Como referimos na última edição, estão na fase final as obras de remodelação do antigo Hospital de Beneficência Condessa das Canas, que representam um investimento de cerca de três milhões de euros e que a Santa Casa da Misericórdia pretende que venha a ser integrado na Rede Nacional de Cuidados Paliativos.
E ao fazer este avultado investimento e mantendo a crença que o Estado honrará os seus compromissos de financiamento, a Misericórdia de Arganil quis continuar a cumprir os desígnios do velho (e histórico) Hospital transformando-o numa moderna e modelar Unidade de Cuidados Paliativos para o colocar ao serviço de quem precisa e dar resposta a uma grave lacuna que existe na região.
Mas não só a região, “Portugal tem uma enorme falta de cuidados paliativos para ajudar os mais doentes a suportar as agruras da sua condição e não se compreende que não se encontre maneira de apoiar financeiramente quer a obra, quer a abertura e entrada em funcionamento de uma Unidade situada numa área em que quase não há alternativas”, como reconheceram ao candidatos a deputados do Partido Social Democrata pelo Círculo Eleitoral de Coimbra durante a breve visita que, na segunda-feira, fizeram ao antigo Hospital, como o têm reconhecido também outras forças políticas que ali têm passado, considerando mesmo “o que está aqui em causa não é só Arganil é toda esta região”.
E no final da visita, o director geral da Misericórdia de Arganil, Nuno Gomes, deu a conhecer aos candidatos a deputados do PSD, que “a nossa primeira preocupação é que este Hospital, que está a ser reconstruído num âmbito do Programa Modelar II que foi suspenso e em nós assumimos um conjunto de compromissos e responsabilidades e que entendemos que devem ser respeitadas pelo sector Estado”, acrescentando ainda que “a nossa pretensão é que estas camas, entre 36 e 40, possam ser alocadas rapidamente à Rede Nacional de Cuidados Paliativos, especialmente num momento em que esta Rede está a dar os primeiros passos e em que há necessidades muito significativas na região e no país. E nós temos aqui condições geográficas e de logísticas que podem colmatar este deficit no Distrito de Coimbra, nomeadamente no Alto Distrito”.
“Ou há uma mudança de modelo de articulação entre o Sector Estado e o Sector Social ou este Sector vai entrar em colapso financeiro a muito curto prazo de tempo”
E aproveitando a presença dos candidatos sociais democratas, Nuno Gomes disse ainda que “a mensagem que queríamos deixar é que ou há uma mudança de modelo de articulação entre o Sector Estado e o Sector Social ou este Sector vai entrar em colapso financeiro a muito curto prazo de tempo”, dando a conhecer o aumento de custos “que tem sido muito elevado” e considerando que o Compromisso de Cooperação 2021-2022 “é uma mão cheia de nada. Estamos mais dependentes do Sector Estado, estamos mais nas mãos de alguns interesses cristalizados na função pública, mas com uma mensagem que estamos perante um Estado mais humanista. É o contrário, e aquilo que se pede a todos os candidatos é que tivessem a sensibilidade e o bom senso de alertar, nos espaços próprios, para esta realidade, que o sector social e cooperativo vai entrar em colapso. (…) Temos sérias dúvidas se não houver por parte do Governo, seja ele qual for o eleito, a sensibilidade para alavancar a sustentabilidade destas instituições, vamos ter muitos problemas sérios ao nível da desertificação do território, do desemprego, do envelhecimento. Não há volta a dar”.
“É necessário que haja um olhar muito específico e muito direccionado por parte do Estado e do Governo para com esta instituição porque, no fundo, é quem se está a substituir e a prestar o auxílio à população, a trabalhar em prol dos utentes e da comunidade, em prol da população de Arganil”
A cabeça de lista dos candidatos a deputados sociais democratas por Coimbra, Mónica Quintela, depois de palavras de apreço para o presidente da Câmara de Arganil, Luís Paulo Costa, “que tanto tem feito por Arganil e pelas suas instituições, designadamente pela Santa Casa da Misericórdia”, que considerou “uma instituição prestigiadíssima que presta um trabalho absolutamente imprescindível a toda a população e sem a qual não se pode prescindir”, referindo por isso que “é necessário que haja um olhar muito específico e muito direcionado por parte do Estado e do Governo para com esta instituição porque, no fundo, é quem se está a substituir e a prestar o auxílio à população, a trabalhar em prol dos utentes e da comunidade, em prol da população de Arganil”.
