NOTA DA SEMANA

Ramos_Mendes

A notícia, por inesperada e inusitada, está a surpreender o mundo: o Papa Bento XVI acaba de renunciar ao ministério petrino. Embora já tivesse declarado por várias vezes que “não via com maus olhos a resignação”, este anúncio, agora tornado público, colheu de surpresa não só a Igreja Católica mas as outras confissões religiosas e o mundo em geral.

Ao anunciar esta sua decisão, o ainda Papa considera-a de grande importância para a vida da Igreja e revela que não a toma de ânimo leve. “Depois de examinar reiteradamente a minha consciência perante Deus – diz Bento XVI – cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério de Pedro”. E continua: “Sou consciente de que este ministério, pela sua natureza espiritual, deve ser levado a cabo não apenas por obras e palavras mas também, em menor grau, através do sofrimento e da oração”.

Vivemos tempos e  num mundo em rápidas e profundas transformações a todos os níveis que trazem, às instituições governamentais e particularmente à Igreja, exigências cada vez maiores. O Papa reconhece-o: “No mundo actual, sujeito às rápidas transformações e sacudido por questões de grande relevância para a vida da Fé, para governar a Barca de Pedro e anunciar o Evangelho é necessário também vigor, tanto do corpo como do espírito”. “Vigor que, nos últimos meses, diminuiu em mim de forma que tenho de reconhecer a minha incapacidade para exercer de boa forma o ministério que me foi encomendado”. “Por isso, sendo consciente da seriedade deste acto, e em plena liberdade declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, sucessor de S. Pedro (esclareço eu: Papa), que me foi confiado pelos cardeais no dia 19 de Abril de 2005”. E Bento XVI aponta a data em que terminará este seu ministério: 28 de Fevereiro próximo, às 20 horas de Roma, 19 em Portugal. De imediato ser convocado o Conclave para eleição do novo Papa.

Esta tomada de posição do actual Papa não é inédita, mas também não é usual, pois já aconteceu na vida da Igreja. Há seis séculos, porém, que tal não acontecia. O último Papa a resignar foi Gregório XII, que governou a Igreja de 1406 a 1415, para acabar com o grande cisma do Ocidente que tinha causado graves problemas à própria Igreja.

Já se fazem sentir pelo mundo as reacções a esta resignação de Bento XVI. Em Portugal, figuras destacadas como D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa, e D Ilídio Leandro, Bispo de Viseu, consideram-na “um acto extremamente corajoso e de muita fé e de amor à Igreja”. O biblista padre Carreira das Neves olha para este acto “com satisfação”. O canonista cónego Manuel Lourenço diz que “é um acto que ajuda a reflectir sobre as limitações humanas”. O padre Vítor Feytor Pinto diz que esta decisão do Papa “revela uma grande lucidez”. E D. Januário Torgal Ferreira afirma que é “um gesto único na Igreja”.

Mas começam também a surgir especulações de toda a ordem, algumas mal intencionadas. As pessoas são livres de pensar e de especular, mas nunca de tentarem ver e analisar os acontecimentos segundo as suas apetências e preconceitos. O tempo esclarecerá, espero bem, todas as incidências, para além da apontada, que estão na origem desta tomada de decisão de Bento XVI.

E já se diz nos “mentideros” da comunicação social que o seu sucessor poderá vir de África ou da América Latina. Venha donde vier, espera-se e deseja-se que seja capaz de renovar a Igreja.

Assinatura Ramos Mendes