EDITORIAL: Uma nova etapa, com os mesmos valores e os mesmos princípios

Estamos já em 2023, um novo ano na vida deste Jornal e já lá vão 122 anos que parece que passaram a correr. Em cada nova etapa devemos encarar o futuro de frente, mas sem nunca apagar o passado, com os seus momentos de glória e fortuna, mas de igual modo, com as suas derrotas e desgostos.

Todos os passados são assim, um misto de altos e baixos e, no final, o que verdadeiramente interessa é a continuidade da Obra que deverá ser sempre associada a uma Instituição e aos que por ela dedicaram o seu tempo e esforço.

Revisitar os 122 anos d’ A Comarca de Arganil não deixa de ser uma tarefa hercúlea e que não cabe nas linhas deste Editorial, mas recordar o último ano não será nada de tão difícil, e a esse propósito ocorreram dois momentos que marcaram 2022 e que continuarão a condicionar o novo ano.

Por um lado, tivemos, e temos, a Guerra na Ucrânia que veio abalar os pilares fundamentais das democracias Ocidentais, fazendo perigar a construção da União Europeia e demonstrar, mais uma vez, a enorme dependência dos Estados Unidos da América que, apesar de tudo, é a única potência a continuar do lado certo da História, sendo essencial para a Europa.

Com este conflito bélico e decorrente deste, mas igualmente das consequências resultantes da Pandemia da COVID-19 que abalou o mundo, especialmente em 2020 e 2021, veio a crise económica e social, cujos impactos estão apenas agora a começar.

Uma crise que fez suscitar um maior aprofundamento da análise ao papel das fontes energéticas, com o constante dilema entre fomentar o recurso a energias limpas, bastante mais caras entenda-se, ou manter um modelo económico assente nas energias fósseis que continuam a ser mais baratas e, aparentemente, ainda longe de estarem esgotadas.

A nível nacional o destaque foi para a maioria absoluta do Partido Socialista de António Costa, mas que não tem evitado a derrapagem pública no número de casos e “casinhos” que têm alimentado o debate nacional, quando outros assuntos mais importantes existem, como é a necessidade de definição de um desígnio para o País, tendo em vista sair do marasmo em que este se encontra.

Contudo, A Comarca de Arganil não pode deixar de saudar, a um nível mais regional, a reabilitação do antigo Hospital de Beneficência Condessa das Canas, uma obra que teve o seu início quase em simultâneo com a Pandemia e que decorreu ao longo desta, com as vicissitudes que daí resultaram.

Uma obra que se inscreve no vasto currículo do Prof. José Dias Coimbra, no que a projetos concluídos diz respeito, seja no Concelho ou seja na Região.
É por isso que tenho vontade de me rir quando, infelizmente, vejo alguns saltitantes, colocarem-se na ponta dos tamancos, por meia “pataca” de nada realizado.

Fico triste pela falta de memória coletiva, em alguns casos deliberadamente apagada, para que não se recorde o quanto esse Homem fez, e tem feito, por esta Região, procurando-se encontrar um qualquer pecadilho para que se belisque a sua vasta e extensa Obra.

É verdade que nem todos gostarão dele, mas apenas as pessoas que não são indiferentes conseguem tal feito e, José Dias Coimbra, é um desses exemplos, suscitando paixões e ódios, estes últimos, muitos deles de estimação!

É por isso que A Comarca de Arganil tem no seu repositório histórico um vasto acervo que permite revisitar os últimos 122 anos da Região da Beira Serra, e nele se poderá encontrar o nome de José Dias Coimbra associado a projetos como a Mata da Margaráça, a Quinta do Mosteiro e o Cinterbei, a Aldeia Histórica do Piódão e os prémios que no passado ganhou, a eletrificação e alcatroamento de tantos Km por essas aldeias espalhadas pelas serranias, o Rali de Portugal, os primeiros saneamentos, os primeiros carros de recolha do lixo, o ensino público no concelho de Arganil, o processo da Escola Secundária de Arganil, entre tantas coisas realizadas.

Mas se isso não fosse suficiente, ainda foi capaz de lhes acrescentar, a instalação de inúmeras empresas para este concelho, dando origem, num determinado momento, há criação de cerca de mil postos de trabalho o que não é, nos tempos que correm, de menor importância.

