ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DA LOUSÃ: “É positivo o balanço de uma missão que considero estimulante e muito importante”

No final do seu último mandato como presidente da Câmara Municipal, Luís Antunes, em entrevista ao nosso jornal, não deixa de considerar que, apesar de “não plenamente satisfeito, gostaria ainda de ter conseguido concretizar mais objectivos, resolver mais algumas situações”, mas mesmo assim não deixa de considerar que, ao longo dos quase 12 anos à frente dos destinos do Município, “é positivo o balanço de uma missão que considero estimulante e muito importante, contribuir para a qualidade de vida e para resolver os problemas das pessoas e do concelho da Lousã”.

E Luís Antunes adianta ainda que “entendo que temos um trabalho que é muito significativo, muito positivo, especialmente se tivermos em conta, não só neste mandato, mas nos outros mandatos, os períodos que vivemos. Desde logo, num primeiro momento ainda, as questões de intervenção da troika e todas as questões decorrentes e todas as contingências que o país atravessou. Depois também e para além de outras vicissitudes, as questões de 2017, com os incêndios florestais e com tudo aquilo que foram os impactos diretos e indiretos. E depois, mais recentemente, a pandemia que foram, digamos assim, momentos para além de outros, que de facto foram desafios novos, imprevistos, alguns deles que, claro, causaram desafios adicionais à gestão. E a necessidade de novas respostas e de alocar meios a situações novas. E, portanto, se tivermos em conta essas várias vicissitudes, acho que foi um trabalho que tem sido bastante positivo naquilo que diz respeito à valorização do concelho”.

A COMARCA (AC) – Mas nem tudo está feito?

LUÍS ANTUNES (LA) – O nosso sentido de missão, a nossa dedicação à causa e a nosso gosto em trabalhar pela Lousã, leva-nos a querer sempre fazer mais e querer sempre fazer melhor. E há alguns objectivos que não foi possível concretizar, outros que tardaram mais do que nós gostaríamos. Por exemplo, o Sistema de Mobilidade do Mondego, o MetroBus que, como eu costumo dizer, não deveria ser necessário tanta luta e despender tanta energia para conseguir alcançar um objetivo tão importante e que, de facto, já devia estar concretizado há algum tempo. Felizmente, agora vamos ter essa perspectiva temporal, no final do mês de Junho, Julho, de podermos ter finalmente em funcionamento o Sistema de Mobilidade do Mondego que é um projeto muito importante, não só para o concelho, mas para os concelhos que por ele são servidos e para a região, que vem qualificar este território, vem conferir outras condições de atratividade e de competitividade e que, claramente, é um objectivo pelo qual lutámos muito, lutámos mesmo muito, ao mesmo tempo que não deixa de ser também uma forma de fazer justiça porque, de facto, foi um tempo de espera muito grande para todos nós, para a população e que, claramente, de alguma forma afectou o concelho e os concelhos vizinhos. O trabalho está todo feito nesse sentido para que no mais curto espaço de tempo, o serviço comece a funcionar entre Serpins e Coimbra, depois eu diria que no final de 2026, início de 2027, com a amplitude total de todo o serviço com a conclusão da designada linha do Hospital e dentro da cidade de Coimbra.

AC – Um serviço que poderia ser alargado a outros concelhos, nomeadamente a Arganil, ou isso está fora de questão?

LA – Não, eu acho que vai acontecer. Não consigo dizer qual será o prazo em que se concretizará, mas vai acontecer. O serviço do MetroBus será ampliado a outros concelhos.

AC – Mas enquanto não acontece, em termos de acessibilidades rodoviárias como é que está o concelho da Lousã?

LA – Continuamos a lutar por uma alternativa à Estrada da Beira e por uma ligação ao IP3 através da Estrada da Beira vencendo, especialmente, aquele constrangimento que existe entre Vila Nova de Poiares e IP3. E consideramos que é muito importante, a todos os níveis, mas especialmente no que diz respeito à ligação ao IP3 para a vida e para a dinâmica empresarial que existe nestes concelhos. Essa continua a ser uma luta, mas apesar do facto ser positivo para o concelho e região o facto de deixarem de haver portagens na A13 e de continuamos a ter outras questões aqui no concelho como a melhoria de algumas acessibilidades no âmbito da 342, em termos de mobilidade as duas lutas que temos em termos intermunicipais e regionais é a alternativa à Estrada da Beira e a ligação ao IP3. Infelizmente, a luta não tem tido resultados desejados para vencer a batalha com a resposta que a região merece e que aquela situação, que é pertinente, deveria ter.

