Na segunda-feira, 19 de Abril, na Sala de Exposições Temporárias do Núcleo Museológico de Arqueologia e de forma a assinalar o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, foi inaugurada a exposição temporária da escultura “Virgem com o Menino”, da capela de Nossa Senhora da Encarnação, de Mucelão, freguesia de S. Martinho da Cortiça, alvo de uma intervenção recente da responsabilidade do Laboratório de Conservação e Restauro do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, realizada ao abrigo do Protocolo de Cooperação com a Direcção Regional da Cultura do Centro (DRCC) e que foi seleccionada pela Rede de Castelos e Muralhas do Mondego e pela Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra para o Roteiro Turístico Santos da Casa e para o livro “De Roma a Portugal – do Império ao Reino | Uma viagem de 1500 anos pela região de Coimbra”.
A escolha da valiosa imagem do século XV resultou de uma parceria com a Igreja, a Junta de Freguesia de S. Martinho da Cortiça, o Município e a CIM – Região de Coimbra através do protocolo que a Câmara fez em 2021 com a Direcção Regional da Cultura do Centro “que fez o restauro desta imagem e que depois fizeram também uma impressão 3D da peça e um levantamento de fotogrametria da imagem que permite uma manipulação da peça”, como deu a conhecer o arqueólogo do Município, Fernando Neves, acrescentando que “este evento é mais de sensibilização patrimonial, para que se proteja o património móvel e religioso de Arganil”, pelo que “a manutenção da peça, limpeza, o tratamento e a manutenção do objecto é muito importante para que ele mantenha a sua autenticidade artística e histórica”.
“Esta é uma imagem belíssima dos finais do seculo XV que tem paralelos absolutamente idênticos em tudo, quer no Museu de Arte Antiga, quer no Museu Grão Vasco, da mesma oficina de João Afonso”, disse a Professora Luísa Trindade (que coordenou a equipa técnica da História de Arte para o livro e para os roteiros de que Arganil faz parte e onde está inserida a imagem), salientando que “o seu restauro foi muito contido, muito rigoroso do ponto de vista da consolidação da peça, que estava em três partes, mas não foi retocada toda a pintura a ponto de perder as suas características originais e de deixar de ser uma peça com a qualidade que esta tem, o que infelizmente ainda acontece muito quando os restauros são entregues não a técnicos especializados e sofrem uma espécie de repintura geral”, congratulando por isso a Câmara Municipal de Arganil e a Igreja por esta iniciativa “que me parece ser seguida por muitos outros Municípios”.
O reitor de Arganil, padre Lucas Pio, agradeceu a iniciativa pelo restauro da imagem “que é realmente de grande valor”, pelo que “teremos de ter um cuidado redobrado a partir do momento em que está a ser divulgada porque a capela não tem condições de segurança adequadas para que ali possa permanecer. Vamos estudar junto com a Junta de Freguesia e da Câmara para podermos ver o que poderemos fazer. Nós temos um grande património nas nossas paróquias, nas nossas capelas e que são coisas que estão perdidas e que é preciso serem cuidadas. Vamos descobrindo algumas preciosidades que temos e é importante termos o apoio de todos para podermos preservar esse grande património”.
“Está aqui uma belíssima peça que terá de ser preservada, fico muito satisfeito por a nossa freguesia albergar esta peça”, disse o presidente da Junta de Freguesia de S. Martinho da Cortiça, António José Dias, enquanto o presidente da Câmara Municipal, Luís Paulo Costa, depois de considerar que “esta era uma boa forma de assinalar o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, a consolidação e conservação desta peça histórica”, referiu que “teremos coisas como esta espalhadas por todo o concelho, nas sacristias e nos sótãos” e agradeceu à equipa “por este trabalho extraordinário que fizeram”, considerando que “temos aqui uma ideia que está a ser desenvolvida do ponto de vista do projeto que é conseguirmos instalar em Arganil um Museu de Arte Sacra”.
“É um privilégio podermos ver esta recuperação e preservação do património”, disse Luís Paulo Costa, destacando “este protocolo que fizemos com a Direção Regional da Cultura do Centro que tem vindo a consubstanciar uma lufada de ar fresco na forma de olhar para o património, mais do que estar aqui a assinalar um ponto de chegada, queria com este momento assinalar um ponto de partida, de caminho que teremos de fazer para conservar e preservar o património histórico e de caráter eclesiástico que temos no nosso concelho”.
O presidente da Agência para o Desenvolvimento dos Castelos e Muralhas Medievais do Mondego (e também presidente da Câmara de Penela), Eduardo Santos, depois de referir que “tivemos o privilegio de apresentar esta obra no Convento de São Francisco” e que “estudou um período que ainda não tinha sido estudado desta forma, contando com o trabalho de alguns professores da Faculdade de Letras e foi feito com o apoio da Universidade de Coimbra, permitindo identificar um conjunto de património existente aqui na nossa região que não estava devidamente identificado, valorizado”, considerou também que esta “é uma obra muito interessante que acaba de ser de leitura fácil e que nos permite ganhar aqui um contexto completamente diferente”, pelo que “a Agência pretende valorizar um património existente, enquadrá-lo e criar elos de ligação entre o nosso território que faça também com que os turistas se desloquem entre os diversos concelhos desta região, promovendo também aquilo que temos de bom e que pode ser muito valorizado (…) e que possa ter um impacto positivo na economia dos nossos territórios”.
Patente ao público até ao próximo dia 16 de Maio, podendo ser visitada de segunda a sexta-feira das 9h30 às 12h30 e das 14 às 17 horas e, ainda, aos sábados das 10 às 12h30, a exposição para além de pretender sensibilizar para a valorização e salvaguarda do património religioso do concelho de Arganil, pretende ainda dar visibilidade ao fantástico trabalho realizado de conservação, fotogrametria e impressão 3D.