Mónica Quintela, depois de ter também palavras de particular apreço para com o provedor, “temos um provedor que é uma instituição nacional nas Misericórdias, o professor José Dias Coimbra, que tem um trabalho relevantíssimo e respeitadíssimo e que nunca baixou os braços em prol da defesa da Santa Casa, da população e das causas que abraça, como a deste Hospital Condessa das Canas e que tem sido um lutador incansável para que esta unidade de Cuidados Paliativos veja a luz do dia e possa servir o escopo a que e propõe, ajudar a população numa área que está altamente carenciada e que o Estado não dá vazão”, pelo que considerou também “fundamental que o Sector Social, que as Misericórdias possam fazer esta cobertura de rede de prestação de Cuidados Continuados, dos cuidados que são de um humanismo, de uma especificidade para responder às necessidades das pessoas que deles carecem”.
O médico Vítor Almeida, das Relvas (Teixeira) e candidato a deputado, não deixou de enaltecer “o peso desta instituição também para a nossa diáspora que está em Lisboa (e até no estrangeiro) por manter aqui os nossos idosos e familiares e nós pudermos vir cá visitá-los”, referindo-se ainda “aos nossos arganilenses que estão muito organizados nas colectividades e que veem na Santa Casa da Misericórdia (e na Câmara Municipal) claramente um parceiro estratégico sentindo que os familiares estão em boas mãos” e, no que se refere aos Cuidados Paliativos, considerou que “estamos noutro nível e noutro patamar, o financiamento é diferente, é muito mais exigente, mas temos aqui uma obra que vai ser para o futuro e que vai servir não só estes concelhos, vai ser para o distrito. É fundamental”.
“Num país em que a morte medicamente assistida foi recentemente aprovada um Estado que, se quer dar ao respeito, não pode deixar de, paralelamente a essa opção individual, assegurar a condição para quem quer morrer com dignidade”
O presidente da comissão política concelhia do PSD de Arganil (e também presidente da Câmara Municipal) Luís Paulo Costa, começou por referir que “na minha opinião, o que deve ser aqui o foco essencial é que vimos num país em que a morte medicamente assistida foi recentemente aprovada um Estado que, se quer dar ao respeito, não pode deixar de, paralelamente a essa opção individual, assegurar a condição para quem quer morrer com dignidade”, considerando por isso que ,“para essa morte com dignidade, os Hospitais de Cuidados Paliativos são absolutamente essenciais. O Estado devia ter assumido esse princípio, que é um princípio moral de garantir uma opção a par com uma solução”.
E porque “a solução neste momento ainda não existe”, Luís Paulo Costa não deixou de considerar também “que esta resposta que a Misericórdia pode vir aqui a assegurar no futuro é absolutamente essencial. Portanto, o desafio que queria deixar aos candidatos é que nos ajudem efectivamente a dar um passo forte na constituição da Rede de Cuidados Paliativos e a integrar este Hospital, este equipamento que será certamente um equipamento de referência nessa Rede. Isso é essencial não apenas para o concelho, mas para a região. E quando falo da região, falo das pessoas, das famílias que, tantas vezes ficam nesta angústia, precisam desta resposta”.
“Um desafio aceite, com certeza que sim”, foi a promessa deixada por Mónica Quintela, referindo que “é fundamental para nós que haja uma Rede de Cuidados Paliativos para humanizar uma fase tão difícil da vida das pessoas e que não pode efectivamante ficar para trás. (…) É estruturante à dignidade da pessoa humana, é do mais piedoso, do mais misericordioso, do mais justo, do mais humanista que pode haver, acarinhar e cuidar dos mais vulneráveis, de quem está numa situação a necessitar dos Cuidados Paliativos”.