A população de Benfeita, que foi fortemente afectada pelos incêndios de 15 e 16 de Outubro de 2017, vai arrancar eucaliptos e mimosas em dois locais da freguesia, num trabalho em conjunto com a Junta de Freguesia e o Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta (ICNF).
Na nota de imprensa enviada à agência Lusa, a organização assegura que “O cenário pós-fogo promete, se nada for feito, um futuro desastroso e não muito distante em relação a novos fogos, redução da biodiversidade e de recursos naturais”, alertando que as duas espécies exóticas vão rebentando “por todo o lado e em grande número, mesmo em zonas onde antes não se encontravam, como a reserva natural da Mata da Margaraça”.
A organização sublinha que as consequências “de tão grande expansão da presença destas espécies significa uma intensificação de períodos de seca e falta de água, uma paisagem com alta propensão a incêndios, menor biodiversidade e menor regeneração natural”.
Na nota de imprensa, deixam ainda um alerta para o Governo que, caso não dê condições às autoridades locais para gerirem estes problemas, “o Centro de Portugal poderá estar mesmo a caminho da autodestruição”.
Na segunda-feira, dia 15, a comunidade local vai ajudar o ICNF a remover eucaliptos no interior da Mata da Margaraça, sendo que os trabalhos de remoção de espécies exóticas estendem-se também a um terreno privado de um habitante local, que o disponibilizou para o efeito.
“Há muita gente daqui com interesse em participar”, disse à agência Lusa Inês Moura, um dos membros da organização da iniciativa, realçando que não se trata apenas de uma participação da comunidade que ali vive e que está mais consciente das questões da ecologia e da preservação da biodiversidade, mas também dos habitantes locais, que “estão felizes por se estar a arrancar os eucaliptos”.
A grande maioria dos habitantes naturais de Benfeita “está muito preocupada com a possibilidade de novos fogos”, face ao aumento da densidade dos eucaliptais após o fogo, mas também alertam para a possibilidade de falta de água.
A iniciativa assume também uma dimensão simbólica de alertar o Governo para a necessidade de intervir nesta área, esclareceu.
“Mesmo que as juntas consigam conversas com as pessoas e os proprietários dêem autorização para arrancar os eucaliptos, as juntas não têm meios e, à medida que o tempo avança, vai ser mais difícil de os arrancar”, referiu, sublinhando que já encontram eucaliptos com mais de 1,6 metros de altura, um ano após o fogo.
A iniciativa, referiu Inês Moura, será apenas um primeiro passo, sublinhando que a população vai continuar a arrancar eucaliptos na zona.
“Acho que ninguém pode parar de o fazer. Não se pode parar, senão o país transforma-se num deserto muito rapidamente”, concluiu.
A iniciativa arranca às 09:30, com um encontro na capela à saída dos Pardieiros, no concelho de Arganil.