
Alguns anos atrás, os portugueses deliciavam-se com as aventuras de “Roque Santeiro”, um santo que nunca chegou a ser santo, mas cujo desaparecimento misterioso da localidade de Asa Branca, fez surgir uma fé milagrosa em redor dessa figura.
“Roque Santeiro” era um artesão local que se dedicava a moldar em barro a figura de diversos Santos, mas que, por enfrentar um terrível bando de vilões, chefiado por “Navalhada”, terá sido assassinado na praça da Vila, e em cujo local terá nascido uma frondosa árvore que dava flores muito belas, e cujo odor era o encanto, mas também a perdição, das mulheres de Asa Branca.
Em redor da figura desse falso santo, proliferou e cresceu um comércio religioso, através das inúmeras representações de “Roque Santeiro”, ao qual atribuíam poderes miraculosos e ao qual Homens e Mulheres acorriam para obter as bênçãos aos pedidos que lhe dirigiam.
Mas “Roque Santeiro”, volvidos alguns anos, regressa, pois não tinha sido assassinado e, na realidade, apenas trocou a vida pasmaceira de Asa Branca pela fortuna na grande cidade do sul e a libertinagem que nunca tinha conseguido na sua terra natal.
Obviamente, e encurtando a estória, muita gente não gostou do seu regresso, procurando manter em segredo que o santo milagroso que, afinal, em vez de morto e santificado, estava vivo e de Santo pouco tinha.
Desse lote de personagens, entre tantos atores emblemáticos da TV Globo, destaque para o famoso “Zé das Medalhas” (Armando Bógus), que nem mais nem menos, é o comerciante que mais lucra com a exploração da imagem de “Roque Santeiro”, e ao qual, obviamente, nada convém o regresso do falso santo!
Lembrei-me desta figura de “Zé das medalhas”, apenas e só, porque não deixa de ser cómica a forma como a ganância e o egoísmo encarnam naquela figura, não deixando de nos suscitar o riso, umas vezes mais em surdina, outras vezes em brados estridentes.
Pensava eu que tal novela teria caído no esquecimento, mas do fundo do baú das minhas memórias dei comigo a recordar alguns episódios, onde “Zé das medalhas” nos fazia a todos rir, com a forma, mais ou menos subtil, de vender medalhas de um morto que, na realidade, não estava morto.
Mas não foi apenas por esses episódios cómicos que vieram há minha memória que me recordei do “Zé das medalhas”, foi também pelas pequenas comédias do dia-a-dia que nos vão aliviando a alma e por via destas ainda soltamos algumas gargalhadas.
A última das quais prendeu-se com uma placa, por sinal de inauguração do ainda Centro de Saúde de Arganil, onde, à boa maneira portuguesa, se imortaliza a realização das obras de referência para uma comunidade.
Na tal placa constava o Ministro da Saúde, por sinal do PSD, que presidiu à inauguração e a referência ao então Presidente da Câmara Municipal, por sinal do PS, isto para além da data da cerimónia.
Inexplicavelmente, e alguns dias atrás, a placa desapareceu da parede onde se encontrava!
Apesar dos 4 parafusos se manterem na parede, da placa nem sinal !
Achei estranho e confesso que só pensava no “Zé das medalhas”, e na eventualidade deste ter passado a dedicar-se às placas, ou à sonegação das mesmas.
Pesquisei nas minhas fotos, e lá encontrei as fotos das placas existentes na agora sala de espera das urgências localizadas em Arganil, e na realidade lá estava a placa em falta, junto ao relógio que por lá continua.
Por acaso, tive de regressar, uns dias mais tarde, ao mesmo local e levando as fotos conferi que a placa em falta datava de 4 de Fevereiro de 2005 e o então presidente de câmara inscrito nessa memória era o Eng. Rui Silva, e o então Ministro da Saúde, Dr. Luís Filipe Pereira.
Questionei na receção pelo paradeiro da placa, inicialmente não obtive grande resposta, tal o espanto da senhora que me atendeu, face à natureza da interpelação, mas ao sair a mesma senhora lá me chamou e mostrou-me uma placa que estava retirada e deitada em cima de um armário – Será esta?
Afinal era mesmo aquela e, por sinal, a placa não estava exposta mas também não tinha, ainda, desaparecido.
Hoje, não sei se já regressou ao local, ou se há intenção de a fazer colocar no mesmo espaço, mas uma coisa sei, é que soltei enormes gargalhadas a pensar no “Zé das medalhas” e na sua nova atividade – “Zé das placas”.
Só já falta mesmo o “Roque Santeiro” voltar, o que me parece credível com o enredo dessa telenovela, pois o “Zé das medalhas” que vivia às custas da suposta morte do aparente santo, não gostou nada do seu regresso na ficção!
Se porventura, nos tempos atuais, existir algum regresso de “Roque Santeiro” estará já o “Zé das medalhas” a atalhar caminho para evitar tal venha a suceder, conjuntamente com o “Sinhozinho Malta”, a “viúva Porcina”, o “Padre Honório”, o “Florindo Abelha”, a “D. Pombinha” e o “Beato Salu”?