Lançou as primeiras zonas industriais do Concelho e que serviram de ponto de partida para as recentes ampliações e modernizações que se impunham para rasgar horizontes.Foi membro fundador da Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP) e seu Vice-presidente, lutando para que a sede dessa organização viesse para Coimbra.
Fez parte do reduzido grupo de fundadores da Associação de Informática da Região Centro (AIRC) e seu Secretário-geral durante vários anos, sendo um dos seus pontos altos nesse cargo o empenho que colocou no lançamento da moderna sede dessa associação.
Assumiu ainda, o lugar de Vice-presidente do Centro de Estudos e Formação Autárquica (CEFA), granjeando amigos e forjando amizades entre os principais Partidos Políticos do arco da governação.
Promoveu a criação de uma oferta de equipamentos sociais, nomeadamente por parte das Instituições de Solidariedade, com destaque para a Misericórdia de Arganil, lançando e concluindo o Lar Comendador Cruz Pereira, o Centro de Dia, o Serviço de Apoio Domiciliário, o Centro de Atividades e Tempos Livres e todas as estruturas de apoio.
Mais tarde complementados com o Hospital Dr. Fernando Valle, onde estão os Cuidados Continuados Integrados, sem esquecer a Unidade de Medicina Física e de Reabilitação, antes conhecida como CLIFIARGUS.
Juntou-lhes ainda, todo o investimento no parque desportivo da Misericórdia, com as suas piscinas, o campo de futebol, sem esquecer a reabilitação da Igreja desta Instituição e o seu órgão de tubos.
Foi, diretamente, responsável pela criação do Núcleo de Arganil da APPACDM que funciona em terrenos da Misericórdia, ou mesmo a Casa da Criança de Arganil da Fundação Bissaya Barreto que resultou, inicialmente, da parceria entre as duas entidades, Misericórdia e Fundação.
Revelou-se crucial na construção do novo Centro de Saúde, inaugurado em 2005, mantendo, com outras figuras como o Dr. Carlos Teixeira, a continuidade no centro da Vila destes serviços e, dessa forma, assegurou a manutenção de uma parte da vida no seu casco histórico (imaginem o que teria sucedido se assim não tivesse sido).

Contudo, e apesar dessa atuação, não impediu que a Misericórdia fosse enganada pelo Estado (caberá aos tribunais decidir sobre essa matéria)!
Ao longo de mais de trinta anos recuperou a Mata das Misericórdias tendo-a transformado numa homenagem viva a este pentasecular movimento, embora alguns teimem em continuar a chamar-lhe a Mata do Hospital, certamente presos a um tempo passado em que este, agora magnífico espaço, era utilizado para depósito de lixo hospitalar.
Hoje, a Mata das Misericórdias é um espaço de lazer e cultura mas, simultaneamente, um baú de preservação da memória da Região e que o digam os inúmeros largos e percursos dedicados sempre a figuras e entidades da Beira Serra.

Fundador dos Lions Clube de Arganil, dirigente dos Bombeiros Voluntários Argus, fundador do Rancho Infantil da Casa do Povo, dirigente desta quando era realmente uma Casa do Povo. .

Conseguiu que o Cineteatro Alves Coelho fosse entregue à Misericórdia e negociou, em nome desta, a sua recuperação, por duas vezes recorde-se, existindo fundadas expetativas de que o atual executivo camarário seja capaz de cumprir aquilo que o primeiro falhou, sob outra liderança ressalve-se.

Não posso ainda, deixar de recordar as inúmeras condecorações que recebeu, com destaque para a Comenda da Ordem do Infante, atribuída em 2010 nas cerimónias do dia de Portugal, pelo então Presidente da República, Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva, seguindo-se-lhe, nesse mesmo ano, a medalha de ouro do Município de Arganil.

E em 2011, na cerimónia de encerramento do X Congresso Nacional das Misericórdias, Portuguesas realizada na Mata das Misericórdias, foi condecorado com a medalha de benemérito desse movimento.

Guardo para o fim, o seu papel no ressurgimento d’A Comarca de Arganil, destacando-se o seu capital humano para mobilizar vontades e que estas foram essenciais para recuperar este título, contra muitos, diga-se em abono da verdade, restabelecendo-o como uma marca cobiçada por alguns, e são muitos os processos que tiveram de ser dirimidos para que não sucumbisse a vontades estranhas.

O Prof. Coimbra, como eu o trato, não me é indiferente, e muitos menos o será para uma vasta plêiade de Mulheres e Homens desta Beira Serra, aguardando, com expetativa, quiçá, uma biografia com parte das suas estórias e vivências, para que não seja esquecido…mesmo que alguns não gostem.

Cabe-nos manter o rumo, os princípios e os valores que o Prof. Coimbra nos incutiu! Feliz Ano Novo!

NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)