
Na última reunião de Câmara, foi aprovado o projecto de execução da empreitada de reabilitação e requalificação do Teatro Alves Coelho, permitindo ao Município de Arganil apresentar uma candidatura ao Programa Operacional Regional CENTRO 2030, no âmbito da Valorização do Património Cultural, para financiamento do valor global da intervenção cujo investimento é de cerca de 6 milhões de euros.
A decisão sobre esta candidatura deverá ser conhecida no prazo de 60 dias, sendo expectativa do Município que seja aprovada, possibilitando iniciar a obra e como deu a conhecer o arquiteto responsável pelo projecto, João Mendes Ribeiro, a intervenção “visa, de forma integral, a reabilitação e requalificação arquitetónica do edifício, garantindo a preservação das suas características distintivas e a adaptação às exigências técnicas e legais actuais, por forma a restituí-lo à função para a qual foi construído há precisamente 70 anos”.
Ainda segundo João Mendes Ribeiro, entre os principais trabalhos previstos destaca-se a reabilitação do edifício principal, “salvaguardando a sua estabilidade estrutural e preservando a caracterização formal e os elementos arquitetónicos e ornamentais que o distinguem”, estando ainda consideradas a integração e actualização das novas infraestruturas e instalações técnicas indispensáveis ao funcionamento do Teatro (climatização, tratamento de ar, rede eléctrica e telecomunicações, sistemas de segurança contra incêndios, condicionamento térmico e acústico, acessibilidades, abastecimento de água, saneamento de águas residuais e mecânica de cena).
O projecto contempla também a ampliação do conjunto edificado, através da construção de um novo edifício destinado ao programa funcional complementar (sala de ensaios, camarins, balneários, instalações sanitárias e áreas técnicas), que ficará encaixado na encosta a poente e ligado ao edifício principal por um novo corpo de circulações verticais, com escada e elevador. A área exterior será igualmente alvo de intervenção de arquitetura paisagista, incidindo sobre a esplanada da cafetaria existente e o talude envolvente dos lados sul e poente, reforçando a integração do Teatro no espaço urbano.
Após esta intervenção, o Teatro Alves Coelho ficará dotado de 308 lugares, distribuídos pela sala de espectáculos e pelo balcão, dos quais dez serão amovíveis para assegurar lugares destinados a utilizadores com mobilidade condicionada.
O presidente da Câmara Municipal, Luís Paulo Costa, considerou que “este foi um passo essencial para avançar com a candidatura a fundos comunitários, candidatura essa que será determinante para viabilizar a intervenção e tornar possível a concretização de um projecto que pretende devolver aos arganilenses um equipamento histórico, parte integrante da memória de Arganil e que se deseja venha a desempenhar um papel central na vida cultural do concelho”, sublinhando ainda que este “é um dos mais emblemáticos equipamentos da vida arganilenses (encerrado há mais de 20 anos), que se afirma como um marco do património cultural e identitário do concelho e que está classificado como Monumento de Interesse Municipal”.
Inaugurado em 9 de Maio de 1954, o Teatro Alves Coelho foi construído através de subscrição pública por uma empresa foi criada para este fim, tendo sido a obra financiada através da compra de acções por arganilenses residentes das então colónias ultramarinas que, anos depois, destituídas de valor com o declínio e o encerramento das actividades, foram sendo progressivamente doadas ou legadas à Santa Casa da Misericórdia de Arganil, que se tornou assim proprietária legal das suas instalações. Foi o primeiro dos edifícios construídos na avenida construída sobre a ribeira dos Amandos, era um local central na vida cultural da comunidade, onde se realizavam diversos espectáculos e encontros sociais e apesar de ter fechado, deixou uma marca significativa na memória coletiva da região.
Destacando-se como um símbolo importante do patrimônio cultural de Arganil, o Teatro Alves Coelho constituiu-se como um dos mais emblemáticos exemplos da arquitetura de espectáculo do século XX em Portugal, integrando o movimento dos Cine-Teatros e assumindo particular relevância enquanto expressão do estilo moderno, destacando-se pela volumetria imponente, fachada avermelhada singular e painéis escultóricos de Aureliano Lima alusivos às artes do espectáculo, enquanto no seu interior e testemunhos de um legado cultural e artístico que importa preservar, sobressaem as telas de Guilherme Filipe e as palavras (que dizem bem da importância e valor da obra) de Miguel Torga, “Erguido por teimosos e cabeçudos beirões, da mesma maneira que antigamente se construíam as catedrais, trazendo cada um a sua pedra”.