AC – Os transportes, as boas acessibilidades, aliados ao emprego, às boas condições de vida podem contribuir também para a fixação dos jovens no concelho que, com certeza, não deixa de ser uma preocupação do executivo municipal?

LA – Temos vindo a dar passos naquilo que diz respeito ao trabalho com a juventude, a nível municipal, com uma série de mecanismos, de incentivos e de estímulos que temos de programas e de projetos próprios, outros desenvolvidos em parceria com as entidades locais, entidades parceiras. Temos feito um trabalho para apoiar as unidades empresariais existentes no concelho a desenvolvem-se, e têm-se desenvolvido e criado mais empregos, que é uma questão importante para a fixação dos nossos jovens. Temos procurado também atrair novas unidades que permitam dar essa perspectiva de empregabilidade, temos alguns objetivos atingidos, não todos aqueles que queríamos, mas estamos a dar passos importantes nesse sentido.

AC – Mas para isso não deixa de ser necessário também mais e melhor habitação?

LA –  Também estamos a dar passos no que diz respeito à habitação, nomeadamente à habitação a custos acessíveis, que era um outro objetivo que tínhamos, mas que de facto só agora se inicia a concretização, mas estamos a lançar duas operações de habitação a custos acessíveis que significam no conjunto cerca de 70 fogos e, portanto, também uma resposta importante no que diz respeito à fixação de pessoas, em particular dos jovens, o emprego, a habitação.

AC – E ainda uma grande aposta na educação?

LA – Aquilo que diz respeito ao parque escolar, nomeadamente no que se refere ao número de lugares em creche, é um trabalho desenvolvido em parceria com a Misericórdia, apostámos na requalificação do parque escolar e na sua ampliação, com maior expressão na Escola Secundária que já está finalmente em obra, um objetivo importante pelo qual lutámos muito e que gostaríamos que tivesse acontecido mais cedo. Uma obra de cerca de 8 milhões de euros e que vai conferir condições mais estimulantes, mais adequadas ao ensino de hoje e do futuro e, portanto, também numa perspetiva de possível crescimento populacional. Os nossos alunos têm aqui o ensino até o 12.º ano, depois vão para a Universidade e temos vindo a trabalhar também com a Politécnico de Coimbra no âmbito do projeto Lousan School, a Escola da Floresta, um processo que sabemos que não é imediato, é de médio e longo prazo e que nós queremos que venha a progredir para que, no futuro, possa ter aqui uma valência de ensino superior e outras ofertas formativas que permitam aos jovens dar continuidade aos seus estudos, à sua formação para além daquilo que é o 12.º ano. Não podemos esquecer ainda o robustecimento do projeto da Escola Profissional, que é hoje também uma oferta diferenciada e complementar ao ensino dito normal e que tem uma presença forte na intervenção do desenvolvimento do concelho.

AC – Além da formação, os jovens não deixam de ter perspectivas de emprego e de habitação?

LA – Embora com médias baixas, não ignorarmos que há desemprego no concelho, mas o que verificamos é que tem havido criação de empregos e registamos com muito agrado que, de facto, as unidades empresariais no concelho têm crescido, se têm desenvolvido, se têm afirmado também ao nível da criação de emprego.

AC – No desporto, o concelho tem sido berço de muitos campeões em diferentes modalidades?

LA – Ao nível das infraestruturas e de equipamentos para o desporto, tudo aquilo que tem a ver com a qualidade de vida e com a vivência das pessoas, em particular dos jovens, temos procurado atingir alguns objetivos no sentido de criar essas condições e essa atratividade que permita aos lousanenses aqui continuem e outros que possam vir engrossando a nossa população. E não posso deixar de salientar que a Lousã tem, de facto, sido berço de muitos campeões em diferentes modalidades, naquilo que é capacidade de atingir objetivos em termos individuais e coletivos, ao mesmo tempo que não posso deixar de registar e destacar ainda o bom desempenho que os clubes nas diferentes modalidades têm apresentado, também na formação, na evolução que têm feito, nos muito bons resultados obtidos e que é para nós um motivo de grande orgulho. São também embaixadores da Lousã, levam longe e honram o nosso concelho.

