Na passada segunda-feira, 21 de Março, nos Cepos, foram assinalados o Dia Internacional das Florestas e o Dia Mundial da Árvore, com a realização de uma iniciativa conjunta entre o Município de Arganil, o Grupo Jerónimo Martins e a Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC) dedicada ao projecto “Floresta Serra do Açor”.
“Projecto de intervenção florestal mais bonito que está a ser implementado no nosso País”, como considerou o presidente da Câmara Municipal, Luís Paulo Costa, salientando ainda que “a melhor forma de assinalar o Dia Mundial da Árvore e o Dia Internacional das Florestas” é acompanhar e executar alguns trabalhos do “Floresta Serra do Açor”, financiado pelo Grupo Jerónimo Martins em cerca de 5 milhões de euros, no âmbito do mecenato, pretendendo, até ao ano de 2025, plantar 1 milhão e 841 mil de árvores de espécies maioritariamente autóctones, mais resilientes e mais resistentes ao fogo, revitalizando, dessa forma, uma área total de 2.500 hectares, composta maioritariamente por terrenos baldios. Entretanto a partir do ano seguinte e até 2061, ou seja, após as operações de (re)arborização, será concretizado o “tão necessário e importante trabalho” de gestão integrada do espaço florestal. No primeiro ano de implementação, este projecto permitiu a plantação de mais de 300.000 árvores, nas encostas da Serra do Açor, pretendendo, num espaço temporal de 40 anos, “valorizar e transformar de forma inovadora e integrada a paisagem do concelho de Arganil, devastada pelos incêndios de Outubro de 2017”.
Marcada pela ausência do Secretário de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território, João Paulo Catarino (que por motivos familiares não pôde comparecer), a sessão começou com o presidente da Câmara Municipal a dizer, “sejam bem-vindos à Floresta da Serra do Açor”, para fazer depois um pouco de história sobre as origens do projecto que surgiu no âmbito do “rescaldo dos incêndios de 15 e 16 de Outubro de 2017 e a sua materialização não é indissociável da vontade, da audácia, da visão, da confiança e do fortíssimo sentido de responsabilidade social de Pedro Soares dos Santos, presidente e administrador delegado do Grupo Jerónimo Martins”, dando depois a conhecer que o programa de intervenção foi elaborado pelo eng. Nuno Santos, tendo contado com a colaboração pontual dos engenheiros Érica Castanheira e Abel Simões e com a supervisão e acompanhamento dos Professores José Gaspar, Beatriz Fidalgo e Raúl Salas, da Escola Superior Agrária de Coimbra.
O projecto pretende “a reintrodução de espécies folhosas autóctones, mais resistentes ao fogo e com grande capacidade de sobrevivência e autorregeneração”, constituindo-se como um “modelo florestal sustentável, que concilia as componentes de produção, de protecção dos solos, dos recursos hídricos e da biodiversidade, de antecipação das consequências das alterações climáticas e de valorização paisagística da região”, disse Luís Paulo Costa, referindo ainda que, em articulação com a ESAC, “considerou-se avisado diversificar opções técnicas, quer no que concerne às espécies a utilizar, quer quanto ao modo de condução” e, nesse sentido, “85% dos povoamentos serão mistos”, nomeadamente, “pinheiro-bravo e sobreiro; pinheiro-bravo e carvalho-alvarinho; pinheiro-bravo e carvalho-negral; pinheiro-bravo e castanheiro”, prevendo-se “o corte raso do pinheiro-bravo ao 15.º ano de vida, deixando apenas as espécies autóctones, enquanto que os “remanescentes 15% de povoamentos puros serão de castanheiro, medronheiro, carvalho-negral, carvalho-alvarinho, pseudotsuga e bétula”, terminando por manifestar o seu “apreço e o reconhecimento” em relação ao parceiro Escola Superior Agrária de Coimbra e, “especialmente”, aos Professores José Gaspar, Beatriz Fidalgo e Raúl Salas, deixando ainda “uma especial palavra de apreço profissional e pessoal àquele com quem, de entre os três, mais tenho trabalhado: o Professor José Gaspar”.
