No dia 9 de Setembro, no Espaço Multiusos da Cerâmica Arganilense, foi inaugurada a exposição colectiva “Nós Provincianos – o Padre, o professor e o Médico”, constituída por cerca de 100 obras, que representam 100 anos de pintura de três artistas (de três gerações) “separados pelo tempo, mais unidos pelo sangue e pelo amor à arte”, o padre Augusto Nunes Pereira e professor António Ventura (já falecidos) e o médico dr. José Augusto Coimbra.
E estas “100 obras que representam 100 anos de pintura no seio da mesma família, deslumbram (de facto) os diferentes traços, as diferentes perspectivas e interpretações dos autores, que se apresentam diante dos olhos numa aprazível e sem precedentes mescla” (parte deste acervo está parente também no Átrio de Exposições Guilherme Filipe, nos Paços do Concelho) e por isso e como disse o dr. José Augusto Coimbra, “hoje é um dia de grande festa para mim, e de grande orgulho, porque pertenço a uma família da qual me honro muito”.
Uma festa partilhada pela família dos artistas, por muitos amigos, pelo presidente da Câmara Municipal, Luís Paulo Costa, vice-presidente, Paula Dinis, mais autarcas, que tiveram oportunidade de ver e apreciar as obras dos três artistas, cuja ideia e como disse José Augusto Coimbra “é mostrarmos e percorremos ao longo de cem anos, os traços artísticos de filhos da Beira Serra”.
O convite para o que o dr. José Coimbra apresentasse as suas obras numa mostra individual partiu da Câmara Municipal de Arganil, mas o artista achou por bem “fazer algo diferente”, por forma a “valorizar o património e as pessoas da Serra”. E lançou o repto à família de António Ventura e a colaboração do Seminário Maior de Coimbra (que tem o acervo do monsenhor Nunes Pereira), que aceitaram de imediato integrar a exposição “Nós Provincianos – o Padre, o Professor e o Médico”.
E sobre o conceito dos provincianos, falou o artista plástico Mário Vitória, oriundo de Coja (e que ajudou a preparar a exposição), sem deixar de enaltecer as obras expostas e o que representam, os seus autores e a sua grandeza, ali bem patente e que deve ser (mais) conhecida e reconhecida muito para além daquele que considerou um espaço magnífico para o efeito e que é o Espaço Multiusos da Cerâmica Arganilense.
Para isso e ainda segundo José Augusto Coimbra, “sou um médico que não tem culpa de ter nascido com o gosto de desenhar de pintar”, adiantando que a exposição terá um momento de encerramento em Novembro, constituído por um colóquio/ debate e um livro de apoio, que irá ser feito ao longo deste tempo em que as obras se encontram expostas, referindo-se ainda à possibilidade de a mostra vir a ser itinerante, porque “temos obras de grande sentimento e completamente diferentes, quer na cor, quer nas técnicas usadas e nestas obras existe muita critica e muita sátira” e o seu sonho “era tudo isto acabar com um Museu de Arte dos Provincianos, (…) Arganil já merecia ter um Museu de Arte”.
“Ofereço este momento à minha mãe, que tanto gostaria de o viver e à minha cúmplice Luci (a esposa) agradeço o apoio e dedicação à minha pintura, sem ti isto não era possível”, disse José Augusto Coimbra, para considerar depois que “nenhum de nós os três necessita do reconhecimento alheio para ser o que é, aqui não existe a tola vaidade, orgulho sim”, confessando que “se não fizesse esta exposição ficava em mim uma esperança frustrada e, ao fazê-lo, sujeito-me a ser uma frustração pateteada”, salientando ainda que “há nesta exposição um outro tempo e uma outra memória que nos faz uma outra vida”, pois “todos nós temos coisas para se dizer, para partilhar”, acrescentando que “as obras aqui presentes levam-nos a pequenas conversas onde se revelam as qualidades humanas de respeito e compaixão e as marcas morais da decência e da nobreza, nunca esquecendo um olhar crítico e fascinado do mundo rural, com os seus silêncios, contradições e turbulências morais”.
E depois das palavras de Ana Ventura (filha do saudoso professor António Ventura) e de Cidália Santos (em representação do Seminário Maior de Coimbra), o presidente da Câmara Municipal, Luís Paulo Costa, começou por referir, “adivinhando a expressão e relevância desta mostra, aceitámos de imediato e de bom grado trazer à Cerâmica as obras destas três figuras incontornáveis, que cada uma à sua maneira e no seu tempo marcaram Arganil”, considerando mesmo os três artistas “pilares na nossa comunidade, líderes, educadores e cuidadores dedicados em orientar, ensinar e curar, três artistas com traços, interpretações e visões distintas, mas que têm em comum o dom de transformar momentos comuns em obras-primas, obras que nos fazem ter consciência da importância de valorizar a nossas raízes, a tradição e a simplicidade”.
“Estamos muito orgulhosos de poder reunir no mesmo espaço e dar a conhecer pela primeira vez, em simultâneo, as obras de três artistas que foram e são grandes homens e grande profissionais”, disse ainda Luís Paulo Costa, estando convicto de que “os muitos visitantes que por aqui vão passar até Novembro se vão identificar, inspirar e sensibilizar com estas obras tão nossas, tão arganilenses”, agradecendo ao dr. José Augusto Coimbra “pela ideia de reunir pela primeira vez este vasto e significativo acervo e pelas obras que demonstram que a arte não precisa de ser ensinada e de que não há limites quando há imaginação e criatividade”.
“A seguir a esta venham outras exposições”, foram os votos deixados pelo presidente da Câmara Municipal, agradecendo também à família do professor Ventura, nas pessoas das suas filhas Ana e Patrícia, considerando que as suas obras “aqui retratadas são também um reflexo da sua forma de ver a vida, sempre com o olhar crítico e assertivo sobre a sociedade” e um “especial obrigado” ao reitor do Seminário Maior de Coimbra, na pessoa de Cidália Santos, responsável pelo acervo do Monsenhor Nunes Pereira e a Mário Vitória por “toda a colaboração que deu na preparação desta exposição”, que vai estar patente até ao próximo dia 5 de Novembro. E a merecer uma visita. Vale a pena.