No sábado, 17 de Junho, na Cerâmica Arganilense, realizou-se a apresentação do projecto “BARRO”, a levar a efeito naquele local, nos próximos dias 1 e 2 de Julho.
“BARRO” resulta da parceria entre a Câmara Municipal de Arganil, a “Mundo em Reboliço” e diversas instituições locais de âmbito artístico, cultural e social e, com direcção artística de Filipa Francisco e Hugo Cruz, o projeto foi desenvolvido ao longo de vários meses e nele estão envolvidas, além de associações e agentes culturais locais, pessoas residentes no concelho com idades compreendidas entre os 10 e os 85 anos, num total de mais de 50 participantes.
E são essas mais de 50 pessoas que se vão apresentar, no dia 1 de Julho, pelas 18 horas, na Cerâmica Arganilense, com repetição, à mesma hora, no dia 2, num espectáculo interativo e sensorial e nunca visto em Arganil, numa cocriação da responsabilidade de André Nunes, Daniela Santos e Pietro Romani. A entrada é gratuita, mas a lotação é limitada a 100 pessoas pelo que, quem quiser ir assistir, terá que efectuar a reserva antecipadamente, através do número 235200135 ou presencialmente na Biblioteca Municipal Miguel Torga, em Arganil, usufruindo de criações distintas, como dança, teatro, música e vídeo, propondo ao público um “percurso enraizado”, no espaço da antiga fábrica da Cerâmica.
Neste espectáculo e como foi dado a conhecer, “a matéria barro, seja ele cozido, seja ele ainda por cozer, é pretexto para propiciar encontros improváveis e para reinventar o que tem sido a relação dos humanos com o barro, a terra e natureza” e, “partindo do barro, da sua maleabilidade e de objectos do nosso quotidiano com ele relacionados, são convocadas memórias e sensações invisíveis para contar poeticamente histórias de uma terra, similar em alguns aspectos a tantas outras da história recente de outros lugares do país reinventando o espaço-tempo do presente e procurando uma projeção no futuro destas comunidades”.
Mas e como foi ainda referido, “BARRO fala também de questões ambientais e políticas, sobre o papel das fábricas nestes territórios, o processo de industrialização e a forma como a matéria barro foi central em determinadas zonas, sobre o barro enquanto algo que tiramos à terra e que não sabemos devolver”.
O processo de trabalho do projecto, que durou meses e que irá culminar com a apresentação do espetáculo, foi explicado por Filipa Francisco, da “Mundo em Reboliço”, dizendo que “começou por ser uma investigação nos arquivos cedidos pela autarquia, depois entrevistas a pessoas que trabalharam nesta fábrica e na da Coja, uma entrevista a um historiador e à medida que íamos recolhendo informação, íamos partilhando com os participantes para que todo este trabalho fosse de todo o grupo”, acrescentando “o que me apercebi, num ensaio em que não estive mas que depois me contaram, era que de repente o tema Barro era agregador e havia uma menina, a Maria Ausenda, que se lembrou que tinha um avô que tinha trabalhado numa das fábricas de Cerâmica do concelho”, pelo que “todas as palavras foram colocadas no corpo através da improvisação (técnica que permite uma liberdade enorme) e depois há a composição do espectáculo, que história estamos a contar”, terminando por considerar o facto de o público “ser muito importante, é um espectáculo interativo, sensorial e o público precisa desse espaço para puder entrar dentro de cada cena”.
Hugo Cruz, que irá promover o “BARRO” nas redes sociais, começou por agradecer ao Município de Arganil “pela possibilidade de pensamos e agirmos a cultura numa forma pouco usual no nosso país, pensando as coisas com tempo, estrutura e articulação e em diálogo constante com quem, todos os dias, activa a cultura local”, dando a conhecer ainda que o pedido para “participar neste projecto foi feito pela vice-presidente da Câmara, Paula Dinis, no qual o “que me pareceu muito singular, foi no sentido de pensar estas questões culturais mesmo a sério e isso é muito importante”.
“A cultura não tem que ser algo pesado, de elite, tem sim que ser para toda a gente e tem que trazer leveza ao nosso dia-a-dia, mas tem que ser encarada de uma forma séria”, disse Hugo Cruz, considerando por isso que “a cultura é muito importante para nos afirmamos enquanto seres humanos e numa relação com aquilo que nos rodeia mais horizontal e construtiva”, referindo ainda que “fizemos um ciclo de capacitação, na área da produção e na área da comunicação, financiamento e participação e percebemos, nestas reuniões, que devíamos pensar em algo que todos pudéssemos fazer, uma criação em conjunto, passando depois do discurso para a experiência real”.
O presidente da Câmara Municipal, Luís Paulo Costa, depois de salientar que o Município que lidera foi dos primeiros a fazer a Carta Cultural, “um instrumento que achámos que era, e é importante, para potenciar o trabalho cultural que se faz no nosso território”, referiu-se-se à realização do espectáculo, considerando “este espaço é emblemático para o tema que escolhemos, o barro, um elemento marcante desde logo pela civilização e traz-nos a espaços como este que já teve uma função produtiva, industrial e que hoje é um marco da arquitetura industrial mais relevante daqueles que temos no distrito”, pelo que “temos um cenário extraordinário, um espaço com todas as caraterísticas para aqui promovermos cultura”.
Ainda sobre o projecto “BARRO”, na sua apresentação contou também com as intervenções da presidente do Grupo Folclórico da Região de Arganil, Graça Moniz, da pequenina Maria Ausenda e de Carolin Hempel, tendo a vice-presidente da Câmara, Paula Dinis, destacado que “o importante aqui, é verdadeiramente este trabalho em rede que envolve a produção artística, profissional, com todos os agentes do concelho e esta participação em todas as áreas”, deixando a garantia que “tudo isso faz parte de um projecto a que queremos dar continuidade”.