Na verdade, a partir do passado dia 28 de Maio, que a comunidade benfeitense, também a Beira Serra e porque não toda a região, foi enriquecida com um espaço que tem o selo da Editorial Moura Pinto, designado por “Espaço Manuel da Quinta”, o qual, a par de possuir centenas de livros e diversos escritos antigos, onde a cultura e a história se confundem, é também aconselhável à realização de reuniões e palestras, tanto mais sendo um espaço onde funcionou a antiga estação dos CTT, defronte à Ribeira da Mata. Além de tudo isto, há também a registar a evocação da Revolução Liberal de 1820, com descerramento de placa no edifício onde foi criada a primeira Escola Primária da Benfeita.
Perante largo número de pessoas, entre elas o presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, José Francisco Rolo, após descerrada a placa que dá o nome ao espaço, já no seu interior, foi a jovem Maria do Mar Magalhães a ler um texto de sua autoria, com o título «Amizade em Tempos de Guerra», acompanhada à guitarra por Manuel Ribeiro.
A dar as boas-vindas, o presidente da assembleia geral da Editorial Moura Pinto, António Augusto, depois de lamentar a ausência de um representante da Câmara Municipal de Arganil, para cuja entidade foi enviado convite, deixou palavras de reconhecimento a Manuel da Costa, pelo que tem feito em prol da vivência humana, em diversas frentes da vida social, deixando também um forte gesto de gratidão ao Carlos Dias, que sendo seu aquele edifício salientou que «é altura também de reconhecer os vivos».
«Por um espaço, por uma personalidade marcante»
Foi com esta frase que o presidente da Editorial Moura Pinto, Rúben Carvalho, desenvolveu o caráter de Manuel da Costa, envolvido em diversas actividades, quer desportivas e sociais, quer políticas, e mostrando as suas capacidades de tolerância, convicção e força, neste sentido afirmou que «para manter a liberdade, é preciso lutar contra a acumulação de poderes, para defender a igualdade é necessário enfrentar os que defendem a segregação e para promover a solidariedade alguém tem que batalhar o individualismo e o egoísmo». E disse que «um desses “alguéns”, ao longo de décadas, foi Manuel da Costa, porque foi tudo menos parvo, porque se manteve intolerante para com as injustiças, para com a ausência de progresso na sociedade, para com o presente fantasma do retorno a um passado fascista, autoritário, opressor, nacionalista, imperialista, chauvinista, populista, irracional, estado latrista» e como finalizou, «uma nação não é senhoria dos seus cidadãos, pelo contrário, os cidadãos é que são proprietários da sua Nação e com mais cidadãos com a convicção, perseverança e obstinação de Manuel da Costa, a nossa sociedade esteve e continuará a estar em boas mãos», não deixando de recordar uma frase do Dr. Fernando Vale e que costuma dizer que «nós somos tolerantes, mas não parvos».
«Os nossos propósitos são de mais-valias e de contributos…»
Aceitando o convite para integrar a Comissão que irá dinamizar o Espaço, com a realização de eventos de interesse público e social, «desde que daí advenham benefícios para instituições de reconhecido mérito e sempre com o princípio de que não haverá qualquer intuito lucrativo da Editorial Moura Pinto ou de quem em seu nome intervenha», Carlos Cerejeira acentuou que «esta é a base da nossa actuação, a qual assenta no espírito, na natureza e no objecto social da referida Associação», sendo os propósitos da Comissão Dinamizadora do Espaço, constituída por Jorge Gonçalves, Mariana Lagarto, Leonor Dias, Luísa Lagarto, João Martins, Sila Simões. Filipa Gonçalves, Sandra Santos e Carlos Cerejeira, que os propósitos desta Comissão «são de mais-valia e de contributos que visem dignificar e melhorar a qualidade de vida dos habitantes desta freguesia e de fazer parcerias com as várias instituições existentes», tanto mais que «desejamos cumprir os objectivos que estão na génese da Editorial Moura Pinto, uma associação que nos seus princípios estatutários consigna a ideia altruísta de servir a região arganilense, contribuindo para o estudo, preservação e divulgação cultural, gratuitidade e solidariedade». Afirmando que «sem este espaço não estaríamos aqui, sem este espaço não haveria lugar a sonhos nem projectos, mas sem Carlos Dias também não haveria este momento, nem sonhos nem projectos», Carlos Cerejeira relevou também que «como amigo da Benfeita e interpretando o qua vai na alma de cada benfeitense, quero deixar bem registada na memória colectiva a certeza de que só um ser desta dimensão, que coloca as pessoas acima de tudo» e em relação a Manuel da Costa, afirmou Carlos Cerejeira que «ninguém melhor para apadrinhar e garantir estes sãos e nobres princípios», pois «as suas ligações à Benfeita e às suas gentes o seu espírito de solidariedade, de missão e dedicação à Editorial Moura Pinto, são razões mais que suficientes para que seja o patrono deste Espaço».
