Fernando Baeta Cardoso do Valle, nasceu no dia 30 de Julho de 1900, na aldeia de Cerdeira, concelho de Arganil. Faleceu em Coimbra em 2004, com 104 anos.
Licenciado em Medicina em Coimbra em 1926, regressa a Coja e exerce a profissão na vila de Arganil como médico municipal, foi demitido por ser opositor ao Estado Novo, mas continuou a dar consultas como ele próprio dizia. Nunca teve consultório seu, dava consultas na Misericórdia de Arganil e por toda a serra do Açor, onde se deslocava até aos lugares mais recônditos, a pé ou a cavalo. Foi um verdadeiro João Semana, aos pobres não levava dinheiro, aos ricos também não porque eram seus amigos.
O ideal maçónico, foi a sua grande referência ética, “A maçonaria é a luz e a República o caminho”. Iniciou-se na loja Revolta e apesar da proibição de 1935, conseguiu evitar que encerrasse, reunindo clandestinamente. Opôs-se ao 28 de Maio de 1926 e viu a tomada de posse de Salazar como “coisa má para Portugal” vieram-lhe dizer que Salazar não regateava benesses a quem o seguisse, recusou o conselho que não pedira, preferiu entrar na Junta de Acção Patriótica o que lhe custou uma detenção no Aljube, de Abril a Junho de 1962.
Foi fiel aos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade. Traçou o campo político onde quis estar – o da democracia parlamentar. Combateu o Estado Novo, partidário republicano na guerra-civil de Espanha, apoiante das candidaturas presidenciais de Norton de Matos (1949) e Humberto Delgado (1958) e em 1973 fundador do Partido Socialista. Com o 25 de Abril considerou encerrada a sua intervenção política activa, dedicando-se à participação cívica, que continuou a exercer activamente. Não aceitou benesses políticas depois do 25 de Abril, mas depois de insistências de amigos, que viam nele uma figura consensual para conter excessos partidários, aceitou ser governador-civil de Coimbra.
Segundo o poeta Miguel Torga, Fernando Valle “teve tempo para ser no mundo a imagem paradigmática do jovem irreverente, do bom chefe de família, do amigo leal, do médico devotado, do político isento, do governante capaz, do cidadão exemplar”.
Foi e será sempre um paradigma de ética republicana, um aristocrata de esquerda, como lhe chamou Fernando Madaíl na biografia que dele fez, aristocrata pelos modos, de esquerda pelos ideais e pela prática de vida.
Créditos: Céllia Lourenço