ARGANIL: Seminário Internacional “Cultura e Participação”

No passado sábado, 2 de Abril, na Cerâmica Arganilense, realizou-se o Seminário Internacional “Cultura e Participação”, com um programa inteiramente dedicado à Cultura e que contou com testemunhos e experiências de figuras nacionais e internacionais e ainda com a apresentação da Carta Cultural de Arganil, um documento que resultou de sinergias criadas entre a Câmara Municipal e as associações culturais do concelho.

Assumindo-se como “um lugar de reflexão por parte dos decisores políticos e demais actores da sociedade sobre o caminho a seguir para a construção de identidades culturais que valorizem o genuímo, o autêntico, o saber fazer e as artes de cada território”, o Seminário Internacional “Cultura e Participação”, na sessão de abertura, contou com a presença do presidente da Câmara Municipal, Luís Paulo Costa, e da Directora Regional da Cultura, Suzana Menezes.

“A iniciativa que hoje aqui promovemos surge como resultado desta nossa vontade muito vincada de fazer chegar a cultura, nas suas mais variadas formas, a mais e mais pessoas. De a tornar tão abrangente quanto possível”, disse o presidente da Câmara Municipal, acrescentando ainda que o “nosso trabalho com a elaboração da Carta Cultural de Arganil, que será aqui hoje apresentada, passa por definir um caminho capaz de garantir que a cultura será feita por todos e para todos, passa por derrubar as barreiras e os obstáculos que possam surgir neste processo de tonar universal o acesso à cultura”, enquanto a Directora Regional da Cultura considerou que “este Seminário põe em destaque duas palavras que deveriam ser, quase, uma só, cultura e participação”, referindo ainda que “enquanto expressão máxima da nossa humanidade, a cultura não acontece sem participação e sem envolvimento. Diria mesmo, a cultura é participação e envolvimento”, acrescentando que, “de resto, tornou-se bem claro para todos nós, o que acontece à cultura quando não podemos participar, simplesmente a cultura torna-se um bem inerte”.

Apresentação da Carta Cultural de Arganil

Com introdução a cargo de Miguel Neves, responsável pelo Atelier do Piano, e Margarida Marques, em representação da Trust Collective e apresentada por três dirigentes de associações culturais, Graça Moniz (presidente do Grupo Folclórico da Região de Arganil), Daniela Santos (presidente da Tuna Popular de Arganil) e Beatriz Luzio (presidente da Associação Juvenil Cume), a Carta Cultural de Arganil cuja elaboração foi coordenada pelo programador cultural e investigador, Hugo Cruz, e contou com o contributo de dirigentes de diversas colectividades concelhias, não sendo, de todo, um documento fechado, estando em “construção”, (…) “resulta de um processo de cocriação entre os agentes culturais do concelho e o Município e baseia-se nos princípios fundamentais da democracia cultural”, nomeadamente “concretizar uma concepção de cultura horizontal, não hierárquica, contribuindo para a ideia de não separação entre cultura e vida; aprofundar o direito de participar na vida cultural das comunidades como um elemento central na concretização da cidadania e da vida democrática; garantir o acesso à fruição e aos modos de produção cultural; perspectivar e valorizar a existência de uma diversidade de públicos e de estéticas e aproximar cidadãos da acção cultural de forma flexível e participada, gerando, assim, dispositivos de produção de sentidos distintos”.

Sintetizando “um conjunto de princípios e orientações, respeitantes ao período compreendido entre 2022 e 2025, assumindo-se como um contributo relevante à consolidação das dinâmicas culturais do território” e “com base numa acção concertada entre distintos agentes”, a Carta Cultural de Arganil propõe diversos pontos considerados como “centrais para o desenvolvimento das dinâmicas culturais do concelho de Arganil”, designadamente, “aprofundar a acção de uma rede cultural continuada, com base na colaboração entre agentes culturais locais e outros actores do território; dar continuidade a uma programação cultural concelhia numa lógica descentralizada; potenciar uma agenda cultural do concelho física e virtual; estimular a criação artística que active o mapeamento e documentação dos elementos culturais do concelho; potenciar o trabalho em rede entre agentes culturais, educativos sociais e autárquicos do concelho; estimular estratégias de desenvolvimento de públicos, garantindo a sua diversidade e cruzamento; desenvolver acções de formação e capacitação direccionadas aos agentes culturais e desenvolver acções de melhoria de aspectos infraestruturais”.

