ENTREVISTA COM O NOVO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE MIRANDA DO CORVO: “Somos todos um. Juntos por Miranda vamos fazer mais e melhor”

“De hoje em diante, somos todos um. Juntos por Miranda vamos fazer mais e melhor”, foi o sentimento manifestado depois de conhecido o resultado eleitoral do passado dia 12 de Outubro e que “representa um marco histórico para o PSD de Miranda do Corvo” ao alcançar vitórias, com maiorias absolutas, em todos os órgãos autárquicos do concelho.

“Juntos por Miranda”, foi o tema da candidatura do PSD às Autárquicas 2025, liderada pelo mirandense José Miguel Ramos Ferreira, o novo presidente da Câmara Municipal que, na hora da vitória, referiu “assumimos esta vitória com os olhos no futuro e com a determinação de cumprir os compromissos assumidos perante os mirandenses, reafirmando o nosso pacto de servir com responsabilidade, transparência e proximidade” e, para isso, “contamos com todos para fazermos, juntos, um concelho mais forte, mais justo e mais próspero”.

E na entrevista que concedeu ao nosso jornal, o novo presidente da Câmara Municipal começou por “cumprimentar-vos pelo trabalho que fazem em prol da região, que é um trabalho essencial”, esperando por isso continuar a contar com A COMARCA porque “nós, em Miranda, estamos convictos de que temos que fazer uma mudança profunda naquilo que são as políticas públicas do nosso concelho”.

A COMARCA (AC) – Que mudanças?

JOSÉ MIGUEL RAMOS (JMR) – No fundo, a primeira alteração é mesmo uma alteração de filosofia e de visão daquilo que nós pretendemos implementar. Essa grande alteração tem que ver com passarmos a trabalhar com todos. E essa era a minha mensagem que eu gostava de deixar, portanto é a possibilidade de nós, nos próximos anos, no nosso concelho, passarmos a incluir toda a gente, não excluirmos ninguém, valorizarmos aqueles que mais fazem e valorizarmos aqueles que mais querem fazer em prol da nossa terra.

AC – E por isso o slogan escolhido?

JMR – Precisamente por causa disso. Miranda é um concelho que tem uma enorme potencialidade e o primeiro passo para poder aproveitar essa potencialidade é saber aproveitar todas as pessoas que fazem parte do concelho e quando eu digo todas as pessoas, são todas as pessoas, todas as organizações e, no fundo, todas as entidades. Juntos por Miranda que já vinha, aliás, da campanha anterior de Paulo Silva, é um slogan que representa isso mesmo, é a nossa vontade de construir uma Miranda a todas as cores, uma Miranda onde todos contam, independentemente daquilo que é a sua preferência partidária ou até, se quiser, independentemente do voto que tiveram nestas eleições.

AC – E não era isso que acontecia antes?

JMR – Eu acho que tudo aquilo que importava dizer às pessoas sobre o anterior mandato, nós dissemos durante a campanha eleitoral. Portanto, eu farei um esforço para me concentrar naquilo que importa agora, que é nós transformarmos o futuro da nossa terra. Aquilo que está para trás, está para trás. A campanha foi uma campanha bastante elucidativa dos problemas que o concelho enfrenta e daquilo que temos para resolver e, portanto, aquilo que eu diria e que estou absolutamente convencido é que tenho equipa, tenho projecto e também liderança para fazermos diferente nos próximos anos.

AC – E o que é que vão fazer diferente?

JMR – Ao longo dos últimos 12 anos, Miranda teve uma queda populacional muito grande. Nós perdemos entre 2011 e 2021, 1056 habitantes, praticamente 10% da nossa população e fomos completamente incapazes de criar condições para que se fixe aqui um investimento empresarial que possa fixar jovens e não jovens com bons empregos, mais bem remunerados e mais qualificados. E, portanto, aquilo que nós temos que fazer, e esse é que é o nosso grande projeto, é conseguirmos inverter estes dois factores. O concelho tem que ser um concelho em crescimento populacional em vez de ser um concelho em queda populacional e, por outro lado, temos que de uma vez por todas, ser capazes de criar condições para que se possam, no futuro, vir aqui fixar investimentos que possibilitem às pessoas ficarem no concelho com melhores salários.

AC – Mas como é que isso se inverte, como é que se constrói esse novo caminho que propuseram na campanha eleitoral?