O director executivo agro-alimentar do Grupo Jerónimo Martins, António Serrano, depois de lembrar que o projecto resultou “da coragem, após uma grande tragédia, que atingiu esta região, do presidente da Câmara de Arganil em desafiar a Jerónimo Martins para se juntar aqui ao concelho e ajudar a revitalizar deste território”, referiu que actualmente se encontram “na segunda campanha e o compromisso da Jerónimo Martins é com um projecto de longa duração, são 40 anos, são 15 anos de investimento”, tendo criado para o efeito a Associação Serra do Açor, que “é a responsável pela implantação deste projecto e pela sua gestão. Queremos tornar esta floresta com vida económica e social, pois a nossa acção vai muito para além daquilo que é a plantação e recuperação da floresta, queremos que seja um projecto de desenvolvimento económico, que traga novas actividades, para termos aqui um desafio pela frente que nos anime bastante”.
“Para quem desconhece, o Grupo Jerónimo Martins encontra-se a celebrar este ano, 230 anos, sendo um Grupo de grande longevidade e por isso não temos medo de projectos de longa duração e estarão cá outros, certamente, para darem continuidade a este projecto que é multigeracional”, acrescentando ainda, “queremos que este projecto possa ser repetido por outras entidades, por outros concelhos, por outras empresas e que a Jerónimo Martins tenha saúde económica e financeira para poder fazer projectos noutras zonas do país”, pois “não é apenas a actividade económica que geramos, também temos esta nobre missão de ajudar o nosso país naquilo que é o desenvolvimento do nosso território” e, no que se refere à “acção de hoje, temos a obrigação de prestar contas do que está a ser feito aqui na Serra do Açor”.
Em representação da Escola Superior Agrária de Coimbra, o vice-presidente do Instituto Politécnico de Coimbra, José Gaspar, começou por dizer que “não gostamos de participar em acções de plantação, mas sim em acções de gestão e manutenção de povoamentos”, explicando que “o que vamos fazer aqui, hoje, são pequenas intervenções nas áreas que já foram objecto de plantação e, portanto, fazer aquele acompanhamento e aquilo que é necessário para proporcionar as melhores condições para que aquelas plantas se mantenham viáveis naquele território”, afirmando ainda que a mensagem que fazem questão de passar neste género de acções, é que “quando plantamos, assumimos um compromisso de médio e longo prazo, o que requer que todos nós estejamos disponíveis para ir àquele espaço fazer o que é necessário para manter aquelas árvores e plantas, e assegurarem a sua função. E como não temos na nossa população, muito o hábito desse tipo de gestão, é muito importante que estas acções tenham esse foco, e que se centrem em mudar as caldeiras, limpar a vegetação envolvente, fazer pequenas podas nas plantas, e no caso das folhosas, teremos que as acompanhar muito de perto nos primeiros anos de vida, senão vão ficar arbustos e árvores que não cumprem a função que pretendemos”, terminando por afirmar o “financiamento com a Jerónimo Martins é ao longo de vida do projecto, tem um foco grande nas actividades que estão a decorrer, mas tem também, nesse montante de financiamento, uma parte muito significativa para as operações que são necessárias ao longo da vida destes povoamentos”.
No final da sessão seguiu-se uma visita de campo e uma sessão de trabalhos numa das zonas de intervenção do projecto “Floresta Serra do Açor” e que consistiu em operações de desramação e poda, limpeza de caldeiras, controle de vegetação ao redor das jovens plantas, colocação de tutores e controle de vegetação invasora, coordenadas e acompanhadas pelos técnicos do Município de Arganil e por docentes da ESAC e, com o programa elaborado para estas comemorações, pretendeu-se essencialmente “evidenciar as operações de manutenção que, por serem menos populares do que as acções de plantação, sobejamente propagadas nesta data, são tantas vezes desconsideradas”, mas não podemos esquecer que, como disse o presidente da Câmara Municipal, “estamos a construir um futuro muito para além de nós! Um futuro em que o nosso território estará mais forte, resistente e preparado para as adversidades”.