Na elaboração da Carta participaram, até ao momento, cerca de duas dezenas de agentes culturais, entre Grupos Folclóricos, Tunas, Filarmónicas, associações, grupos de teatro e de dança, entre outros, considerando Graça Moniz que “estas instituições e actores culturais aqui mencionados, deixam o desafio aos que não puderam participar para que se juntem ao processo e possam no futuro trabalhar em conjunto, desenvolvendo parcerias”, considerando que “as instituições e os actores culturais, têm também eles, a responsabilidade, de acompanhar a evolução do meio sócio-cultural local”, referindo que “não podemos continuar a trabalhar cada um per si, temos de abrir as portas, sair da capelinha e vir trabalhar no adro, onde todos são bem-vindos e onde todos temos lugar”, terminando por deixar o convite para que estejam todos “nesse adro”, no próximo dia 30 de Abril, na Biblioteca Alberto Martins de Carvalho, em Coja.

A Carta Cultural “foi elaborada com o firme propósito de tornar a cultura mais democrática; de envolver toda a comunidade nas mais diversas manifestações culturais”, disse o presidente da Câmara, porque e como referiu, “queremos e precisamos de uma cultura mais participativa e participada. E neste processo de definir um caminho feito de políticas e práticas culturais e educativas que nos leve a um concelho mais forte culturalmente começámos por envolver desde logo os agentes culturais do concelho”, com os quais “ouvimos e debatemos ideias, e refletimos sobre o trabalho a desenvolver no âmbito das políticas culturais”, considerando que “a construção de uma programação abrangente e inclusiva só será possível com a colaboração e o espírito de iniciativa de todos, com o envolvimento directo da comunidade”.

“A Carta Cultural é, desde logo, o resultado desse processo de escuta, de discussão e de colaboração com os agentes locais”, referiu Luís Paulo Costa, considerando que “é, sobretudo, uma carta aberta ao futuro, um documento dinâmico, em evolução contínua e sempre receptivo aos contributos dos parceiros e das institucionais culturais do concelho. O envolvimento de todos foi importante até aqui chegarmos, e continuará a ser daqui em diante”, pretendendo-se que “a Carta Cultural reflicta a visão estratégica que temos para Arganil, assente na cooperação, no envolvimento e no comprometimento de todos na construção de uma comunidade mais receptiva à prática artística. A Carta que nos propusemos elaborar assume-se, antes de mais e acima de tudo, como um meio de promoção e de valorização da identidade cultural arganilense” e, “essa circunstância, exigiu da nossa parte especial atenção às especificidades do nosso território durante a sua construção”.

Moderado por Sara Brighenti, do Plano Nacional das Artes, o Seminário contou ainda com a apresentação de dois painéis, nomeadamente “Cultura e Participação”, com Rita Aquino, em representação da Universidade Federal da Bahia (Brasil), e Hugo Cruz, criador, programador cultural e investigador, tendo ainda um painel alusivo às “experiencias de práticas artísticas participantes”, dinamizado por Filipa Francisco, coreógrafa, Graeme Pulleyn, encenador, e Hugo Seabra, em representação da Fundação Calouste Gulbenkian e que foi moderado pelavice-presidente da Câmara Municipal, Paula Dinis, terminando com um workshop, “Trabalho em rede hoje, caminhando para outros mundos possíveis”, dinamizado por Josep Borrás, da Basket Beat (Barcelona) e que contou com a participação de agentes locais culturais, sociais e educativos do concelho de Arganil.