AC – E os idosos?

LA – As nossas IPSS, a Misericórdia, fazem um trabalho meritório no apoio aos nossos idosos através das várias respostas nas valências que têm ao dispor da população sénior e, para além disso, temos o nosso Plano Municipal Sênior e projetos que têm em vista a manutenção dessa população nas suas residências e que tem ainda condições de autonomia, tendo ainda como objetivo o investimento saudável de manter a socialização e a interação entre essa camada da população. É um sector a que damos muita atenção porque entendemos que a população sênior, não é pelo número, é pelo por aquilo que já representou e representa na sociedade e que deve ter essas condições de vivência com maior dignidade e com maior presença activa na nossa comunidade. Eu diria que somos um concelho verdadeiramente inclusivo.

AC – O concelho está bem servido em termos de saúde?

LA – Temos tido uma luta grande, mas felizmente tem tido algum resultado. Ainda não é aquele que é desejado ao nível dos recursos humanos, dos cuidados de saúde primários e, neste momento, estamos a concretizar também uma obra importante que estava prevista desde o início, mas que só agora é que é possível concretizar, o segundo edifício do Centro de Saúde para poder ampliar as respostas ao nível dos cuidados de saúde primários e podemos ter aqui também mais especialidades e mais capacidade de resposta à população. Também conseguimos e estamos a trabalhar nesse sentido e no âmbito do trabalho com a ULS Coimbra, trazer para o concelho uma Unidade de Saúde Mental, uma resposta diferenciada e com maior proximidade à população.

AC – Sem cultura não há desenvolvimento e essa tem sido outra das apostas fortes do Município?

LA –  Como disse, tem sido nossa preocupação o bem-estar da população. Mas que não há bem-estar sem cultura. E a Câmara Municipal tem apostado forte na cultura, inclusive com a inauguração daquele espaço que marca a diferença e que é o Teatro Municipal, um investimento muito forte no que diz respeito à sua requalificação e ampliação em termos de obra física, mas que também é um investimento muito substantivo naquilo que diz respeito ao funcionamento e à programação. E entendemos que temos hoje uma oferta de qualidade regular, com vários momentos semanais, diversificada, que significa um investimento importante, mas que nós entendemos que é também um elemento importante para a qualidade de vida e para que as pessoas tenham aqui acesso a bens culturais, que são importantes naquilo que diz respeito às suas vivências, não só para a qualidade de vida, mas também até na condição da atractividade de novas pessoas.

AC – Foi uma obra da total responsabilidade da Câmara?

LA – Foi uma obra da total responsabilidade da Câmara Municipal, para a qual felizmente conseguimos obter um financiamento parcial em termos de fundos comunitários, mas que não deixou de ser também um investimento forte do orçamento do Município, bem como a programação e o funcionamento que é todo suportado pelo Município e que tem permitido enchentes no nosso Teatro. Para além disso e além da requalificação do Teatro, nestes últimos tempos foi a requalificação do Museu Lousã Henriques, a concretização da recuperação da Casa Carlos Reis, mais atrás fizemos a preservação do Castelo, uma obra também importante no aumento do património nacional e, portanto, há um grande investimento naquilo que diz respeito à preservação do nosso património, da nossa história e consequentemente no reforço da oferta, em termos turísticos, do concelho da Lousã, da sua capacidade de atração de novos públicos. E não podemos deixar de registar, com agrado, o aparecimento de novos projectos na área cultural.

AC – Em termos turísticos e pela sua importância, qual tem sido a resposta do concelho da Lousã?

