Na passada quinta-feira, a Santa Casa da Misericórdia conjuntamente com médicos e colaboradores do Centro de Saúde de Arganil, recordaram e prestaram sentida homenagem aos saudosos colegas dr. Manuel Enéscio de Almeida Gama e Sebastião José Machado Gonçalves, que foram vítimas do trágico acidente de viação ocorrido o ano passado.
“E a maneira mais cristã de prestarmos homenagem a estes nossos irmãos”, como disse o vigário paroquial, padre Albino Camati, foi a celebração da missa em sua memória, na igreja da Misericórdia e que teve a presença das famílias, colegas e muitos amigos, presidentes das Câmaras Municipais de Arganil e Góis, respectivamente Luís Paulo Costa e Rui Sampaio, e mais autarcas; presidente do conselho de administração da Administração Regional de Saúde do Centro, Rosa Marques; presidente do Secretariado Regional de Coimbra da União das Misericórdias Portuguesas, António Sérgio Martins; representantes das Misericórdias de Arganil e Góis, Associações de Bombeiros, IPSS.
“São pessoas boas que fazem com que a comunidade esteja aqui reunida, (…) serviram de exemplo para a comunidade. É importante que a saudade se mantenha em nós”, disse ainda o padre Albino, e que, no final da Eucaristia, essa saudade não deixou de ficar perpectuada também com o descerramento da placa evocativa dos homenageados no renovado edifício do Hospital de Beneficência Condessa das Canas, da Santa Casa da Misericórdia de Arganil.
“Que nunca a memória nos abandone”, como foi referido neste momento “muito emotivo para todos nós” do descerramento da placa (pelo filho do dr. Manuel Gama e pela viúva de Sebastião Gonçalves), “em memória de Manuel Gama (médico) e Sebastião Gonçalves (motorista), dedicados funcionários ao serviço do Centro de Saúde de Arganil” e que lhes foi dedicada por todos os “colegas e órgãos sociais da Misericórdia de Arganil”.
Em nome da família do dr. Manuel Gama, o filho Manuel, disse que “ao fazerem uma homenagem (a seu pai) assim tão digna, nada melhor do que na casa a que dedicou algumas décadas da sua vida, onde cuidava de toda a gente com todo o carinho. E agora é muito especial para nós ver esse carinho ser retribuído e que nos resta agradecer”.
“Hoje é um dia triste e de saudade para todos nós e muito em particular dos funcionários do Centro de Saúde de Arganil”, disse depois e em representação dos colegas, a dr.ª Armandina Moutinho, salientando que “quer o senhor Sebastião, quer o Gama, foram dois colaboradores exemplares que connosco sempre trabalharam”, e referindo-se particularmente ao dr. Manuel Gama, disse que “dedicou a sua vida ao Centro de Saúde de Arganil e à população do concelho de Arganil”, mas também de concelhos limítrofes, nomeadamente de Tábua e Oliveira do Hospital, “que o procuravam pelo excelente clínico que era, e pela excelente pessoa que era. Quanto ao senhor Sebastião, apesar de não ser funcionário, era funcionário da Câmara Municipal que gentilmente nos tinha cedido para nosso motorista, só encontro um adjectivo para ele, que era um homem bom, afável, disponível, educado. Era um homem prudente”.
A dr.ª Armandina Moutinho, referindo-se ainda ao dr. Manuel Gama, do qual “é mais difícil falar”, disse que “o Gama dispensa qualquer apresentação, mas merece que fale dele, era aquilo que todos nós sabemos, uma pessoa disponível, afável, uma pessoa que não sabia dizer não. Uma pessoa com quem eu sempre pude contar enquanto coordenadora do Serviço de Urgência Básico de Arganil. O Manuel Gama era o meu pilar em termos profissionais. (…) O Gama estava sempre pronto para tudo. E com a partida deles e da forna como foi, ficámos todos muito tristes. Eles levaram um pouco de nós e também nos deixaram um pouco deles. E foi esse pedaço deles que ficou connosco que faz com que hoje estejamos aqui todos”, terminando por agradecer à Santa Casa da Misericórdia de Arganil, aos seus órgãos sociais, ao anterior provedor, professor José Dias Coimbra, e ao actual, professor António Carvalhais da Costa, ao director-geral, dr. Nuno Gomes, “que desde o primeiro momento e quando lhe pedi a igreja da Misericórdia para que hoje fosse celebrada uma missa, de imediato se disponibilizaram para que fosse possível esta homenagem, que eu acho que foi muito bonita. Obrigado Gama, obrigado senhor Sebastião, com um abraço de todos nós”.
O presidente da assembleia geral da Santa Cada da Misericórdia de Arganil, professor José Dias Coimbra, depois de recordar tantos médicos, tantos funcionários que conheceu, “também conheci bem o Gama, era um santo, não fazia mal”, reconhecendo ainda que o “homem bom que foi o Sebastião. (…) Que estejam em paz e que sejamos dignos, nós todos, destes dois homens que estamos a homenagear”.
A presidente da Administração Regional de Saúde do Centro, solidarizou-se com a dor das famílias dos homenageados, mas também dos cidadãos do concelho, agradecendo a ambos o trabalho que desenvolveram e, pela merecida e justa homenagem prestada, deixou o seu obrigado “em nome do Ministério da Saúde e do Serviço Nacional de Saúde, que é de todos nós”.
“Estarmos aqui a falar de Manuel Gama e de Sebastião Gonçalves é pensar nas traições da vida, porque isto foi uma traição, morrer-se tão jovem”, disse o provedor da Santa Casa da Misericórdia, António Carvalhais da Costa, exaltando depois os homenageados, a sua vida e obra “e que saíam os dois para a serra para tratar dos utentes e traiçoeiramente perderam a vida, pelo que a Misericórdia não podia ficar indiferente a esta homenagem, feita no edifício certo, no Hospital, (…) que vai abrir em breve, com a ajuda da senhora presidente da ARS. Contamos consigo, senhora presidente, para a abertura desta Unidade. Está pronta, só precisamos da sua ajuda”, terminando por referir que “este edifício, renovado, vai perpectuar também a memória destes homens que se dedicavam à saúde”.
O presidente da Câmara Municipal de Góis, Rui Sampaio, depois de deixar palavras de pesar pela perda dos homenageados, referiu-se particularmente (e muito emocionado) “ao Necas”, recordando que “há 40 anos começámos com o futebol em Góis, recordo-me do executante da Filarmónica, recordo-me do dirigente associativo, recordo-me do político e se hoje estou neste cargo, também o devo a ele. Perdemos um homem bom, que não olhava a quem para fazer o bem”.
“Deixaram-nos dois homens bons, que tive o privilégio de conhecer muito bem”, disse o presidente da Câmara Municipal de Arganil, Luís Paulo Costa, considerando que “a sua perda nos transtornou muito a todos nós” e que “este acontecimento também demostra a natureza da nossa fragilidade. Às vezes parece que nos esquecemos dessa circunstância e depois, por um acaso tão ridículo, tão estúpido, (…) mas a verdade é que naquele momento, essa pequena circunstância fez toda a diferença e provocou uma fatalidade”, aproveitando o momento “para também me associar à dor da família do dr. Gama e do Sebastião”, agradecendo e enaltecendo “a todos aqueles que se lembraram de promover esta digníssima homenagem que é por demais merecida e o seu significado fica também patenteado pela presença de todos vós e pela dignidade que emprestaram a este momento, que é simbólico, mas também carregado de grande significado e de grande sentimento”.
