NOTA DA SEMANA: A Crise das Migrações no coração da Europa

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A Europa é apresentada e conhecida por ser um bastião dos direitos e liberdades, os quais foram crescendo e florescendo ao longo das últimas décadas, contribuindo para uma paz duradoira nos mais de 70 anos desde a Segunda Grande Guerra.

No entanto, sabemos hoje, que o maior limite a essas liberdades e garantias não são as normas Constitucionais dos Países democráticos que compõem a União Europeia, mesmo que alguns destes, como a Polónia e Hungria, façam uma interpretação mais nacionalista e soberanista desses mesmos direitos e liberdades.

Na atualidade, o maior limite à promoção universal de direitos e garantias são as questões económicas, diretamente relacionadas com a sustentabilidade do Modelo de Proteção Social que faz a imagem de marca da nossa Comunidade Europeia.

Na verdade, a sustentabilidade, ou a falta dela, tem dado origem a uma reflexão politica sobre a dimensão dos direitos e liberdades em todo o espaço Europeu, traduzida em movimentos extremistas da esquerda à direita do espetro político.

Vem isto a propósito de mais uma crise das migrações na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia, esta última com o apoio da Rússia, materializada através de crescente pressão humana para a entrada no espaço europeu de milhares de migrantes, cujo único intuito ou pelo menos para a generalidade desses, é a concretização de uma vida condigna, livre e segura.

Nada que não fosse expetável depois do abandono a que o Afeganistão foi votado, sendo este mais um exemplo da forma incapaz como o mundo ocidental lida com os regimes párias da democracia.

Contudo, é chegado o momento de colocarmos a grande questão que é a seguinte: quais são os motivos e as razões para que existam os fluxos migratórios?

E as razões são, ao contrário do que se possa pensar, muito simples e têm que ver com o desejo que qualquer Ser Humano tem em ter uma vida digna, livre e protegida.

Desta forma, quando não é possível a concretização desses objetivos nas suas comunidades de origem, o Ser Humano procura os locais em que possa realizar tal desiderato, almejando uma vida de felicidade e estabilidade, para si e para a sua família.

No entanto, essas pessoas passaram a ser armas de arremesso contra a Europa e o seu sistema democrático, o qual oscila entre proteger as suas fronteiras e a sua estabilidade económica e, ao mesmo tempo, o dilema dos valores morais inerentes à preservação da dignidade de todos os Seres Humanos, como sucede com os atuais migrantes.

Assim, resolver o problema dos fluxos migratórios implica assumir uma política de imigração clara, firme e compatível com as necessidades de mão-de-obra e de reequilíbrio da balança demográfica da Europa.

Mas implica igualmente outra coisa, agir com a convicção de que para resolver o problema de milhões de Seres Humanos, com especial incidência nas crianças, há que erradicar regimes totalitários, sejam eles de cariz religioso ou político, pelo menos aqueles de onde provêm os maiores fluxos migratórios.

Simultaneamente, é preciso estimular o desenvolvimento económico de vários países subdesenvolvidos, mas dotados de enorme riqueza humana, e de vastos recursos naturais, deitando por terra a postura hipócrita de muitos países europeus que se apresentam como paladinos da democracia.

Estes, não raras vezes, exploram essas riquezas, tendo interesse no subdesenvolvimento desses povos, para obter as matérias-primas a custos mais baixos, e assim, manter uma maior competitividade nos mercados internacionais.

Resolver os problemas de milhões de Seres Humanos, que apenas anseiam por ter as mesmas condições de vida que nós europeus temos, não se alcança financiando os déspotas que rodeiam a Europa para que impeçam a sua passagem.

Resolver os seus problemas implica promover o desenvolvimento económico, social e político dos países de origem desses Seres Humanos, e para isso é preciso coragem e muito dinheiro, algo que não se vislumbra num futuro próximo.

NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)