ARGANIL: DECRETADOS TRÊS DIAS DE LUTO MUNICIPAL – Faleceu o professor José Dias Coimbra

Faleceu na tarde do passado domingo, o professor José Dias Coimbra, actual presidente da assembleia geral da Santa Casa da Misericórdia de Arganil e de foi provedor ao longo de 40 anos. Foi antigo presidente da Câmara Municipal, um dos obreiros na criação da Fundação “Memória da Beira Serra – A Comarca de Arganil” que permitiu a reedição do semanário A COMARCA DE ARGANIL, um grande arganilense por adopção, que deixou obra, pelo que “em sinal de reverência e prestando sentida homenagem a José Dias Coimbra, a Câmara Municipal, por decisão do seu presidente, Luís Paulo Costa, decreta três dias de luto municipal, a respeitar entre 22 e 24 de Janeiro, com a colocação da Bandeira Municipal a meia haste no edifício dos Paços do Concelho”.

 “O seu desaparecimento representa uma inestimável perda para Arganil e para os arganilenses, deixando um notável legado de dedicação ao serviço público. Convicto regionalista e com reconhecidas capacidades de organização e liderança, dedicou a sua vida à participação política e ao desenvolvimento de Arganil e da região”, refere ainda o despacho de luto municipal, recordando que “José Dias Coimbra esteve à frente dos destinos do Município em períodos marcantes antes e após o 25 de Abril: entre 1968 a 1974 e, mais tarde, entre 1979 a 1990, e entre 1990 e 1994 foi vereador da Câmara Municipal” e, “de entre os inúmeros actos que beneficiaram o concelho de Arganil, destacam-se a abertura da Avenida das Forças Armadas, inicialmente denominada Avenida Rui Sanches; o nascimento da FICABEIRA; a passagem do Rally TAP pelo concelho; a preservação da Aldeia Histórica do Piódão e a classificação da Mata da Margaraça”.

As importantes realizações à frente da Misericórdia

Na Santa Casa da Misericórdia de Arganil, o professor José Dias Coimbra serviu como provedor ao longo de 40 anos (1982-2022) e entre as importantes realizações à frente da instituição, “destaque para a reabilitação do Hospital de Beneficência Condessa das Canas; para o Lar Comendador Cruz Pereira, Centro de Dia; para o Serviço de Apoio Domiciliário; para o Centro de Actividades e Tempos Livres e todas as estruturas de apoio mais tarde complementados com o Hospital Dr. Fernando Valle, onde estão integrados os Cuidados Continuados Integrados”, como salienta ainda o despacho do presidente da Câmara Municipal.

Medalha de Ouro do Concelho, o professor José Dias Coimbra, em cerimónia do Dia de Portugal, foi também agraciado, em 2008, pelo então Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com o grau de Comendador da Ordem Infante D. Henrique.

Nascido em 2 de Março de 1934, em Pampilhosa do Botão, concelho da Mealhada, e diplomado pela Escola do Magistério Primário de Coimbra, em 1955 o jovem professor do Ensino Primário inicia a sua carreira em Arganil onde, e contrariando a realidade desses tempos (era quase impensável) convivia com os alunos, jogava a bola e desde logo e além de aqui constituir família (casou com a também saudosa professora Clementina Pimenta Dias Coimbra e onde nasceram os seus filhos, Maria Assumpta e o saudoso José Miguel, não deixou de se envolver também na vida social da vila, servir nas direcções das suas associações como a Casa do Povo, fundou o Rancho Infantil, fez parte dos corpos sociais da Associação dos Bombeiros.

Foi ainda Delegado Escolar e além de ter marcado várias gerações de alunos, anos mais tarde o professor José Dias Coimbra acabaria por ser nomeado presidente da Câmara Municipal de Arganil pelo Governador Civil de Coimbra que, depois de tomar posse e mesmo com as limitações próprias da época, “alguma coisa foi feita, porque em Arganil, na Comarca de Arganil, em toda a Beira Serra, as Comissões de Melhoramentos é que faziam os melhoramentos no meu tempo de presidente da Câmara. E faziam mesmo”. Até que acontece o 25 de Abril de 1974 e é obrigado a deixar a presidência da Câmara, é preso e, ao tempo, segundo uma alínea deixada que permitia concorrer nas novas eleições democráticas, em 1980 concorre à Câmara, “era o chamado advento do Poder Local” e também Arganil volta novamente às suas mãos e “entra numa nova fase de progresso e desenvolvimento, (…) tenho muito orgulho do Poder Local de que fui co-fundador através da Associação Nacional dos Municípios de que fiz parte”. Foram criados muitas centenas de postos de trabalho, com o incentivo e apoio dados à criação de novas empresas, como a Solex, a AMMA. Foi a revolução industrial”.

O professor José Dias Coimbra esteve ainda na criação do ensino preparatório e técnico em Arganil, na fundação do CINTERBEI, do Lions Clube de Arganil, da Confraria do Bucho de Arganil (de que era confrade de honra), do Coral Maestro Alves Coelho, da Academia Condessa das Canas e anda da AIRC – Associação de Informática da Região Centro e era confrade de honra da Confraria da Chanfana de Vila Nova de Poiares. Foi de facto uma ilustre figura do concelho de Arganil e, apesar de não ser daqui natural, logo que aqui chegou adoptou Arganil com paixão e sentido de servir.

