
“É hora de mudar” e 43 anos depois de governação socialista, a Lousã mudou com a vitória de Vítor Carvalho, que liderava a lista do Partido Social Democrata candidata à Câmara Municipal.
“Foi uma vitória histórica, foi uma vitória expressiva”, como foi considerado com o Partido Social Democrata a conquistar também a maioria das freguesias do concelho, “é uma conquista de um enorme orgulho, mas que nos traz também uma grande responsabilidade, estamos conscientes da responsabilidade que nos foi atribuída”, considerou o eleito presidente da Câmara Municipal no momento da vitória acrescentando ainda que ,“com muita humildade, estamos prontos para começar a trabalhar, com rigor, com dedicação, com entrega e com a mesma vontade de ouvir e fazer acontecer”.
“Depois de dias intensos, de estrada com muitos quilómetros percorridos a ouvir as pessoas, conhecer as suas preocupações, mostrar os meus valores e a forma como acredito que podemos construir um futuro melhor, juntos”, como referiu o eleito presidente da Câmara Municipal, “esta vitória é de todos nós. De cada pessoa que acredita que é possível fazer diferente” e por isso, dos novos (três) rostos saídos das eleições autárquicas 2025 na região que servimos, o primeiro a ser entrevistado pelo nosso jornal foi Vítor Carvalho, que traz consigo a experiência autárquica como vereador da oposição e o amor à sua Lousã.
A COMARCA (AC) – “É hora de mudar”, foi o slogan escolhido para a sua campanha e depois de mais de 40 anos de governação socialista, o que é que vai mudar?
VÍTOR CARVALHO (VC) – O que é que nós queremos mudar? Nós queremos, sobretudo, empreender uma nova dinâmica na Lousã. Entendemos que estes 43 anos seguidos de governação de um único Partido, por vezes pode turvar as visões de quem dirige o concelho e entendo que a equipa que reuni para governar agora nos próximos 4 anos, é uma equipa que vem com vasta experiência em várias áreas, quer na área da gestão autárquica, quer na gestão privada, a experiência também em associativismo, com uma ligação forte à terra e temos energia suficiente para mudar muita coisa.
AC – Nomeadamente…
VC – Queremos começar por reunir com as equipes técnicas da Câmara, com todos os funcionários, perceber em que é que podemos também ser úteis para agilizar ali os procedimentos da autarquia. Depois queremos, sobretudo, começar pela Zona Industrial, queremos implementar ali uma nova Zona Industrial, alargá-la, melhorá-la, torná-la mais atrativa de forma a que permita captarmos investimento. Entretanto, queremos também e num projeto que até já está feito e eu acompanhei durante os anos no executivo de que fiz parte, tratar do Mercado Municipal, qualificá-lo, melhorá-lo de forma a conseguirmos potenciar todo o comércio tradicional do conselho. Temos também o Centro de Alto Rendimento, um edifício que existe na Lousã e que queremos negociar com o Governo, é um edifício do Governo, para dar resposta, sobretudo, às actividades de desporto de montanha, como o Trail e o BTT na Serra da Lousã. Temos ainda o Campo de Férias para crianças e jovens por forma a dar uma resposta nas pausas lectivas a todas as famílias e que serão em Foz do Arouce. Temos identificado o espaço e já falámos, informalmente, porque ainda não conseguimos fazer contactos formais só a partir da tomada de posse, com quem o dirige e acho que conseguimos chegar a um acordo interessante e, além de muitas outras coisas, temos a paragem do Metro na Zona Industrial de Padrão que continua a faltar, mas já falei com o Ministro das Infraestruturas que ficou também com essa preocupação para resolver. E gostaríamos de ter uma nova ligação a Serpins, gostaríamos de pôr Serpins mais próximo do centro da vila e queremos ter um olhar muito especial para com todas as freguesias, queremos torná-las também mais dinâmicas, mais próximas, dar-lhe mais autonomia para que as pessoas sintam que o Poder Local está mesmo próximo delas. E para já e no imediato é tudo isto que queremos mudar.
AC – A sua experiência como vereador permite, naturalmente, ter uma visão mais global do e sobre o concelho?
VC – Sim, fui vereador de 2017 a 2021, estive sozinho, foi um percurso mais complicado, era o único vereador eleito pelo PSD, mas deu para começar a perceber o funcionamento da autarquia, o funcionamento das freguesias, o funcionamento todo do concelho, perceber as dificuldades, os problemas que as pessoas também nos faziam chegar nas reuniões de Câmara públicas. Naturalmente que ainda teremos todos muito a aprender, mas estamos cá para isso e contamos também com a ajuda das equipes técnicas da Câmara e estou certo que nos vão ajudar e agora, este último mandato, já com dois vereadores também nos permitiu abordar outros temas, trocar mais impressões, discutir, criar uma sinergia diferente entre nós.
