
No último fim-de-semana começaram os protestos em França, em que a esquerda coligada e liderada por Jean-Luc Mélenchon veio para a rua defender o aumento de salários tendo em vista a recuperação do poder de compra sonegado pela inflação.
Como é habitual, lá houve os estragos do costume, com a vandalização de lojas, estabelecimentos bancários e máquinas ATM, seguindo-se depois a intervenção da polícia de choque.
Percebe-se já, que há falta de combustível nas bombas de gasolina francesas, mas neste caso, apenas e porque os trabalhadores das empresas em causa entraram em greve, perspetivando-se que, em breve, se estenda aos camionistas que transportam este produto.
No caso dos trabalhadores das companhias petrolíferas o problema tem que ver com os aumentos propostos pelas mesmas, sendo que o valor apresentado de atualização é de 7%, e os sindicatos reivindicam uma atualização mínima de 10%.
Nós por cá é o que se vê!
Contudo, a França é um País da União Europeia, bastião do eterno discurso dos direitos dos cidadãos e da frase – liberdade, igualdade e fraternidade – lema da Revolução Francesa e que sobreviveu a esta, tendo-se espalhado pelas Sociedades Ocidentais e democráticas.
Mesmo com uma guerra à porta, a União Europeia vangloria-se, legitimamente diga-se, das suas conquistas com um Modelo de Proteção Social, com Serviços de Saúde genericamente gratuitos e com índices de bem-estar incomparáveis com o resto do mundo.
Não é menos verdade de que na Europa também existe desigualdade social, mas ao contrário da esmagadora maioria dos países do resto do Mundo, existe uma preocupação política enraizada de que o Estado tem de atenuar essas mesmas desigualdades, através da implementação de políticas públicas que promovam a ascensão social de todos os cidadãos, e neste caso o maior elevador social é o acesso à educação.
Não sabemos se isto irá manter-se no futuro, face ao cenário de instabilidade que grassa por todo o planeta, já para não falar das dificuldades demográficas existente na Europa para sustentar um modelo de proteção que assenta na solidariedade intergeracional.
No entanto, foi Josep Borrell, um alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, que fez esta afirmação de que “a Europa é um jardim” junto de um grupo de estudantes do Colégio da Europa em Bruges, defendendo que resulta da combinação de “liberdade política, prosperidade económica e coesão social”, devendo ser protegida da “selva” exterior, entenda-se grande parte do restante mundo.
Ora bem, é nestes momentos que nos devemos recordar por que motivo a República Islâmica do Irão tem uma polícia dos costumes e da moral, que prende indiscriminadamente pessoas, as tortura e assassina.
Um Estado, que se apelida de República, mas que sonega direitos às mulheres e a todos aqueles que não professam a religião Islâmica.
É também neste contexto que temos que refletir de que lado está esse País na guerra que se desenrola na Ucrânia, e neste caso é bom que não esqueçamos que o Irão apoia Vladimir Putin.
Mas não é apenas o Irão, reparemos no leque de Países que não condenaram a invasão da Ucrânia pela Rússia, e, neste caso, a anexação de territórios ucranianos, como são os casos da Coreia do Norte, China, Síria, Índia, Cuba, Nicarágua, e outras tantas ditaduras, ou regimes autoritários!
Como já todos sabemos, as manifestações em França, ou em outro qualquer País da União Europeia, apenas são possíveis pelo facto de que os regimes políticos existentes assim o possibilitam, afinal a União Europeia pauta-se pela Democracia.
Infelizmente, o nosso “Jardim” apenas tem servido, nas últimas décadas, para catapultar as economias das ditaduras, com especial incidência para a China, onde os trabalhadores não têm direitos nem proteção social, e a Europa preferia comprar mais barato, sem olhar para a dignidade desses trabalhadores.
Cabe aos Europeus protegerem o seu “Jardim”, mas para isso precisamos de calçar as “galochas”, pois o mundo está a mudar!
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE AARGANIL)