Na maioria das suas associações e depois de 10 anos como presidente eleito da Câmara Municipal, o professor José Dias Coimbra,  como disse numa entrevista ao nosso jornal, foi “empurrado” para a Santa Casa da Misericórdia, uma casa que conhecia bem e que já tinha servido como secretário (quando era provedor o saudoso eng. José Pires Nogueira) e onde, ao longo dos anos, desenvolveu um trabalho meritório, conhecido e reconhecido, em primeiro lugar em favor dos utentes, daqueles que mais precisam, mas também na preservação e manutenção do património da instituição, como e de entre ouras, aquela que foi a “menina dos seus olhos” e agora designada Mata das Misericórdias.

Depois da suspensão de A COMARCA em 10 de Junho de 2009, o seu ressurgimento, quase dois anos depois, foi pelas mãos e iniciativa do professor José Dias Coimbra, “foi das coisas lindas da minha vida”, como referiu na já citada entrevista, recordando que, para isso, foi necessário também “pedir a 60 amigos e arranjar cerca de 50 mil euros para criar uma Fundação e adquirir o título deste jornal que, ao longo dos anos, teve grandes obreiros como João Castanheira Nunes, sem esquecer todos aqueles que ali conheci, e que teve uma força muito grande na ajuda ao desenvolvimento e ao progresso de Arganil e da região”.

“Era uma injustiça deixar que o título fosse vendido em leilão, no Tribunal, por dez reis de mel coado a outra gente, com outros fins que não fossem aqueles que há 121 anos levaram à fundação do jornal A COMARCA DE ARGANIL. Honra seja feita a esses 60 amigos que ajudaram a criar a Fundação que, por força da lei, acabaria por ser extinta, passando depois a propriedade do jornal para a Santa Casa da Misericórdia de Arganil. E isso orgulha-nos. Orgulha-nos este jornal, que continua resplandecente e sempre na primeira linha na defesa dos interesses da Beira Serra e já um pouco para além dela, como nos orgulha o incentivo e o reconhecimento pelo nosso trabalho dos assinantes, dos anunciantes, dos colaboradores, dos amigos, dos autarcas. Estou satisfeito”, como disse então o professor José Dias Coimbra.

Por tudo isso (e muito, muito mais), foi “com enorme tristeza e profunda mágoa que a mesa administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Arganil” viu partir o professor José Dias Coimbra que, citando Camões, está agora entre  “aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando” e, por isso, vale ainda apenas destacar o que disse então na entrevista dada à A COMARCA, “eu graças a Deus não tenho fortuna, mas tenho a satisfação de ter passado toda a minha vida a servir porque, como diz o velho ditado, quem não serve para servir, não serve para viver. E o que me fica de tudo isto, é que vale a pena fazermos alguma coisa pelos outros”.

Os restos mortais do bom e saudoso amigo, estiveram em câmara ardente na igreja da Misericórdia, onde foi celebrada missa de corpo presente, presidida pelo Bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, sendo os elogios fúnebres feitos pelo seu amigo de sempre, Jaime Soares, e pelo vice-provedor da Misericórdia e director do nosso jornal, Nuno Gomes, que exaltaram a vida e a obra do saudoso amigo e deixaram o seu “obrigado, professor Coimbra”, realizando-se depois o funeral (a cargo do Grupo Funerário Abel Fernandes) para o cemitério de Arganil, com a participação de muitas centenas de pessoas vindas de longe e de perto, autarcas, estandartes e representantes das Misericórdias, de instituições e associações que, com a sua presença, quiseram prestar a sua sentida e última homenagem ao professor José Dias Coimbra, à qual se associaram também muito outros amigos com as suas mensagens de pesar pelo falecimento desta grande figura que, com a sua obra, marca para sempre Arganil.

“Parte o Homem, mas fica a sua obra”, como alguém escreveu (e bem) e curvando-nos respeitosamente em sua memória, A COMARCA endereça à família, particularmente a sua esposa professora Maria Ondina Mendes Coimbra, filha, netos e bisneta, as mais sentidas condolências.

“As Misericórdias de Coimbra perderam um dos nossos”

Numa mensagem que nos foi enviada pelo presidente do Secretariado Regional de Coimbra da União das Misericórdias Portuguesas”, António Sérgio Martins, é considerado que “as Misericórdias de Coimbra perderam um dos nossos e não perdemos um qualquer! Perdemos um dos nossos maiores modelos enquanto dirigente e enquanto ser humano!

Perdemos um Homem Bom!

O Professor Coimbra será sempre recordado nas Misericórdias como um Homem de causas e de valores.

O Professor Coimbra marcou as nossas vidas e as nossas Instituições com o seu exemplo, a sua dedicação, o seu empenho, o seu amor a esta causa maior!

Que o seu exemplo nos dê força para ultrapassarmos os inúmeros desafios que temos pela nossa frente”.