No passado dia 10 de Outubro, no Cartório Notarial de Góis, foi celebrada a escritura pública de compra e venda entre a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Góis, representada pelo provedor José Serra e pelo tesoureiro, Valentim Rosa, e a firma “N2” – Gestão e Empreendedorismo – Unipessoal, Lda., representada por António Pedro Rodrigues das Neves, pela qual os “primeiros outorgantes” vendem “à sociedade representada pelo segundo outorgante”, o “prédio urbano, composto de edifício destinado a serviços com dois pisos e logradouro, sito no lugar de Caracol, da freguesia de Vila Nova do Ceira” e que se constitui como o antigo Hospital Monteiro Bastos.
E com a venda do antigo Hospital (autorizada, por unanimidade, em assembleia geral da Irmandade da Misericórdia), chegou o fim um processo que, depois de avanços e recuos e cumpridas que foram todas as obrigações legais, desde a situação do direito de preferência a exercer pela Câmara Municipal de Góis, a autorização da Diocese de Coimbra que, como referiu o provedor, “levou 13 meses a dar o seu parecer”, até ao Estatuto das Instituições Particulares de Solidariedade Social, a instituição acabou por fazer a “alienação do artigo U1619 – ex- Hospital Monteiro Bastos”, (…) dado o seu elevado estado do degradação que pode, eventualmente, comprometer o edificado já que, neste momento e devido à falta de recursos financeiros que serão necessários para o efeito, a Santa Casa da Misericórdia de Góis não dispõe da possibilidade de avançar com qualquer projecto para o edifício”, como está escrito na acta da reunião da assembleia geral de 12 de Maio de 2021.
“Tirámos de cima dos ombros mais uma preocupação”, disse o provedor da Misericórdia, porque o “edifício com alguma grandeza”, como alguém o considerou, e bem, desde há muito estava numa situação de abandono e de degradação, mas a sua recuperação obrigava de facto ao investimento de muitos milhares de euros (que não tinha) por parte da Misericórdia e, na salvaguarda dos seus interesses, o único caminho seria a alienação deste seu património, o Hospital Monteiro Bastos, de boa memória, e que lhe foi doado pelo benemérito comendador Joaquim Marques Monteiro Bastos, bem como “avultadas somas de dinheiro, destinadas à construção do Hospital que teria o seu nome e o qual viria a ser inaugurado em 12 de Março de 1916”.
Mais tarde, o Hospital “passou a funcionar como sanatório para tratamento e internamento de doentes com tuberculose, até que essa doença deixou de necessitar de internamento, tendo então os serviços médicos passado para outras instalações. O edifício foi então aproveitado para ali funcionar um Centro de Férias” e, “numa pequena parte do rés-do-chão, um Centro de Dia que, entretanto, também foi transferido para um novo espaço. A partir de então começou a decadência do edifício que tinha uma arquitetura agradável e que agora está num estado de deterioração progressiva, com algumas janelas abertas e manchas nas paredes sinalizando infiltrações de água”.
E por esse facto, os responsáveis da Misericórdia entenderam que a alienação deste património, além de vir ajudar a instituição “numa altura de grandes dificuldades”, como considera o provedor, acaba também por ser a melhor solução (e da qual “irá ser dado conhecimento pormenorizado aos irmãos na próxima assembleia geral”), ao mesmo tempo que não deixa de honrar, com certeza, um pouco da memória e da história do antigo Hospital que, segundo consta, poderá vir agora a ser aproveitado para fins turísticos, “não só pelo seu tamanho, como também pela sua arquitetura com alguma imponência e pela elevada área de terreno que tem defronte”, esperando-se assim que volte a funcionar, em breve e numa outra área, “ao serviço de uma comunidade” e até porque, o bonito edifício “guarda (…) entre as suas paredes, uma História…”.