Na terça-feira, na Sala de Exposições Guilherme Filipe, no átrio dos Paços do Concelho, foi inaugurada a “Exposição [pressão] de Miguel Pinheiro”, arquiteto paisagista (e vereador da oposição na Câmara Municipal) e que primeira vez está a expor em Arganil.
A exposição, que vai estar patente até ao dia 11 de Outubro, reúne 15 obras da série “Cyrillic stories”, todas litogravuras do autor impressa à mão em páginas de um único livro, “Crime e Castigo”, de F. Dostóievski, e cuja escolha, como explicou o autor, “não se baseou no facto de este ser um clássico da literatura, mas sim no potencial estético do alfabeto cirílico e da sua capacidade de, por ser menos percecionado no seu significado, poder associar livremente a linogravura a uma história, a uma narrativa ilustrada”.
A edição do livro é de 1971, “ano em que eu nasci e que tento representar na escala temporal”, como disse Miguel Pinheiro, sendo também esta a base de ligação à peça que complementa a exposição e que, nas suas grandes dimensões, representa os dias vividos (18 262, no total) ao longo dos seus 50 anos através das suas impressões digitais e que, como explicou, tem como intuito fazer “transparecer a escala e a textura do tempo e a diferença de pressão a que os nossos dias nos sujeitam”, acrescentando ainda que “cada um, com estas imagens, faz a história que quer”, havendo “espaço para a imaginação em cada quadro”.
Miguel Pinheiro disse ainda que os motivos que retrata estão ligados, sobretudo, à “natureza, paisagem, animais e plantas, não têm nada a ver com a mensagem do livro, que até é muito deprimente e triste”, referindo que o livro serve apenas de base às linogravuras e que foi escolhido “não apenas pela sua relevância literária mas, sobretudo, pelo potencial estético do alfabeto cirílico, que oferece uma interpretação visual livre”, permitindo associar a linogravura “a uma história, uma narrativa ilustrada”.
E depois de manifestar a sua satisfação por expor “num Átrio de Exposições com o nome de um artista que também diz muito a Arganil, à nossa região”, Guilherme Filipe que “também morreu em 1971, um ano que tem alguma coisa a ver com esta exposição”, Miguel Pinheiro recordou que quando estava a trabalhar em Arganil, “em 1998/99, e estávamos a fazer o plano das Aldeias do Xisto, numa visita a Fajão tive oportunidade de ir ao Museu e, pouco tempo antes de ele morrer, estava lá uma pessoa encantadora e era incrível o seu trabalho (monsenhor Nunes Pereira)” e a sua técnica “marcou-me e sempre achei que deveria experimentar, não com o virtuosismo e a capacidade dele, e não na madeira, mas neste material que é muito mais versátil, fácil de trabalhar”.
“Estes trabalhos são feitos quando não tenho pressão nenhuma, quando não tenho de trabalhar nos projectos e são feitos sem pretensão nenhuma”, disse Miguel Pinheiro que fez a sua “formação de arquitetura e estive no liceu, na área das artes, mas não fiz nenhum curso sobre isto, é um investimento próprio e dedicação e que fui aprofundando mais esta técnica nos últimos cinco anos e, neste momento, é a que me dedico mais”.
E como refere a nota explicativa da exposição, “o resultado final tenta transparecer a escala e a textura do tempo e a diferença de pressão a que os nossos dias nos sujeitam”, tendo Miguel Pinheiro referido que “é a primeira vez que exponho estas obras, já tive outras exposições, há mais tempo, mas é a primeira vez que exponho em Arganil”, agradecendo ao Município pela “disponibilidade de poder apresentar estes trabalhos, neste espaço”.
E depois de dar ainda a conhecer que “já tenho mais peças prontas a serem impressas, para serem expostas também”, Miguel Pinheiro disse que “expor os trabalhos, aqui, diz-me muito”, terminando por salientar que “daqueles dias que ali estão representados (na peça de grandes dimensões), boa parte deles, quase metade, têm de alguma forma, direta ou indiretamente, a ver com esta casa”.
A vice-presidente da Câmara Municipal, Paula Dinis disse que “sinto-me muito honrada por termos aqui esta exposição do arquiteto Miguel Pinheiro, por ser dele, mas também pelo tipo de exposição, de obra, do trabalho que nos está aqui a apresentar, que não é tão vulgar”, considerando que para a autarquia é “um motivo de grande orgulho poder dar a conhecer a todos os arganilenses estes seus talentos artísticos”.