ARGANIL: Brilhante “Conversa sobre Nós Provincianos”

O dr. José Augusto Coimbra agradece a todos os participantes na “Conversa sobre Nós Provincianos”

No sábado, no multiusos da Cerâmica Arganilense, realizou-se a “Conversa sobre Nós Provincianos”, que teve como palestrantes Maria José Santos (historiadora e professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), Isabel Azevedo (artista multimédia e professora de artes plásticas e desenho) e Bernardo Chatillhon (criador e actor) e que encerrou, de forma brilhante, a exposição colectiva “Nós Provincianos – o Padre, o Professor e o Médico” que, desde 9 de Setembro, esteve patente na Cerâmica Arganilense e no Átrio de Exposições Guilherme Filipe e que reuniu obras de monsenhor Nunes Pereira (padre), António Ventura (professor), ambos já falecidos, e de José Augusto Coimbra (médico).

“Uma verdadeira tarde de celebração da arte e da cultura no nosso concelho”, como considerou a vice-presidente da Câmara Municipal, Paula Dinis, esta “Conversa sobre Nós Provincianos”, moderada pelo advogado Pedro Pereira Alves, que depois da apresentação dos palestrantes, salientou que “a exposição que encerramos constitui um templo de arte intemporal capaz de transformar percalços em triunfos” e que “a arte, em toda a sua dimensão, está presente em todo o mundo e interfere, de forma bem directa, com a vida das pessoas, tendo um papel muito relevante na sua formação”.

Foi esse papel que, nas suas várias dimensões, foi destacado por cada um dos palestrantes, como o foi pelo poeta e declamador João Bilha, pela vice-presidente da Câmara Municipal, Paula Dinis, “é um orgulho esta exposição brilhante, com artistas brilhantes, com convidados brilhantes para falar desta exposição” e que, como considerou também o dr. Pedro Pereira Alves, “encerrou de forma brilhante”.

“O artista não é, e nunca foi, um homem isolado que vive no alto duma torre de marfim. O artista, mesmo aquele que mais se coloca à margem da convivência, influenciará necessariamente, através da sua obra, a vida e o destino dos outros. (…) Mesmo que ele fale somente de pedras ou de brisas a obra do artista sempre dizer-nos isto: que não somos apenas animais acossados na luta pela sobrevivência, mas que somos, por direito natural, herdeiros da liberdade e da dignidade do ser”, considerou o moderador da “Conversa sobre Nós Provincianos”.

 “As pessoas quando estão envolvidas com as artes desenvolvem melhor as suas capacidades e competências sociais, artísticas e culturais, mas também aperfeiçoam a sua sensibilidade de estética, os seus sentimentos, os seus valores, princípios, a criatividade e a inovação”, referiu ainda Pedro Pereira Alves, salientando que “é esta componente pedagógica que devia levar os responsáveis políticos a apoiar, e até a fomentar, a arte na educação” e que “esta acção pedagógica e formativa enriquece os sentimentos, o sentido crítico, a capacidade interpretativa, a avaliação e a elevação das capacidades criativas e analíticas das crianças e jovens e, até, dos adultos”.

O médico José Augusto Coimbra, referindo-se ao tema da exposição, lembrou que “dizia-se que, na província, não acontece nada, nada tem importância, tudo entra na impunidade do tempo”, contudo, “hoje, na província, acontecer é real, é inscrever, hoje temos afirmação, decisão e acção”, para além de que “os grandes problemas nacionais passam-se na província, a gestão energética, a floresta, a gestão da água, etc.”, considerando que “hoje ser provinciano é assumir, é existir. O mundo mudou, vivemos num mundo global, somos província, feita por provincianos e é um privilégio ser provinciano”, contudo “provincianismo é outra coisa, é pertencer a uma civilização sem fazer parte dela. Considero o provincianismo uma doença da personalidade, uma doença crónica e endémica”.

 “Tudo tem um princípio e um fim. Estamos aqui, hoje, a celebrar o encerramento desta exposição”, disse depois José Augusto Coimbra, e fazendo “um balanço deste evento, (…) sinto amor, ternura, solidariedade, confiança. (…) Amigos ganham-se e perdem-se, aqui ganhei amigos. Agora, sereno e alegre agradeço a todos. (…) Sinto-me dividido entre a alegria que transmito e algum vazio e alguma estranheza. Há uma realidade mal definida a que se acordou chamar espaço público, espaço de expressão, troca de ideia livres, aberto para fora, essencial para a amigos ganham-se e perdem-se, aqui ganhei amigos, liberdade e criação. (…) Sinto que não entrámos no verdadeiro espaço público que é o nosso grande objectivo quando fazemos uma exposição, quando se expõe uma obra. (…) As pessoas vão às exposições, colóquios, gostaram, não gostaram e voltam para casa, para as suas preocupações diárias. A crítica aqui não existiu” e “assim, a arte é privada, não entra na vida das pessoas, não transforma as existências individuais”, terminando por considerar que “valeu a pena” fazer esta exposição, uma vez que “ficamos a saber quais os nossos limites, até onde somos capazes de ir, o que nos falta” e que “a grande felicidade do artista é saber que a sua obra deixa de ser sua pelo imenso poder do devir-outra”.

A vice-presidente da Câmara Municipal, depois de referir que “não estamos na periferia, mas a arte está aqui”, considerou que nesta exposição esteve expressa “a paixão, o gosto pela arte que as pessoas têm e que se traduz no traço que fica para a vida”, informou que “iremos ter um catálogo, que não foi possível ter hoje, mas queremos acreditar que ainda vamos ter antes do Natal desta exposição, em que estarão inseridas estas obras e algumas outras” e que “será um trabalho físico que ficará em memória para todos vós”, terminando por dizer que “caso queiram adquiri-lo, podem contactar a Câmara Municipal”.