JMR – Isso, obviamente, depende de vários fatores. No que diz respeito à questão da queda populacional o que é que nós priorizamos? Em primeiro lugar, precisamos, em Miranda do Corvo, de garantir que há oferta em termos de habitação, que tire partido da nossa enorme proximidade a Coimbra quer em termos geográficos, quer em termos de acessos. Temos uma autoestrada gratuita para Coimbra e temos um transporte colectivo público com transporte hora em hora, até menos do que hora em hora até ao centro da capital distrito e, em relação a outros concelhos vizinhos, temos aqui uma vantagem competitiva gigante de que temos de saber tirar partido, com habitação, como dizia, com mais limpeza do espaço público que falhou imenso e que é importantíssima para que as pessoas sintam vontade de viver no nosso concelho, com equipamentos desportivos com qualidade que hoje não temos, com a construção de parques urbanos modernos virados para as famílias e para as crianças e, lá está, com a criação de emprego qualificado. Esta vertente do emprego qualificado é um segundo vector, apesar de ser fundamental para as pessoas se fixarem, mas é um vetor que merece uma atenção específica e, portanto, o que é que nós temos que fazer nesta matéria? Em primeiro lugar, temos que conseguir criar espaços para as empresas se poderem instalar. Hoje, no concelho, não há lotes disponíveis, não há terrenos disponíveis para que investidores possam investir e, portanto, o primeiro trabalho da Câmara Municipal será garantir a existência de terrenos onde possam surgir investimentos e, naturalmente, além dos terrenos, criarmos espaços industriais, zonas industriais para esse efeito o mais rapidamente possível. Além de precisarmos de terrenos para que as pessoas possam investir, nós também temos que alterar a mentalidade dentro da Câmara Municipal, precisamos ter uma mentalidade aberta ao investimento, que saia do seu conforto e vá procurar investidores e que, dentro da legalidade, facilite ao máximo aquilo que são os processos de investimento. A Câmara Municipal tem que ser o motor do desenvolvimento do concelho, portanto tem que ser o coração, tem que ser a organização que motiva e mobiliza toda a comunidade para aquilo que são os nossos objectivos comuns. O que é que se espera de uma Câmara Municipal? Que tenha a visão correta para o desenvolvimento do seu Município e que defina quais são as prioridades e que essas prioridades sejam capazes de trazer prosperidade às pessoas que cá vivem e ao território e que seja capaz de motivar toda a comunidade para alcançar esses objectivos.

AC – Objectivos que não deixam de passar, necessariamente e de entre outros, por áreas tão importantes como a educação, porque sem boa educação não pode haver desenvolvimento?

JMR – O concelho de Miranda tem tido fantásticos resultados em termos de educação nos últimos dois anos. Eu queria daqui até aproveitar para cumprimentar o nosso Agrupamento de Escolas, a sua direcção, toda a comunidade escolar, a Associação de Pais, os alunos, os professores porque, de facto, têm sido resultados muito acima da média. Eu gostava de recordar que, no ano passado, a melhor escola pública do distrito foi a Escola de Miranda do Corvo e isto acontece contra todos os prognósticos, Miranda é o quarto concelho do distrito com menor poder de compra e o normal e o natural seria que a escola pública não tivesse assim tão bons resultados. Todos sabemos a importância que a estrutura familiar tem para esse tipo de resultados, mas o que é certo é que se conseguiu com muito esforço e com muito trabalho e aquilo que nós pretendemos, é continuar a fazer bem em termos de educação, apoiando essa comunidade escolar, incentivando-a e estimulando-a a ter bons resultados. Estando atentos aos desafios, e existem desafios, nomeadamente na Escola do Senhor da Serra que carece de alguma requalificação em pisos e iluminação, uma necessidade que nós vamos estar muito atentos e a que vamos dar resposta, também a várias outras escolas no concelho que precisam de algumas requalificações, de aumentar a área coberta, uma vez que se, como esperamos, conseguirmos aumentar a população do concelho teremos que fazer com que os nossos espaços escolares acompanhem este crescimento e que, no fundo, hajam aqui boas condições para que as crianças de Miranda possam ambicionar ter um futuro melhor.

AC – E como é que está a saúde no concelho?

JMR Neste momento, no concelho temos a sorte de termos o Centro de Saúde em Miranda do Corvo que está a ser alvo de obras de requalificação, a Extensão de Semide que já foi requalificada e temos o Hospital Compaixão que, finalmente, está a conseguir abrir todas as suas valências e oferecer um serviço importantíssimo à população. Todos sabemos a história desse investimento e como, de certa forma, foi uma história negativa, mas hoje abriu-se aqui uma porta de esperança para a população de Miranda do Corvo e dos concelhos à volta. O que é que precisamos de fazer nos próximos anos? Garantir junto da Administração Central mais serviços, mais especialidades e uma resposta em termos de horário mais alargada à população do concelho e é isso que faremos e é por isso que lutaremos nos próximos anos.

