NOTA DA SEMANA

ProfHoje é dia de aniversário da nossa A COMARCA DE ARGANIL. Nascida logo no início do século passado, aí continua ela com o mesmo vigor, o mesmo querer e a mesma missão que esteve na sua génese.

Mais de um século de vida e de história!… Não é muito fácil encontrar entre órgãos de comunicação escrita tal longevidade. E muito menos em órgãos de comunicação regional, como é o caso.

Em dia de aniversário, muitas interrogações se levantam sobre a caminhada existencial de A COMARCA, sobretudo quanto à sua publicação, praticamente ininterrupta, (se exceptuarmos aquele breve período de “hibernação”) e onde tem ido buscar força para resistir a ventos e marés que têm derrubado tantos e tantos jornais e revistas, ao longo do último século e já no início deste.

No contexto da imprensa regional, A COMARCA é de facto um caso singular, já pela longevidade, já pela sua qualidade ao longo das décadas. Isto não significa que não tenha havido lacunas e que, mesmo hoje, não haja muita coisa a modificar, para bem do próprio jornal e num esforço de manter a sua qualidade e expansão. Também aqui, como em tudo na vida, às vezes, é preciso expurgar verdadeiros “tumores” jornalísticos, que nada servem ao jornalismo nem abonam a favor dos seus autores. A qualidade de um jornal depende sempre de quem o faz. E quem o faz são o jornalista, ou a jornalista, sejam eles e elas do quadro redactorial interno, sejam simples colaboradores. Pormenor importante, neste aspecto, é o facto de o jornal não estar ao serviço de uma ou outra pessoa visando a sua promoção pessoal, tapando defeitos e enfatizando qualidades que não existem. A um jornal exige-se verdade, isenção e frontalidade.

Na hora de celebrar mais um aniversário a pergunta é pertinente: como se explica esta longevidade de A COMARCA DE ARGANIL? A resposta não é tão linear assim. Mas há uma resposta plausível. Primeiro a tenacidade, o querer, a visão e (deixem passar o termo), o aventureirismo dos seus fundadores. Por aquela altura, não se apresentava nada fácil deixar Lisboa e vir fundar um jornal neste interior profundo, longe dos grandes centros. Foi precisa muita coragem. E os fundadores, cujos nomes emolduram o cabeçalho do jornal, tiveram-na. Depois, também não foi indiferente o ambiente encontrado, como indiferente não foi a receptividade que tiveram. A eles se seguiram os sucessivos directores que, ao longo do percurso, que já leva mais de um século, foram assumindo a responsabilidade de dirigir o jornal. Sem desprimor para qualquer deles, eu destacarei dois: José Castanheira Nunes, o Tio Zé, como familiarmente era tratado pela “família” de A COMARCA, seu sobrinho João Castanheira Nunes que lhe sucedeu no cargo e Francisco Carvalho da Cruz. Foram anos pujantes de vida, sobretudo com João Castanheira Nunes.

Mas não podemos esquecer, seria uma tremenda ingratidão, o papel dos muitos colaboradores, alguns deles de alto gabarito, que encheram páginas e páginas com verdadeiras peças literárias e notícias sempre do interesse dos leitores. Também aqui é muito delicado citar nomes. No entanto, ao compulsar as páginas de A COMARCA, encontramos nomes que se salientaram no mundo da Política, do Regionalismo, da Economia, da Justiça, da Cidadania e da Religião. Todos eles honraram o jornal que os acolheu. Não resisto, todavia, à tentação de referir um nome: o Padre José Vicente, que com o nome próprio, ou sob os pseudónimos de Gil Duarte e Mendes Garcia, nos deixou, nas páginas de A COMARCA, dos mais belos escritos que a nossa Literatura guarda.

Mas há um grupo, numeroso como podemos ver ao folhear a colecção, que não pode nem deve ser esquecido, em hora de aniversário, são os CORRESPONDENTES. Hoje já não existem, infelizmente, pelo menos na quantidade e com a dedicação de outrora. Eram eles que traziam até à redacção as notícias das suas aldeias e vilas da nossa região, aquelas notícias que os ausentes aguardavam ansiosamente e liam com avidez. Notícias simples, mas que expressavam a vida das localidades, que deste modo se tornavam conhecidas. Não tenho dúvidas que foram estes CORRESPONDENTES que granjearam para A COMARCA o significativo nome de CARTA DE FAMÍLIA.

Homenageando todo este grupo de simpáticos CORRESPONDENTES, faço-o evocando a pessoa, já infelizmente desaparecida, de José Alexandre Nunes, (o Ti’ Zé do Vidual) que, durante anos e anos a fio, até à sua morte, foi o solícito Correspondente de A COMARCA, no meu Sobral Valado.

Hoje é dia de aniversário da nossa A COMARCA DE ARGANIL. Na pessoa do seu Director, o prezado amigo António Lopes Machado, saúdo quantos a ela estão ligados e se esforçam por mantê-la, sempre com espírito de serviço, prezando a verdade e o respeito que os leitores nos merecem.

Parabéns!

Assinatura Ramos Mendes