
Várias iniciativas, de norte a sul do país, assinalaram na última sexta-feira, os 30 anos da morte de Adolfo Correia da Rocha, conhecido pelo pseudónimo Miguel Torga, e, em Arganil, o Município inaugurou uma exposição evocativa – Orfeu Rebelde -, onde é recordada a sua passagem pelo concelho.
Ainda que com pouca presença, a vice-presidente da Câmara Municipal inaugurou na Biblioteca Municipal Miguel Torga – uma réplica da exposição inaugural da Biblioteca – a que foram adicionados novos elementos históricos da passagem do médico/escritor por Arganil.
«Não podíamos deixar passar em branco esta data, e entendemos que, dada toda a história que é associada a Miguel Torga – em que ele tão bem retractou o concelho de Arganil, na sua obra e porque temos a nossa Biblioteca com o seu nome – em homenagem a este grande escritor, a este poeta, a este médico, não podíamos deixar de assinalar os 30 anos da sua morte», sublinhou.
De acordo com Paula Dinis (…) «é sempre oportuno rever e completar (a obra), e por isso mesmo, conseguimos aqui juntar mais um ou outro documento – que não tínhamos ainda na nossa posse – mas é com muito gosto que temos oportunidade de revisitar Miguel Torga».
Nascido em São Martinho de Anta, Sabrosa (Vila Real), 12 de Agosto de 1907 Adolfo Correia da Rocha veio a falecer em Santo António dos Olivais, Coimbra, 17 de Janeiro de 1995, e foi um dos mais extraordinários poetas e escritores portugueses do século XX – poeta, contista e memorialista, mas escreveu também romances, peças de teatro e ensaios, tendo a sua obra sido traduzida para espanhol, francês, inglês, alemão, chinês, japonês, croata, romeno, norueguês, sueco, holandês, búlgaro.
Foi laureado com o Prémio Camões de 1989, o mais importante da língua portuguesa.
No decorrer da inauguração, os jovens Henrique Coimbra, Inês Araújo e Rui Cruz (engenheiro) e Lino Borges Lopes leram textos alusivos à obra de Miguel Torga.
“O Itinerário Torguiano”
Em decorações à A COMARCA, a vice-presidente da Câmara Municipal de Arganil deu a conhecer a intenção do Município em criar um “roteiro” evocativo à passagem de Miguel Torga por diversas localidades do concelho e que foram materializadas na sua obra.
De acordo com Paula Dinis (…) «temos em mente (hoje – sexta-feira – será o ponto de partida) fazer um roteiro “Torguiano” no concelho, porque Torga escreveu em diferentes locais que o inspiraram a escrever poemas lindíssimos alusivos ao nosso concelho, à nossa serra, ao nosso rio… por isso entendemos que é bom relembrar e assinalar esses mesmos locais com estas memórias de Miguel Torga».
A ideia, segundo a autarca, será possibilitar aos visitantes experienciar as vivencias do escritor, nomeadamente nas suas passagens pelas freguesias de Piódão, dos Cepos ou em Coja, e que, de algum modo (…) «consigamos assinalar locais que possam ser inspiradores e onde as pessoas possam ter acesso a esses poemas».
Para já, tudo ainda está em fase embrionária, mas Paula Dinis admite a utilização das tecnologias, salvaguardando a visita “in loco”. «A ideia é fazermos mesmo um percurso para quem queira visitar o nosso concelho através de Torga», explicou.
A Exposição “Orfeu Rebelde”
Relativamente à exposição – basicamente a mesma da inauguração da Biblioteca -, é constituída por um total de 18 cartazes, e está dividida em quatro partes: “Idade de Ouro”, que retracta os primeiros 13 anos da vida de Miguel Torga; “Idade da Prata”, continua a dar conta da infância em São Martinho da Anta e foca também o período em que esteve no Brasil; “Idade do Bronze” que dá a conhecer a carreira enquanto médico e, em paralelo, a sua vida enquanto escritor; “Idade do Ferro” aprofunda (mais) a obra do autor, sem esquecer a sua passagem pelo concelho de Arganil – teve consultório no Hospital da Misericórdia – onde granjeou grandes amizades, nomeadamente com Fernando Valle.
Como elemento novo, está exposta uma carta e uma receita – pertença de Mário Vale -filho do médico Fernando Valle – (…) «que retracta a ligação que perdurou aos longos dos anos», explicou Mirella de Vocht, coordenadora das Bibliotecas Públicas do concelho, que, recorda, trata-se do patrono da Biblioteca Municipal de Arganil, que deixou uma vasta obra, na qual, como em nenhuma outra obra (…) «é dada visibilidade às belezas do nosso concelho».