025, todos relativos ao novo Centro de Saúde de Arganil e SUB, em sede da reunião pública do passado dia 3 de Junho? Tanto mais que essa mesma reunião foi gravada, foi publicitada e assistida pelo público.
E na realidade todos conhecem a verdade e esta lhes pesará na consciência, seja no presente e seja no futuro!
Será caso para perguntar: “porque repara no cisco no olho do seu irmão, mas não vê a trave que está no seu próprio olho?” (Mateus 7:3).
Em suma, lamenta-se que na ânsia para se ganhar uma eleição autárquica alguns candidatos queiram evitar responder a questões justas, transparentes e de interesse público, socorrendo-se dos termos de terrorismo e terroristas para criar uma narrativa, cujo resultado desejado é apenas o de desviar as atenções do que interessa.
“Mate-se” o mensageiro mas não se discuta a mensagem.
Termino, citando apenas Francisco Sá Carneiro, esse sim, muito provavelmente morto como resultado de um ato terrorista, “O que não posso, porque não tenho esse direito, é calar-me, seja sob que pretexto for”.