Aí temos de novo a troika para mais uma avaliação à situação económico-financeira do país. Confesso desde já, à partida, que esta talvez não fosse a melhor altura para tal “visita”. E por diversas razões, de entre as quais destaco as convulsões sociais que vivemos e que, nas últimas semanas, têm subido de tom e que, utilizando termos musicais, objectivamente se apresentam em “modo maior” e subjectivamente em “modo menor”. Isto é, as acções de contestação têm sido tantas e tão intensas que até metem “cantiga”. Mais uma vez se comprova que, como diz a canção, “a cantiga é uma arma”. Mas, como tais acções de contestação são a expressão da mágoa e da angústia que vai na alma do povo português, a “cantiga” vai em “modo menor”, como é próprio de qualquer peça musical que cante a dor, a amargura, a incerteza do amanhã, o espoliamento, o desprezo pelos direitos humanos, enfim tudo quanto contribua para o esmagamento da pessoa humana.
A troika está aí. E, mais uma vez, como vem acontecendo desde que tal “polvo” entrou em Portugal, o Governo vai dizer que “é preciso proceder à reforma do Estado”. Aliás, mesmo sem diálogo nem consenso, outra coisa os governantes não têm feito. Falaram e falam em “cortes nas gorduras”, mas esses cortes não aparecem. O que vemos é aumentar tais “gorduras”. Os cortes sofremo-los nós, cidadãos anónimos, particularmente funcionários públicos, pensionistas e reformados, a classe média, a quem cortam nos salários, nas pensões e reformas, nos subsídios de Natal e de férias, no apoio aos cuidados de saúde e da educação e na Segurança Social e a quem esmagam com impostos abusivos e imorais. Para já não falar na utopia que é a afamada Reforma Administrativa que retira ao povo a proximidade com as estruturas e os centros de decisão e os meios para fazer ouvir a sua voz e expressar os seus anseios.
Reformar é a palavra chave para uma reforma que não é reforma. É antes um sufoco.
Não é o Estado que precisa de ser reformado. As pessoas é que têm necessidade de ser (RE)FORMADAS. Isto é, FORMADAS, destacando eu o prefixo RE que aqui tem o sentido de intensidade e, acrescento, urgência. É preciso formar as pessoas, todas as pessoas, a começar pelas que têm cargos públicos como governantes, políticos, dirigentes de instituições sociais, culturais, desportivas, religiosas e afins; empresários e trabalhadores; as do mundo da ciência e do ensino.
Assistimos, neste particular, a um descalabro total. Parece que vivemos em tempo onde já não há valores, não há lei, não há normas, não há respeito por nada nem por ninguém. E não é preciso ser muito perspicaz nem estar demasiadamente atento para chegarmos a esta conclusão que nos deve fazer pensar.
As instituições do país, todas elas, estão servidas, salvo raras e honrosas excepções, por pessoas mal formadas ou mal intencionadas. Repito, salvo raras e honrosas excepções que, felizmente, as há.
Assim, não vamos a lado nenhum.