AC – Mas há outras necessidades?

JMR – Temos ainda várias necessidades e tal como eu disse há pouco, em primeiro lugar mais habitação, temos que requalificar o nosso Parque Desportivo, no fundo a requalificação dos nossos equipamentos desportivos é uma prioridade absoluta, precisamos de construir parques urbanos destinados às famílias, precisamos de acabar com um centralismo que tem vindo a existir e que não é de todo positivo e que leva, no fundo, a uma desertificação ainda mais acelerada das nossas aldeias onde ainda faltam infraestruturas básicas como pavimentações, rede de águas e saneamento. Temos que ter muita atenção àquilo que se passa nas nossas freguesias e nas nossas aldeias, onde há necessidades gigantes, Miranda é um dos concelhos do país com menos cobertura em termos de saneamento, houve um atraso muito grande em termos de obras e infraestruturas de águas e saneamento e que nós temos que recuperar.

AC – Em ternos de associativismo, qual é a realidade no concelho?

JMR – Temos um projeto muito claro para a dinâmica do associativismo, nós acreditamos muito na importância do associativismo. Temos várias associações no concelho e acreditamos muito no seu papel, porque é através das associações, nomeadamente as associações dos lugares, que nós integramos novos moradores, preservamos tradições, preservamos culturas e isto é feito através do lado voluntarioso das pessoas, que abdicam do tempo com as suas famílias, do tempo na sua vida privada, para trabalhar em prol da comunidade e, nesse aspecto, queremos com medidas até inovadoras incentivar mais esse tipo de dinâmica associativa, apoiar e reforçar os apoios a essas associações.

AC – Associações cujo futuro passa pela renovação, pela juventude, pela participação dos jovens?

JMR – A Câmara está atenta a essa realidade, também às necessidades dos jovens e é necessário fixá-los, dar-lhe condições e quando falamos em mais habitação, em requalificar o parque desportivo, em atrair empresas estamos sempre a pensar nos jovens e a pensar na sua fixação no território. Mas dou-lhe, por exemplo, um caso concreto, nós hoje, em Miranda, não temos nenhum Espaço Cowork. Temos cada vez mais jovens a trabalhar remotamente e não temos nenhum espaço para que os jovens o possam fazer sem ser em casa e, ainda por cima, num concelho que tem bastantes limitações no acesso à fibra óptica e, portanto, uma das nossas primeiras medidas será, já no ano de 2026, criarmos no concelho um espaço totalmente dedicado ao trabalho remoto e que é uma medida que diz respeito a todas as faixas etárias, mas muito em concreto à população mais jovem.

AC – Uma população que não pode deixar de ter também acesso a mais cultura?

JMR – Em termos de cultura, a dinâmica das Associações, como falávamos há pouco, é uma dinâmica muito importante, bem como a dinâmica das nossas organizações. Temos um Grupo Filarmónico bastante interessante e que queremos continuar a apoiar, no fundo aquilo que é mais importante é termos uma visão de que precisamos de um concelho com uma visão cultural forte, que tenha um projecto e um programa cultural para todo o ano, com dinâmicas interessantes e que cheguem a todas as freguesias. Eu diria que aí será, porventura, a maior alteração que teremos em termos de política cultural que chegue a mais pessoas e a mais território. Infelizmente, nos últimos anos não tem sido sempre assim e, portanto, é uma mudança que queremos protagonizar.

AC – Continuando a apostar em eventos como a Expo Miranda, Semana da Chanfana, Marchas, Carnaval…

JMR Sim, naturalmente, vamos continuar a apostar nos eventos que temos e até tentar melhorá-los. Falamos da Expo Miranda, falamos da Semana da Chanfana que nos últimos anos tem vindo a perder bastante dinâmica e que nós queremos dar-lhe um novo impulso, falamos das Noites de Verão, falamos das Marchas, do Carnaval, do BTT, numa palavra falamos daquilo que, no seu todo, mobiliza a sociedade e a comunidade em Miranda do Corvo.

AC – Mas para isso não deixa de ser necessário uma grande motivação de uma grande equipa da Câmara Municipal?

JMR – Necessariamente e como já disse e referi, temos que ter as prioridades bem definidas e no que se refere aos próprios serviços municipais é uma realidade que vou conhecer agora, quando entrar na Câmara Municipal e a primeira iniciativa que terei será precisamente reunir individualmente com todos os colaboradores do Município numa lógica de os ouvir e depois de os envolver e de os motivar e só após de fazer essa avaliação é que poderei perceber quais são as alterações em concreto que podemos implementar na Câmara Municipal, porque precisamos de ter uma Câmara o menos burocrática possível, com processos simplificados, amiga do investidor e amiga do munícipe. Precisamos de ter uma Câmara o mais moderna possível de forma a conseguirmos precisamente facilitar aquilo que são os nossos trâmites processuais internos e precisamos de procurar gastar menos para entregar um melhor resultado. Portanto, o que nós procuraremos é aumentar ao máximo a eficiência dos nossos serviços, de maneira a conseguirmos reduzir um pouco na despesa e libertar dinheiro para investimentos que achamos que são fundamentais.

