BENFEITA (Arganil): 180 anos do nascimento de Simões Dias

Os familiares Mário Vale e Arlindo Simões descerraram o busto de Simões Dias no monumento fúnebre que, no chão sagrado, é dedicado ao ilustre benfeitense

No dia 5 de Fevereiro, fez 180 anos que nasceu na Benfeita o poeta José Simões Dias.

E “não podia a Editorial Moura Pinto – Espaço Manuel da Costa, deixar de comemorar esta data tão significativa da nossa terra, do nosso concelho, da nossa região”, como escreveu Carlos Dias, e por isso, no sábado, dia 3, com “um momento de exaltação do quanto pode o amor à nossa terra”, foi mais uma vez homenageado o poeta, professor, político, deputado e benfeitense, com o descerramento do seu busto no monumento funerário, em sua memória, no cemitério da Benfeita.

“Reveste-se de uma importância extraordinária comemorar os 180 anos do nascimento de uma grande referência da Benfeita”, considerou Carlos Dias, antes do descerramento do busto de Simões Dias (para o qual foram convidados os familiares Mário Vale e Arlindo Simões), na presença da vereadora da Câmara Municipal, Elisabete Oliveira, do presidente da Junta de Freguesia, José Pinheiro, presidente da Editorial Moura Pinto, Filipe Costa, e outros responsáveis, o patrono do Espaço Manuel da Costa, José Francisco Rolo (presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital), mais familiares e amigos.

“Estamos a prestar uma homenagem a um benfeitense apaixonado pela terra onde nasceu em 5 de Fevereiro de 1844, que transportou a sua terra no coração e que a divulgou como ninguém”, disse Carlos Cerejeira (da Editorial Moura Pinto), salientando ainda ser uma “homenagem importantíssima a quem se deve também o feriado de 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”, considerando que Simões Dias foi um “homem de dimensão local e nacional” e a quem deveria ser conferido “o galardão de Património Imaterial da Cultura”.

Era “dever de gratidão”, como considerou Carlos Cerejeira, para recordar depois que “estamos aqui porque também nesta terra existem pessoas com paixão como Simões Dias, é o Carlos Dias, a quem devemos tudo isto“, pedindo para ele uma salva de palmas, sem deixar de referir também “a Isabel Amaral  e outras pessoas anónimas” que trabalharam e apoiaram esta homenagem agora prestada ao poeta benfeitense.

“Em tempos em que se põem em causa os valores que amamos, que esta perpectuação seja sempre um foco de luza na defesa dos valores da liberdade”, disse o presidente da Editorial Moura, para depois o presidente da Junta de Freguesia, dar as boas-vindas a todas as pessoas que vieram participar e agradecer ainda à Editorial Moura Pinto por “esta homenagem a Simões Dias, que levou o nome da Benfeita pelo mundo fora”

A vereadora da Câmara Municipal, não deixou de agradecer também à Editorial Moura Pinto por “esta homenagem a Simões Dias”, cujo “exemplo de vida nos responsabiliza a todos na defesa dos valores da liberdade, da democracia, (…) o que muito nos orgulha por ter um benfeitense Património do Concelho de Arganil”.

E neste momento de “quanto pode o amor à terra”, Carlos Dias não deixou de agradecer (e reconhecer) depois e mais uma vez a colaboração da família do homenageado, da Junta de Freguesia e da Liga de Melhoramentos para a concretização da homenagem, ao escultor Albano Martins (que ofereceu o busto agora inaugurado) e, a finalizar a cerimónia, Mariana Lagarto leu um poema de Simões Dias, escrito na sua terra, no Natal de 1863 e que tem por título.

Duas pombas

Que lindo vai no céu com voo igual
Brincando descuidoso
De pombas um casal!
Que lindo! Como em êxtase de gozo
Se beijam num suspiro
De amor delicioso!
Às vezes quando em sonhos eu deliro
Na tépida bafagem de um ar,
Que então respiro,
Parece estar-lhes vendo a linda imagem
Mirando-se nas cores
Da cândida plumagem…
E quem ao ver de afago tais primores
Não fora ali matar
A sede dos amores?
Fui eu, pombas do céu, que ao despertar
Do sonho, em que eu andava
Matei, quem me matava,
Em vossos lindos seios de invejar!…
Fui eu, que namorado de vos ver
Diante de meus olhos
Me fui calcando abrolhos
Aos vossos pés morrer!
Fui eu, que num excesso de demência,
Quando o olhos erguíeis para os céus
Do vosso excelso trono de inocência
Vos tombei num inferno, anjos de Deus!
Não pudestes erguer-vos! Eu também
Matando – aos vossos pés caí!…
Agora porque espero, se ninguém
Me pode dar vida, que perdi?!…

E depois deste poema, uma viagem autográfica do autor foi feita durante o almoço que se seguiu (magnificamente servido pelo Cantinho do Açor), durante o qual foram também cantados os parabéns a José Francisco Rolo pelo seu aniversário comemorado no dia anterior e que agradeceu, “é um privilégio estar entre vós e regressar à Benfeita, uma terra lindíssima (…) e viver esta homenagem a Simões Dias”, tendo ainda palavras de particular apreço para com Carlos Dias, que “faz tudo benfeit(a)o e que muito admiro” e que, “apesar do cinzentismo que se vive, hoje tivemos um lindo dia de luz. (…) Carlos és o melhor de todos nós”, terminando por recordar ainda Fernando Valle, o seu filho e neto (recentemente falecidos) e por deixar “um abraço a todos”.

E em breves palavras e a terminar, Manuel da Costa considerou que, com esta homenagem, “estamos a enaltecer a dignidade, o prestígio, a herança que recebemos de Simões Dias” que, como um dia escreveu, “A Liberdade, única salvação dos povos”.