No dia 17 de Dezembro e no âmbito das comemorações do seu 375.º aniversário, a Santa Casa da Misericórdia de Arganil inaugurou, simbolicamente, o Hospital de Beneficência Condessa das Canas que, depois das grandes obras de reabilitação por que passou e que ascenderam a cerca de três milhões de euros, pretende que venha a funcionar este ano (de 2013) e seja integrado na Rede Nacional de Cuidados Paliativos.
“Foi um momento de elevado simbolismo para os órgãos sociais da Misericórdia e especialmente para o seu provedor, professor José Dias Coimbra”, a inauguração do Hospital de Beneficência Condessa das Canas e que fica bem marcado também com a abertura do Gabinete Miguel Torga “para que a sua memória fique perpectuada neste Hospital”, com a “Sala Maria de Deus R. Pinto Fernandes” em reconhecimento a esta benemérita “que temos aqui connosco e que ofereceu 100 mil euros para ajudar a instituição” e ainda com o protocolo celebrado com a Fundação Aurélio Amaro Dinis, de Oliveira do Hospital, com o intuito de que este antigo Hospital retome alguns dos serviços que já teve, nomeadamente e com é o caso, nas especialidades de Cardiologia, Urologia e Ginecologia, tudo isto “na perspectiva que Arganil volte a ter vida nesta unidade”.
Foi “um dia histórico para a Misericórdia, para Arganil e para a região”, como considerou o presidente da assembleia geral, Raul Martins, mas também de festa e que contou com a participação da Filarmónica de Arganil a saudar todos os presentes, nomeadamente e de entre outros, os deputados da Assembleia da República, José Carlos Alexandrino Mendes e João Paulo Barbosa de Melo; presidente da Câmara Municipal, Luís Paulo Costa; presidentes de Juntas de Freguesia e mais autarcas; presidente do Secretariado Regional de Coimbra da União das Misericórdias Portuguesas, António Sérgio Brito Martins; provedores de Santas Casas da Misericórdia do distrito e representantes de IPSS; médicos e representantes dos Serviços de Saúde; e reitor de Arganil, padre Lucas Pio, que procedeu bênção do renovado Hospital, dizendo ainda que, impossibilitado de estar presente por compromissos anteriormente assumidos, ”o Bispo de Coimbra manda cumprimentos e agradece por todo o trabalho desenvolvido pela Misericórdia e pelos seus responsáveis e colaboradores e manifesta o seu carinho por esta Santa Casa”.
Na sessão solene comemorativa da inauguração, o provedor da Santa Casa da Misericórdia, professor José Dias Coimbra, começou por considerar que “hoje, é pata mim, um momento muito especial. Não apenas porque a Misericórdia de Arganil procede à inauguração da reabilitação do Hospital de Beneficência Condessa das Canas, mas também porque o faz no ano em que a instituição atinge a vetusta idade de 375 anos de existência” e que, desde a sua criação e “à semelhança de todas as outras Misericórdia de Portugal, tem procurado, e encontrado, os Homens Bons necessários para satisfazer as catorze Obras de Misericórdia que são a luz orientadora de toda a sua acção”, pelo que e como referiu, “as Misericórdias são o que sempre foram, uma parte da nossa portugalidade , uma expressão de fé, uma dedicação a uma comunidade e uma entrega a um conceito que não se explica, sente-se”.
Por isso e como considerou o professor José Dias Coimbra, “este edifício onde nos encontramos é bem o reflexo do que acabei de dizer, foi construído para acolher o primeiro hospital concelhio digno desse nome, cuja obra foi lançada em 1881 e terminada em 1886, a partir da benemerência da Condessa das Canas, D. Isabel Freire de Bulhões, a maior benemérita desta Misericórdia”, sem esquecer também que “ao longo dos tempos foram inúmeros aqueles que aqui serviram, mas mais recentemente destaco figuras como o dr. Fernando Valle, o dr. José Viegas Pimentel, o dr. Vasco de Campos, o dr. Adolfo Rocha (Miguel Torga), o dr. António Parente dos Santos, o dr. Armando Dinis Cosme, o enfermeiro Guilherme Ferreira Rodrigues e as irmãs religiosas da Congregação Hijas de S. José”, para recordar depois que “este magnífico edifício foi nacionalizado pelo Estado, sem que, nesse momento, fosse acautelado todo o esforço e dedicação desta instituição da comunidade que, ao longo de décadas, sempre assegurou serviços de saúde aos que mais necessitavam”.