AC – Mas foi sempre um vereador que não obstaculizou a acção do executivo camarário capaz de reconhecer o que estava bem feito e de interesse para as pessoas e para o concelho?
VC – Naturalmente que sim, porque em primeiro lugar, mesmo apesar de visões diferentes, estavam os interesses do concelho e do bem-estar das pessoas. E não posso deixar de reconhecer que muito foi feito no caminho percorrido pelo presidente Luís Antunes. O Teatro Municipal, na questão das zonas industriais, da ligação à Estrada da beira, isso foi sendo feito, mas acho que na questão da captação de investimento a sério para a Lousã faltou ali um bocado mais da acção, acho que foi aí que falhou.
AC – Por isso a mudança na governação do Município?
VC – A Lousã sempre foi um concelho mais virado para o Partido Socialista, mas nós quando começámos a andar na rua fomo-nos apercebendo que as pessoas estavam disponíveis para acreditar numa nova dinâmica, conseguimos contactar com elas, conseguimos perceber quais eram os seus anseios, as faltas e aquilo que elas precisavam para se sentir melhor na sua terra. Fomos também ao encontro dessas mesmas necessidades, tentámos pô-las no papel, temos essas preocupações, temos muitas sugestões que fomos recolhendo que queremos implementar no terreno, às vezes até coisas simples que podem ser de execução imediata e acho que é isso que também vai fazer a diferença. Já tive a oportunidade de passar por todo o concelho, já acompanhei duas ou três situações que merecem alguma atenção e agora queremos é começar a trabalhar.
AC – E para já quais são os problemas prioritários que urge resolver?
VC – Temos vários, mas a grande preocupação são obras que não dependem só de nós, teremos um conjunto de situações que desde o primeiro dia estão já na agenda mas que não nos podemos comprometer a executá-las de imediato, outras que ainda se prendem com coisas básicas como pequenos arruamentos, arranjos de estradas, sem esquecer também que temos mesmo de conseguir captar investimento para fixar cá os nossos jovens, as pessoas e criar-lhes melhores condições para cá ficarem, porque como eu dizia às vezes, por brincadeira, eu não quero uma Lousã para velhos porque senão ficamos todos velhos e ficamos isolados, precisamos de tornar a Lousã numa Lousã para todos, para os mais jovens para que sintam que vão ter condições, tal como eu, de criar investimento ou simplesmente conseguir um emprego na terra onde nasceram e onde querem viver. E esta vai ser sempre a linha orientadora da nossa governação, é atender àquelas situações que notamos que são de facto muito importantes para as pessoas mas, sobretudo, lutar sempre para criar melhores condições para todos, conseguir captar mais investimento e permitir que as pessoas possam decidir ficar na Lousã.
AC – Mas para permitir a fixação dos mais novos, das pessoas, não deixa de ser necessário haver também qualidade de ensino, emprego…
VC – A Lousã tem um ensino de excelência, desde o secundário ao profissional, a Escola da Floresta e até a Escola Nacional de Bombeiros, portanto alguns dos jovens quando acabam os cursos, hoje têm possibilidade de ficar na Lousã, porque eles são o futuro, é neles que assenta o futuro e é neles que queremos apostar e, para isso, vamos ter algumas políticas de envolver mais a comunidade educativa com as empresas, tentar fazer essa simbiose e penso que isso vai gerar frutos, sem esquecer que temos que adaptar as suas formações às realidades do concelho. E isso é um trabalho que embora possa demorar mais algum tempo, mas é um trabalho em que queremos participar, dar a nossa sugestão e naquilo em que nós podermos ter uma voz mais activa, de certa forma não é o impor, mas o dirigir a actuação dessas escolas para aquilo que nós sentimos que é uma falta no concelho.
AC – Há desemprego no concelho?
VC – No momento não há muito desemprego no concelho, mas voltando à criação de novos postos de trabalho, não posso deixar de me referir ao projeto que está a ser delineado há alguns anos de expansão da Zona Industrial do Alto Padrão e que vai permitir modernizá-la, vai permitir torná-la mais atrativa, porque uma das grandes críticas que faço ao passado foi o facto de não se ter feito investimento nesta Zona Industrial. Nem na aquisição de terrenos, nem tão pouco na melhoria do seu aspecto e é preciso no imediato dar-lhe uma nova roupagem e eu, na rua, a captar investimento e estou convencido que, dentro de pouco tempo, começaremos a ter frutos deste trabalho.
AC – Mas para isso não deixam de ser necessárias também boas vias de comunicação?
VC – A Lousã não é que esteja mal servida, mas já poderia estar melhor, nomeadamente com a velha alternativa à Estrada da Beira, esse é outro dos pontos em que vamos ter que continuar a discutir agora com o Governo, bem como uma nova ligação Lousã-Serpins e que depois chegasse a Góis num traçado mais simples e mais rápido, temos já o Metro funcionar e que vai ser uma boa ajuda para alavancar o nosso território, mas agora é preciso criarmos infraestruturas que permitam às pessoas perceber que a Lousã tem qualidade de vida, tem uma Serra magnífica apesar dos incêndios, tem condições de trabalho, tem uma habitação e portanto acho que a Lousã tem potencial enorme de crescimento e não tenho dúvida nenhuma que vai crescer.