LA – Tem sido, ao longo dos anos, bastante forte e com diferentes momentos, a aposta no turismo que, claramente, tem sido um elemento importante porque a dimensão turística hoje no concelho da Lousã, o número de camas, de alojamentos, de animação turística, de empresas de restauração, tem um número muito considerável e ao dispor de todos aqueles que visitam a nossa Serra da Lousã, as Aldeias de Xisto, os nossos Museus, a componente mais cultural, o próprio rio Ceira, as praias fluviais e aliado a tudo isto a gastronomia e os vários produtos de qualidade e que temos procurado reforçar a notoriedade e a atratividade. A gastronomia, através da realização dos nossos Festivais Gastronómicos, tem sido um elemento que nós temos procurado potenciar no reforço da atractividade do concelho no que diz respeito especialmente ao mercado nacional e um dos principais motivos de deslocação e de atração turística e, sabendo nós dessa importância, temos procurado tirar partido daquilo que é a riqueza gastronómica, a qualidade, bem como do bom desempenho dos agentes da restauração que, de facto, nos conferem essa segurança de qualidade de oferta. E aliado a tudo isto, o Metro que vai trazer um elemento adicional de atratividade, porque para além dos investimentos de iniciativa pública da habitação de custos acessíveis a que já me referi, estão a surgir novos investimentos privados na área da habitação para dar resposta àquilo que tem sido a procura.

AC – Mas aliado à boa gastronomia, não deixam de ser ainda os produtos endógenos, a castanha, a doçaria, o mel?

LA – Há hoje um conjunto de outros produtos dentro da gastronomia, a doçaria local, a panificação, a castanha, o mel que é claramente um produto bandeira, o vinho Foz de Arouce, a broa de Serpins que tem tido um crescimento e uma força também em termos daquilo que é a divulgação do concelho e que resulta de um trabalho em parceria com os produtores, com os agentes económicos numa conjugação de forças e de vontades que, de facto, são muito importantes.

AC – Como importantes não deixam de ser também as empresas e os empresários do concelho?

LA – Sem dúvida, as nossas empresas são referências, são embaixadores da Lousã com marcas fortes em termos internacionais e que nós, e como é nossa missão no Município, também temos procurado dar mais força e ainda reforçar a ligação dessas marcas à própria Lousã, ao próprio concelho. E nós registamos com muito agrado a capacidade empreendedora dos lousanenses e o desempenho dos empresários e das nossas empresas pelo inestimável contributo que dão na empregabilidade, em gerar riqueza pelo volume de negócios, pelo contributo que dão para o desenvolvimento e para a dinâmica do concelho.

AC – A oposição tem sido colaborante?

LA – Digamos assim, de integração de algumas propostas temos que reconhecer que alguns desígnios e alguns objectivos são comuns e, portanto, no essencial tem havido a capacidade de trabalhar em nome do concelho.

AC – “Ecos da Serra, Caminhos de Futuro”?

LA – Eu acho que essa assinatura é muito feliz, porque a Lousã tem conseguido isso mesmo. É que, através da Serra, do seu elemento identitário mais forte que é a Serra da Lousã, tem conseguido trilhar o caminho do futuro e, nesse sentido, não posso deixar de referir que ainda recentemente fomos galardoados com o Prémio Europeu de Paisagem, que é um reconhecimento daquilo que tem sido o trabalho desenvolvido na área da sustentabilidade, no desenvolvimento sustentável e que vem comprovar que o trabalho tem sido bem feito até no âmbito europeu.

AC – Qual é mensagem que deixa para os lousanenses?

LA – Vamos ter tempos bastante desafiantes, a vários níveis e resultantes de diversos factores, mas estou convicto que o concelho da Lousã e os lousanenses, a exemplo daquilo que já foi a resposta que deram relativamente a outros desafios anteriores, a outras situações anteriores, conseguiremos ultrapassar essas possíveis dificuldades que possam vir a surgir, porque teremos condições e capacidade para suplantar esses desafios.

AC – Termina os seus mandatos com a consciência do dever cumprido?

LA – Sim, claramente, acho que saio com a consciência tranquila e do dever cumprido. Gostaria de ter feito mais, gostaria de ter concretizado outros objectivos, mas da minha parte houve sempre uma dedicação plena à causa pública e um compromisso grande de contribuir para a valorização do concelho da Lousã.

AC – Vai deixar a política activa?

LA – A política activa eu diria que, se calhar, vai estar em pausa nestes próximos tempos. Eu gosto da política, gosto de fazer política, gosto de servir e de participar neste âmbito municipal e, acima de tudo, gosto da Lousã.