Contudo e apesar disso, “lentamente, esta instituição foi refazendo a sua acção, muito devido ao empenho de muitos dos Homens Bons que não a abandonaram”, como disse o provedor da Misericórdia, e porque “tudo que nasce da comunidade e vive para a comunidade, alicerçada em valores e princípios inabaláveis, muito dificilmente desaparecerá, e assim foi com a Misericórdia de Arganil e outras tantas espalhadas pelo país”. E recordando a sua entrega de muitos anos à instituição, “como irmão já lá vão 63 anos” e as figuras que conheceu e que passaram “não apenas por este Hospital, mas pela Misericórdia no seu todo”, salientou que “a requalificação deste Hospital não resultou de qualquer aventura desmedida ou incauta decisão da mesa administrativa desta instituição, ela teve como substrato o compromisso que o Estado Português firmou em 2010 no âmbito do Programa Modelar II e, ao contrário de outras instituições, a Misericórdia de Arganil cumpriu a sua obrigação – requalificar o Hospital de Beneficência Condessa das Canas”.
“Esta intervenção teve por base um contrato celebrado com a Administração Regional de Saúde do Centro, o qual nunca foi rescindido, revogado ou resolvido por quem de direito e, por isso, a Misericórdia levou até ao fim as suas responsabilidades, esperando que outros as cumpram igualmente!”, disse o provedor, que deixando o seu reconhecimento ao então presidente da ARSC, o arganilense dr. João Pedro Pimentel, reconheceu também que essa intervenção “não seria possível sem a colaboração da firma construtora, aqui representada pelo eng. José Miguel Baptista, ou mesmo ao acesso bancário, neste caso assegurado pela Caixa de Crédito Agrícola Mútuo da Beira Centro, sendo presidente do seu conselho de administração o dr. Fernando Sousa”, a quem deixou os agradecimentos, bem como aos projectistas liderados pela eng.ª Maria Emília Carvalho Homem e a sua empresa, MECH, à fiscalização da obra, ao presidente da Câmara Municipal, Luís Paulo Costa, “por, desde a primeira hora, ter manifestado a sua posição política de defesa deste espaço e nele preconizar a instalação de uma Unidade de Cuidados Paliativos, como a Misericórdia tem vindo desejar”.
Mas o professor José Dias Coimbra não esqueceu também de ter palavras de apreço e agradecimento “para todos os Partidos políticos que aprovaram, por unanimidade, uma moção de apoio a este projecto na Assembleia Municipal”, à eng.ª Cristina Figueiredo “que assumiu de forma clara e transparente uma posição de apoio a este projecto na Assembleia de Freguesia”, ao deputado à Assembleia da República, José Carlos Alexandrino “na esperança de que os seus esforços façam ver a realidade junto de quem de direito e as obrigações existentes para com a Misericórdia de Arganil”, numa e para uma obra “cujo custo final ultrapassará os três milhões de euros” e que “marcará o início de uma nova etapa da instituição, com a certeza de que o arrojo que a caracteriza e a coragem que domina, farão com que continue a sua senda, sem esquecer o passado mas virada para o futuro”.
“Aprendi que não é bom gestor aquele que tem dinheiro para gerir, bom gestor é aquele que gere sem dinheiro e concretiza obra para colocar ao serviço dos outros”, considerou o provedor da Misericórdia, recordando que foi assim “com o Lar Cruz Pereira e todas as respostas sociais a ele ligadas e respectivos serviços de apoio”, com a requalificação da igreja da Misericórdia e do seu órgão de tubos, com o Hospital Dr. Fernando Valle ou com a Academia Condessa das Canas, “tudo isso foi feito com engenho, mas acima de tudo com muita dedicação”. E também o Complexo Desportivo Zé Miguel Coimbra, “já para não falar da recolha dos títulos do Cineteatro Alves Coelho a favor da Misericórdia” e o “esforço para que o centenário título A COMARCA DE ARGANIL não desaparecesse e que hoje é fundamental para a preservação da memória colectiva da Beira Serra e que alguns, sem amor à sua terra, a quiseram destruir ou, simplesmente, calar”.