AC – Mas falta a EN 342…
VC – Seria inserida na ligação Lousã-Serpins de que falei, mas não posso deixar de referir que a 342 é fundamental para toda esta nossa zona e não vou esquecer que, com o apoio dos meus colegas presidentes de Câmara, vamos continuar a fazer a força necessária junto do Governo para que reconheça que essa estrada é uma prioridade absoluta para os nossos territórios.
AC – Aproveitando até os fundos do PRR que ainda estão por gastar?
VC – Sim, ou é agora ou pode nunca ser. Temos que acelerar o passo nos projectos, porque aliás é uma das formas mais fáceis das Câmaras poderem fazer obra e para isso vamos ter um gabinete dedicado a tudo o que são fundos comunitários, reajustar ali alguns serviços e não podemos deixar fugir nada, quer seja para a Câmara Municipal, quer seja para as autarquias de freguesia. Queremos criar também um gabinete de apoio para as associações socioculturais e desportivas, os nossos Bombeiros, vamos-lhes a dar o valor que de facto, têm, que é isto que lhe falta muitas vezes. Dar-lhes ainda a utilização gratuita do Teatro Municipal permitindo que fiquem com a bilheteira, uma forma de apoio indireto, mas é uma forma de sentirem o nosso apoio, o nosso reconhecimento pelo trabalho voluntário e dedicado que desenvolvem, particularmente os seus dirigentes. Como também não esqueceremos de apoiar todas as instituições sociais do concelho, que fazem um trabalho meritório, único, em favor dos que mais precisam. E isso diz tudo.
AC – O que é que falta na Lousã?
VC – Falta sobretudo conseguirmos trazer gente, porque as pessoas vêm das suas terras à Lousa, vêm à Serra e o comércio cá em baixo, a zona urbana da vila e das freguesias, ou não é visitada, ou é visitada de passagem. Não conseguimos cá fixar quem nos visita e para contrariar isto temos que encontrar uma solução, a Câmara, os privados. Falta-nos ter também o Centro de Saúde a trabalhar com outro serviço, com uma maior resposta, uma resposta permanente e esse também é uma das lutas que vamos travar, porque a Lousã já tem dimensão, fiz já alguns contactos também com o Governo, quero ser dos primeiros a resolver este problema e, para isso, a autarquia também estará disponível para contribuir, se assim for necessário, dentro do razoável, para prestar esse serviço às populações, porque tendo saúde, educação, habitação e emprego, eu penso que não temos de ter medo de ninguém no que toca a captar investimento e a captar pessoas para o nosso território, que queremos que seja mais vivo, seja mais dinâmico e que permita às pessoas apostarem na Lousã para viver, porque é uma vila com as características naturais e geográficas fantásticas, porque estamos perto de Coimbra, porque estamos perto dos acessos às auto-estradas e conseguimos aí ter alguma vantagem perante outros concelhos.
AC – Além do programa cultural do Teatro Municipal, vão continuar a apostar forte nas Marchas Sanjoaninas, nos Festivais Gastronómicos que já são uma referência do concelho?
VC – Naturalmente que sim, vamos continuar a fazer, podemos dar aqui ou ali uma nova roupagem, uma nova dinâmica, este ano queremos ainda fazer uma Festa de Natal aqui no concelho, algo que não existe há anos para as crianças, para as pessoas, criar aqui um espírito diferente, também uma festa de final de ano para a população e que sejam pólos de atracção, de visitas, sobretudo nas épocas festivas natalícias.
AC – Para tudo isto e tal como o fez, vai contar também com a colaboração da oposição?
VC – Quero contar com o apoio da oposição, com uma oposição que seja construtiva, tal como eu fiz durante 8 anos. É claro que podem haver situações em que vamos divergir, eu vou entender isso, mas quero contar com o apoio e, conhecendo as pessoas, acredito que estarão mais numa posição de contribuir para a ajudar na defesa dos interesses do concelho. Vamos conseguir trabalhar para um objetivo comum que é a nossa terra e, com ou sem pelouros, os vereadores da oposição serão ouvidos sempre em todas as situações e espero que eles venham com a mesma vontade.
AC – Qual é a mensagem que quer deixar para os lousanenses?
VC – Quero sobretudo dizer aos lousanenses que nós vamos ser um executivo de todos, vamos trabalhar para todos, vamos ser um executivo de porta aberta, queremos ouvir as pessoas, porque só ao ouvir é que a gente consegue, de facto, governar para elas. E isto vai ser algo que nos vai reger durante o mandato e esperamos que nunca nos desviemos desta nossa linha de pensamento, para bem dos lousanenses, para bem da Lousã.

