Há pouco mais de meia dúzia de anos teria sido impensável a Europa assistir ao que na atualidade assistimos, ou seja, um conflito bélico no coração do continente europeu.
No entanto, o principal e único responsável pelo estado de guerra que atravessamos já está no poder há cerca de vinte anos, e durante esse tempo foi tolerado pelos líderes europeus, e até escolhido como parceiro económico.
Esse responsável é Vladimir Putin, ex-espião do antigo KGB, os temíveis serviços secretos soviéticos que durante a guerra fria assassinaram inúmeros cidadãos por esse mundo fora.
Putin foi, e é, o pior produto que o regime comunista soviético produziu, com a particularidade de, simultaneamente, ser um revoltado pela queda do muro de Berlim e a extinção do regime antidemocrático e totalitarista que sempre foi a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Mas se Putin é o responsável pela guerra que hoje faz correr sangue no continente europeu, não é menos verdade que os governantes de vários países da União Europeia têm culpas nesta situação, pelo facto de, durante largos anos, terem aceitado estar nas mãos dos produtos energéticos russos.
A Alemanha é um desses exemplos, pois depende em cerca de 2/3 do gás e petróleo russo, com a agravante de alguns dos seus antigos governantes fazerem parte das cúpulas das principais empresas nacionais russas nessas áreas energéticas.
A Ucrânia, desde 2014, que tem estado sob a mira do Kremlin, ao mesmo tempo que o seu território, com mais de 40 milhões de habitantes e com uma área superior à Península Ibérica, tem sido retalhado ao longo dos últimos anos, com a conivência dos restantes países europeus.
Primeiro foi a Crimeia, em 2014, e depois as duas recentes províncias de Luhansk e Donetsk, que Putin, unilateralmente, elevou agora ao estatuto de Repúblicas Populares Socialistas.
Mas Putin fez isso tudo, e fará mais, porque a Europa é dos cobardes, tal como o ditador russo o é, ao ter atacado um País muito mais frágil, que apesar de independente e soberano, nem sequer viu ser-lhe declarada Guerra antes do início das hostilidades.
Um ato de guerra premeditado e preparado com antecedência, num momento em que o mundo se preparava para sair da Pandemia e com a economia abalada pelo aumento da taxa de inflação, suportada, em grande medida, pelo aumento dos custos energéticos.
Para além disso, Putin teve a ousadia de justificar a invasão da Ucrânia para proceder à “desnazização” do regime democrático desse País, como se o seu Presidente, Volodymyr Zelensky, não fosse ele próprio filho de pais Judeus, tendo perdido membros da sua família no Holocausto, e outros, como o caso dos avôs, combateram contra as tropas de Adolf Hitler.
Contudo, a reação da União Europeia foi tímida, e por arrasto a resposta da NATO, composta por muitos dos Países que compõem a mesma União Europeia, resumiu-se a ameaças vagas, com as quais Putin brinca, pelo menos para já.
É bom que se recorde que a Ucrânia abdicou das suas armas nucleares, aquando da implosão da União Soviética, porque países como a França, os Estados Unidos e mesmo a Rússia, deram garantias de que a soberania desse território seria respeitada, algo que não está a acontecer.
Tal como outros ditadores, se Putin não for parado agora, o conflito irá alastrar a outros Países Europeus, designadamente do antigo Bloco de Leste e que hoje são democracias, como a Polónia, a Roménia ou a Lituânia.
É por isso que a Europa não pode ser dos cobardes, mesmo que isso tenha um custo.
É por isso que a Ucrânia não pode ser abandonada à sua sorte, pois está em jogo não apenas a vida de um Povo, mas antes todas as Democracias Ocidentais e estas não foram feitas por cobardes, mesmo que nelas tenham o direito a existir. Uma palavra final para o exemplo do Português António Guterres que teve a coragem de enfrentar a delegação russa na última reunião do Conselho de Segurança da ONU, e durante a qual as forças russas lançaram o primeiro ataque sobre a capital Ucraniana – Kiev.
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)