“Mas tal como o Hospital da Misericórdia faz parte de um lote de edifícios emblemáticos da vila de Arganil conjuntamente com o Cineteatro Alves Coelho, outra pérola reside na património da instituição e que, para mim, será outra obra que assumo como o meu maior desafio, pois acompanhou-me ao longo de vários anos, falo pois na Mata das Misericórdias”, referiu o professor José Dias Coimbra, na qual “dominam agora as espécies autóctones, a flora e a fauna da região”, além de acolher nas suas ruas e largos os nomes das Misericórdias, Freguesias, Professores, Bispos, Poetas, a Memória desta terra e das suas gentes, interrogando: “poderei então pedir mais…? É que o Homem é assim, quer sempre mais e eu quero muito para esta Santa Casa”, terminando por deixar “uma palavra de profundo agradecimento a todos que me acompanharam nesta longa jornada. Não preciso de dizer nomes. Foram muitos. Eles sabem-no”.
E esse querer “muito para esta Santa Casa” não deixou de ser reconhecido e enaltecido pelo presidente da assembleia geral da instituição, Prof. Doutor Raul Martins, destacando que “o sonho, a utopia de quem esteve na origem deste projecto foi precisamente o senhor professor José Dias Coimbra”, sem deixar de reconhecer também a generosidade das irmãs e irmãos “que tem contribuído para permitir a concretização desta obra”, bem como “o trabalho de várias pessoas e permitam-me que saliente aqui o dr. Nuno Gomes”, terminando por afirmar que “com esse sonho e a resiliência necessária para vencer os obstáculos ao longo de muitos anos, (…) conseguiremos certamente deixar um legado que contribua para melhorar as condições e a qualidade de vida das pessoas deste território”, deixando a todos os presentes o seu “muito obrigado por terem vindo e por se terem associado ao nosso sonho”.
O presidente da Fundação Aurélio Amaro Dinis, Álvaro Herdade, começou por considerar que “hoje é um dia histórico para nós, muito importante para a Fundação esta colaboração com a Santa Casa da Misericórdia de Arganil” e que, “como pilares essenciais para a prestação de cuidados às populações mais desfavorecidas”, com “a colocação aqui de sinergias de apoio como um laboratório de análises clínicas, as consultas e mesmo avançar para outros meios auxiliares de diagnóstico, (…) estamos a colaborar e muito para defesa e melhoria dos cuidados de saúde nesta região de Arganil”.
O presidente do Secretariado Regional de Coimbra da União das Misericórdia Portuguesas, António Sérgio Martins, partilhando “alguns sentimentos que hoje me correm pelas veias, disse que ao chegar a Arganil percebi que a vossa comunidade, as boas gentes de Arganil, desta região tão distintiva da nossa Beira Serra estava aqui, hoje, para comemorar este dia único e sobretudo para festejar a recuperação e a disponibilidade por parte da Misericórdia por mais esta resposta ao serviço da comunidade”, reconhecendo e destacando aquilo que tem sido feito “até aqui por esta maravilhosa, por esta única instituição”.
E “pelos momentos tão difíceis que estamos a atravessar”, pelos quais pediu os deputados fizessem “sentir “estas dificuldades e adversidade que o sector atravessa” junto da Assembleia da República, António Sérgio Martins considerou que “o distrito tem muito orgulho do que esta Misericórdia tem feito ao longo de todos esses anos” e sem deixar de enaltecer “todos os colaboradores e colaboradoras desta magnífica instituição”, teve palavras de particular apreço para com o seu provedor, professor José Dias Coimbra, “um homem imprescindível para todos nós por tudo aquilo que fez, o homem, o amigo, o provedor sobretudo de tantas e tantas lutas e que não sendo da vossa comunidade, não há uma gota de sangue que lhe passa no corpo que não transborde Arganil. A sua preocupação diária são efectivamente os mais vulneráveis e aqueles que mais precisam, portanto, senhor professor, é um orgulho enorme, as Misericórdia de Coimbra estão orgulhosas porque um dos nossos está a terminar uma passagem como provedor da Misericórdia de Arganil, mas sobretudo estamos muito gratos pela sua entrega, pela sua dádiva e hoje somos o que somos muito pela sua passagem por este movimento que são as Misericórdias de Portugal”.
