No passado dia 11, na praia fluvial da Peneda, em conferência de imprensa, foi apresentado o projecto “Voz dos Avós da Nascente até à Foz” e que, desde Setembro de 2022, é dinamizado pelo “Encerrado para Obras” – Associação Cultural e Artística, sedeada na Lousã.
Um projecto de Arte e Envelhecimento Activo, apoiado pela Direcção Geral das Artes e pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e que conta ainda com a parceria financeira e logística das Câmaras Municipais de Arganil, Góis, Pampilhosa da Serra, Vila Nova Lousã, Miranda do Corvo e da Junta de Freguesia de Ceira, bem como das Santas Casas da Misericórdia de Pampilhosa da Serra, Vila Nova de Poiares e Lousã e com a parceria logística de duas dezenas de IPSS, Associações Culturais e de Desenvolvimento Local e Juntas de Freguesia.
Na conferência de imprensa, além de Manuela Fonseca, em representação da Direção Regional da Cultura do Centro, estiveram também representantes dos Municípios e de outras instituições parceiras, tendo o presidente da Câmara Municipal, Rui Sampaio, dado as boas-vindas as presentes e referido ser uma honra receber a apresentação do projecto, enaltecendo a sua importância para “preservamos as memórias culturais do nosso povo, da nossa região, para que elas se perpetuem e possam ser transmitidas às gerações vindouras”.
“Este projeto é muito interessante, uma vez que consegue reunir sete Municípios, diversas IPSS e outras instituições, (…) é extraordinário alguém que consegue olhar para o território, encontrar um ponto em comum e, a partir daí, trabalhar todo um projecto cultural que é também um projecto social”, disse Manuela Fonseca, considerando que “este é dos projetos que a Direcção Regional da Cultura do Centro gosta imenso de ver a acontecer no território”, sem deixar de considerar também que “é extremamente positivo perceber que as Câmaras Municipais entendem a cultura como uma forma de desenvolver o seu território, como um elemento activo e muito importante para o território. A Direcção Regional tem vindo a apoiar os não profissionais e, este ano, conseguimos apoiar 59 entidades”, deixando votos para que “estes projectos continuem”.
O director artístico da Associação que dinamiza o projecto, David Cruz, começou por explicar que as músicas do CD são “um retrato de como era a vida antigamente, (…) o que procurámos aqui fazer foi estabelecer uma ponte entre o passado, o presente e o futuro porque perde-se, muitas vezes, a memória daquilo que nós já fomos e um povo sem identidade, que não sabe de onde vem, também não pode saber para onde vai”, acrescentando que este trabalho tem o nome de “Memórias de Água Doce” porque “as canções têm a ver com o rio” e que a designação “Voz dos Avós da Nascente até à Foz” surgiu também em virtude de ter sido “a nascente que conduziu a todo o projecto, foi a partir dessa voz que criámos o CD”.
E depois de dar a conhecer ainda que o projecto inclui uma exposição de pintura feita por utentes da ANAI, uma entidade sedeada em Coimbra, David Cruz disse que “os seus utentes mostraram-se interessados em integrar o projecto” e, após “visitarem alguns locais emblemáticos do rio e também ouvirem, em primeira mão, as canções ganharam alguma inspiração para produzir um conjunto de 16 pinturas que vão ser mostradas a par com os concertos”, sem deixar de salientar também que este projecto “contribui muito para lutar contra a desertificação deste território” porque e como salientou, “temos aqui um leque de artistas bastante diversificado que, na sua maioria, vive neste território”.
O director artístico da “Encerrado para Obras”, não deixou de dar a conhecer também que “as canções foram criadas por três criadores, a artista plástica e poetisa Maria Laranjeira, o canta autor João Francisco e eu, que fomos as três pessoas que fizemos a recolha das histórias”, manifestando a sua satisfação porque “podemos contactar directamente com as pessoas e receber a energia delas”, o que permitiu uma maior inspiração, referindo que “na recolha de histórias tivemos desde pessoas acamadas, a pessoas que ainda vivem nas suas casas”, ouviram “muitas histórias bastante trágicas, mas também histórias que nos marcaram pela positiva, que têm a ver com o espírito comunitário, as danças, as festas”.
“Tentámos centrar a recolha das histórias na relação com a terra e com o rio”, referiu David Cruz, considerando que, “no fundo, isto é um imaginário colectivo que fomos criando. Acima de tudo, houve muita afectividade”, porque “ao verem as histórias retratadas nas canções, apanhámos pessoas a chorar e a rir e isso foi muito revigorante ver que o nosso trabalho tinha impacto junto da população idosa. É muito importante que haja projectos deste tipo porque falta este tipo de actividade onde os idosos podem participar activamente”, terminando por dar a conhecer que, atendendo a que alguns idosos institucionalizados não poderão estar presentes nos concertos, “vamos fazer uns mini-concertos nas instituições onde tivemos mais presença e onde as pessoas não têm hipótese de ir ver”.
No decurso do projecto, no qual foram investidos mais de 50 mil euros, terão sido realizadas cerca de 60 sessões de trabalho com a população idosa, abrangendo mais de 1.200 pessoas, passando por um total de 26 localidades situadas entre a nascente do rio, na Malhada Chã, e a sua foz, em Ceira, sendo de realçar que 80 seniores dos sete concelhos parceiros participaram de forma mais activa, integrando os coros das canções do disco, sendo que alguns deles, durante os concertos de apresentação, vão participar ao vivo.
E depois da coordenadora da exposição de pintura, Maria Laranjeira, também reforçar que “o essencial” deste projecto é que permitiu dar “imensa alegria a centenas de idosos”, alguns dos músicos que integram o projecto apresentaram e interpretaram três das canções integradas no CD, que contou com a direcção musical do produtor João Balão e no qual participam ainda um conjunto de músicos experientes, nomeadamente Amadeu Magalhães, Fernando Meireles, Ricardo Parreira e Cláudia Santos, assim como “jovens músicos” como Fernando Meireles (filho) e Fabiana Coimbra.
Este trabalho discográfico, também disponível em formato de pen, vai ser comercializado por 15 euros a unidade, sendo de referir ainda que o CD, inédito, cujas canções foram inspiradas em histórias contadas pela população sénior, tem como título “Memórias de Água Doce”, é composto por 12 temas originais e vai ser lançado no próximo dia 11 de Agosto, em Arganil, concelho onde nasce o rio Ceira.
Além do CD e da exposição de pintura realizada pelos utentes da ANAI – Associação Nacional de Apoio ao Idoso, o projecto “Voz dos Avós da Nascente até à Foz” inclui ainda uma exposição de fotografia da autoria de Cláudia Santos e um filme de apresentação do território do videasta Pedro Homem e que vai percorrer os restantes Municípios envolvidos, passando desde a nascente do rio até à foz, ou seja, por Fajão (Pampilhosa da Serra), 19 de Agosto; Góis (26 de Agosto), Vila Nova de Poiares (2 de Setembro), Lousã (9 de Setembro), Miranda do Corvo (13 de Setembro) e Ceira (23 de Setembro).