AC – Mas para isso conta também com a oposição?

JMR – Naturalmente, nós felizmente tivemos maioria em todos os órgãos autárquicos, portanto temos maioria em todas as Juntas de Freguesia, Assembleia Municipal e Câmara Municipal, foi um repto que eu fiz à população e tenho uma enorme satisfação, mas também responsabilidade por ter sido dada essa possibilidade, mas termos maioria não nos impedirá, em momento algum, de tentarmos desenvolver, motivar e contar com aqueles que são os elementos da oposição. É uma Miranda que conta com todos, conta com todas as pessoas que foram nas listas, conta com todas as pessoas que de forma completamente abnegada aceitaram dar a cara pela candidatura em lugares meramente figurativos, como a nossa comissão de honra, o nosso conselho estratégico, os nossos mandatários, conta com todas as pessoas da comunidade, as que votaram em nós e as que não votaram em nós e nós faremos por trabalhar com todos e se há alguma dúvida sobre isso ela deve deixar de existir porque a Câmara Municipal estará aberta a toda a gente.

AC – Este primeiro mandato será para arrumar a casa…

JMR – Sim, mas temos que ser ambiciosos. Apresentámos um programa eleitoral para oito anos, a nossa mensagem foi clara, Roma e Pavia não se fizeram num dia, não é possível resolver tudo de uma vez só nem num ano só, nem sequer num mandato só. Temos uma visão muito clara para aquilo que pretendemos fazer nos próximos oito anos e é isso que aplicaremos. Mas ficarei triste se, ao final de quatro anos, só ter conseguido colocar a casa na ordem. Portanto, aquilo que é o nosso objectivo enquanto equipa é mais ambicioso do que isso, temos que colocar a casa na ordem e começar a dar resposta àqueles que são os problemas, de entre outros, que originam a tal perca de população e a falta de investimento no concelho.

AC – Um concelho que tem também grandes potencialidades turísticas?

JMR Temos que saber valorizar tudo aquilo que temos. Estamos aqui na Loja do Senhor Falcão a fazer esta entrevista, um óptimo espaço dentro do nosso concelho, um espaço histórico onde a mercearia de outrora deu lugar a um espaço expositivo onde hoje se fazem tertúlias, eventos culturais e que é uma referência no concelho de Miranda do Corvo. Mas temos também desde a chanfana ao Gondramaz, desde o Parque Biológico da Serra da Lousã até aos trilhos pedestres, do Santuário do Senhor da Serra ao Mosteiro de Semide, ao Calvário, ao Templo Ecuménico e aquilo que tem feito falta nos últimos anos é não sermos capazes de promover o concelho como um todo, olhando para aquilo que pode atrair mais gente e também olhando para aquilo que pode depois aqui fixar pessoas durante mais algum tempo, bons restaurantes, bons projectos como este projecto onde nos encontramos para, no fundo, fazemos a diferença com aquilo que temos.

AC – Com tudo isto considera, portanto, que Miranda é um concelho com futuro. E qual é a mensagem que deixar aos mirandenses?

JMR Uma mensagem de esperança porque nós somos, de facto, um concelho com futuro. Em lado nenhum está escrito, não há nenhum testamento, não há no fundo nenhuma ordem divina que diga que o concelho de Miranda tem que ser um concelho com perca populacional, com baixo poder de compra, com fraca capacidade industrial e, portanto, aquilo que nós temos que fazer é todos juntos arregaçarmos as mangas e apontarmos para um objectivo que é transformarmos o nosso concelho no melhor concelho do Distrito. Porque tem todas as condições para isto, do ponto de vista turístico tem uma oferta impar na região, tem bons acessos, somos o concelho que está mais perto de Coimbra e, como dizemos, dentro de alguns anos pretende ser o melhor concelho do Distrito para viver. É um objetivo a médio prazo, mas é um objectivo bastante claro que temos. Temos tudo para isso. Trabalhando em conjunto, mobilizando a região e, no fundo, partindo deste princípio de que a Região de Coimbra deve caminhar para ser uma Área Metropolitana, deve caminhar para combater aquilo que é o centralismo que hoje temos em Portugal.