Mas além da importância desta obra, também a acção e a entrega à Misericórdia de Arganil e à causa das Misericórdias do professor José Dias Coimbra, não deixou de ser reconhecida e enaltecida pelo deputado João Paulo Barbosa de Melo, considerando mesmo “que o país não pode ignorar quem se dá desta maneira, quem tanto faz pela comunidade”, enquanto o deputado José Carlos Alexandrino afirmou que “gostava que o Ministro da Saúde estivesse aqui para ouvir o que devemos fazer para colocar em funcionamento este Hospital”, mas “não esteve aqui porque a Santa Casa tem dois processos em Tribunal contra a Administração Regional de Saúde”, deixando a certeza de que “estou a tentar fazer um acordo para que estes processos deixem de estar em Tribunal” porque e como considerou, “é com bom senso, vai ser possível chegar a um acordo” e porque e como disse, “sou um deputado destes territórios para dar voz aos sem voz”.
“Em boa hora a Santa Casa da Misericórdia de Arganil entendeu que este espaço é importante de mais para se manter encerrado. Em boa hora o senhor provedor, professor José Dias Coimbra, empreendeu esta ‘cruzada’ de reabilitar o Hospital Condessa das Canas e de o colocar ao serviço das pessoas”, considerou o presidente da Câmara Municipal, Luís Paulo Costa, porque e como disse, “e se estar ao serviço das pessoas já foi servir de maternidade; estar ao serviço das pessoas pode muito bem ser, agora, ajudá-las a evitar ou minimizar o sofrimento decorrente de alguma atroz doença; pode muito bem ser ajudar a que o fim que a todos espera aconteça com o máximo de dignidade e o mínimo de sofrimento: um Hospital de Cuidados Paliativos”.
“O senhor professor sabe – alguns dos que aqui estão também sabem – que essa é a opção que defendo desde a primeira hora em que se começou a discutir a nova função deste Hospital Condessa das Canas”, acentuou Luís Paulo Costa, para referir depois que “a primeira fase desta ‘cruzada’ fica aqui hoje concluída. A seguinte, que já começou, tem em vista fazer perceber aos responsáveis do Ministério da Saúde, e particularmente do Ministro da Saúde, que a Santa Casa da Misericórdia de Arganil está a fazer um esforço grande para ajudar a criar uma resposta absolutamente necessária”, ficando por isso “a parte mais fácil” para o Governo e que é “integrar este equipamento na Rede Nacional de Cuidados Paliativos”.
“Tenho a certeza que o senhor professor José Dias Coimbra, provedor desta Misericórdia, está totalmente disponível para ajudar na criação dos novos 100 lugares de cuidados paliativos até final do próximo ano, com que o Governo se comprometeu no âmbito do Programa de Recuperação e Resiliência. De facto – contrariamente ao que habitualmente se verifica – neste caso não é uma questão inexistência de meios financeiros, é uma questão de vontade política. O dinheiro está disponível e provém do Programa de Recuperação de Resiliência”, solicitando aos deputados, “dentro daquele que é o vosso quadro de magistratura política, os vossos bons ofícios no sentido de colocar ao serviço das pessoas este equipamento, um equipamento de referência que é necessário entre rapidamente em funcionamento” e, “por fim, ao senhor professor José Dias Coimbra, ilustre provedor desta respeitável instituição, aos demais elementos dos órgãos sociais, a todos os que contribuíram para que esta obra seja uma realidade, queiram aceitar os meus agradecimentos, as minhas congratulações e os meus parabéns”.