“Horas de Meditação”
O meu olhar perde-se nos horizontes destas serras sem fim. Quando visito estes montes, estes vales, estas aldeias semi-desertas que me viram nascer, sinto as sensações mais inesperadas, mais ternas, mais saudosas… É sempre como um peregrino que visita os Santos Lugares e fico horas a meditar, a reviver o passado não muito distante.
Por estes vales, por estes montes, andaram batalhões de homens esforçados a rotear matos para semear o centeio nos alqueves, a fazer motrecos à beira das ribeiras e riachos, nas encostas bravias onde brotasse uma lágrima de água para regar os motrecos, que eram cuidadosamente, religiosamente amanhados, com carinho e amor, como altares divinos se tratassem, pois eles produziam o milho, a batata, o feijão e todos os renovos para a sua subsistência.
Agora, esses altares de culto encontram-se ao abandono, onde cresce mato, silvas, giestas, tojos… O trabalho, o esforço, os suores desses homens corajosos que arrancaram pedras enormes para construir paredes, que desviaram ribeiras do seu leito para construírem pequenas courelas e que davam bons frutos, hoje tudo está ao abandono. São o habitat predilecto dos javalis, das raposas, dos texugos, das doninhas, etc., que vão estragando paredes, veredas e alvanéis.
Como foi possível chegar a este triste e piedoso abandono…
Esta Serra, onde em cada Primavera se cobre de flores lindas, das mais variadas cores, que enchem os nossos olhos! São quadros, são aguarelas de encanto e magia!
Ó Serra Bendita de aldeias semi-desertas e outras já ermas, eu fico aqui, neste miradouro, horas a meditar: a minha alma triste e dorida sente que esta Serra de tantas potencialidades para explorar já não tem neste momento presente e parece que também já não terá futuro…