Com objectivos políticos as greves em Portugal

Raul Lopes Alves

O surto de greves, algumas selvagens, que reina em Portugal, traduz-se num contexto de diversão, não só porque o país se encontra em situação de insolvência, mas também lembrando a célebre década de setenta do último século, com o país em estado de graça num jardim de cravos e rosas, em que se brincava às greves, com o celeiro cheio, onde havia que tirar. Só que hoje é bem diferente: o celeiro está vazio e de portas fechadas.

O triste cenário torna-se num atentado à dignidade e aos sentimentos dos desempregados e dos reformados com baixas pensões, que se encontram à mercê do destino sem espaço para reivindicar. Porém, o fenómeno tem um rosto, chama-se fanatismo partidário, que domina os sindicatos e daí os faz perder a razão.

Sé é certo que dentro deste perímetro o direito à greve está consagrado na Constituição da República, não pode ser desrespeitada, também é verdade que só poderá ser usado em último recurso.

Por isso, seria bom que todos tivessem o raciocínio real de que os portugueses estão a comer pelas mãos da troika, razão para que todos nos empenhemos com trabalho e não com guerra fria e ódio, para que o mais breve possível ela, a troika, possa abandonar o país.

Com efeito, nestas horas amargas por que as classes baixas estão a passar, se o Governo da Nação se amedrontasse com as greves e com o ruído das arruadas e no dia seguinte batesse com a porta, perguntamos: «onde isto iria parar?». Só um demente poderá ignorar, pois não tenhamos ilusões de que as greves vão transformar o país num oásis.

Finalmente abre-se aqui um espaço para lamentar que numa democracia consolidada usarem uma liberdade tão baixa, a ponto de alguns populares mal formados, cívica e eticamente, fazerem ultimatos ao Governo e ao Presidente da República, gestos e atitudes que já não têm nada a ver com a crise, mas talvez queiram arranjar lenha para se queimar e a todos nós.

 

Raul Lopes Alves