«Um Espaço enriquecedor…»
Quem o disse foi o presidente da Junta de Freguesia da Benfeita, José Pinheiro, agradecendo à Editorial e a Carlos Dias pela abertura deste Espaço, o qual encerra conhecimentos históricos e de cultura, e, além do mais, espera que seja um espaço enriquecedor e que passe a ser «uma paragem obrigatória a quem se deslocar à Benfeita».
«O porquê de Manuel da Quinta…»
Manuel da Costa, sendo natural de Felgueira Velha, da freguesia de Seixo da Beira (Oliveira do Hospital), falando um pouco da sua vida, e regozijando-se por ver ali o Presidente do seu concelho, disse ser filho de agricultores de uma quinta perto de Coimbra, e que por isso lhe passaram a chamar Manuel da Quinta, fosse na vida estudantil, fosse na vida desportiva, social e política. Sobre a Editorial Moura Pinto, considerou-a uma instituição que promove a cultura e por isso não deixa de ser «um farol da Serra do Açor que espelha o desenvolvimento e a solidariedade».
Depois de sua irmã, Rosa Branca, ter lido um poema «Eu sou o Deus que procuro e não o Deus que me oferece» e indo no mesmo caminho o poeta José Manuel Oliveira, que leu o poema de sua autoria «Sou o Operário em Construção», foi José Baeta do Vale a regozijar-se pelo que estava ali a passar-se, contando episódios passados com a família de Manuel da Costa e daí a amizade que se construiu e desenvolveu até hoje.
Recorde-se que Manuel da Costa, para além de uma vida ligada à política, tendo sido inclusivamente deputado pelo PS à Constituinte de 1975, por Coimbra e deputado da Assembleia da República entre 1979/1980, pelo círculo de Évora, de cujo distrito foi Governador Civil, entre 1976/1980, foi deputado municipal oliveirense e presidente da Junta de Freguesia de Seixo da Beira, foi jogador e dirigente da secção de râguebi da Associação Académica de Coimbra, além de ser autor de várias obras literárias.
Recordando a Revolução Liberal de 1820
Ultrapassada que foi a inauguração do Espaço Manuel da Costa, todos se dirigiram ao Largo da Capela de Nossa Senhora da Assunção, para ali ser descerrado um pequeno memorial sobre a Revolução Liberal de 1820, na casa que foi pertença do Padre Mestre António Pedro Nunes Teixeira, primeiro professor da escola da Benfeita, hoje pertença do seu tetraneto Orlando Dias Martins, médico em Lisboa, e cujo memorial foi descerrado pelo bisneto do padre-mestre, Eduardo Dias.
A este respeito, Carlos da Capela, através dos «Cadernos Vadios», editou a «Crónica sobre o Padre Mestre António Pedro Nunes Teixeira, primeiro professor da escola da Benfeita», enquanto o presidente da Editorial Moura Pinto, Ruben Carvalho e Manuel Seixas, se debruçaram sobre o acontecimento ocorrido em 1820.