NOTA DA SEMANA: A Inevitabilidade da Guerra

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Fez no dia 24 de Fevereiro um ano desde que a Ucrânia, País sobreano e independente, foi invadido por uma força militar russa, cujo único propósito era o de derrubar o regime democrático vigente.

Ao longo destes últimos doze meses o mundo ocidental, e mais em particular a Europa, sofreram um verdadeiro teste à união em redor dos valores da liberdade e da democracia e, felizmente, pelo menos para já, os países, de um modo geral, mantiveram-se juntos na defesa desses mesmos valores.

Simultaneamente, as Nações Unidas, lideradas pelo português António Guterres, não abdicaram da defesa da Carta das Nações, aprovando em Assembleia Geral diversas condenações a essa invasão, revelando assim, a completa incapacidade do Conselho de Segurança em aprovar idêntica medida, por força do poder de veto dos seus membros permanentes, e neste caso, da República Popular da China e da Federação Russa.
Mas esta guerra era, já de si, inevitável.

E caso não tivesse eclodido em território europeu, não tenho dúvidas de que iria eclodir no contexto do indo-pacifico, onde a potência emergente da Republica Popular da China procura uma extensão militar da sua influência económica, colidindo com a potência ainda dominante – Estados Unidos da América (EUA) – que aí localizam uma parte significativa das suas estruturas militares, cujo maior exemplo é a sétima frota naval.

Tendo como epicentro, e argumento, a discussão da questão de Taiwan (antiga Formosa Portuguesa), EUA e Republica Popular da China ensaiam há muito um conflito de grande envergadura, e sobre o qual reside o futuro da humanidade, ou pelo menos daquela que incorpora os valores da Sociedade Ocidental que provém da Grécia antiga.

O Século XXI já não será um século de paz, como tanto se ambicionava e desejava, será antes um século de conflitos militares, resultado da necessidade de uma alteração da geografia dos interesses dos povos.

Se é verdade que a grande maioria dos países do mundo, representados na Assembleia Geral das Nações Unidas, estão contra a invasão da Ucrânia, também não é menos verdade que, em termos populacionais, praticamente metade do mundo, representado pelos regimes que votaram contra a condenação da Federação Russa, ou se abstiveram, não se incomodam com isso.

Com efeito, e tal como no passado já o disse em algumas destas crónicas semanais, estamos perante uma “guerra” civilizacional e, obviamente, todas as “guerras” civilizacionais são de carácter mundial e inevitáveis.

A História da Humanidade assim o tem demonstrado, nomeadamente que a ocorrência de grandes conflitos bélicos sucede após o minguar dos ciclos de prosperidade económica, como o que está a suceder na atualidade.

Os regimes políticos ditatoriais ou autocráticos tendem a procurar ampliar o seu espaço vital (teoria do “Reich” Alemão), para compensar e justificar a necessidade de expansão económica e militar, condicionada pelas economias mais liberais.

Tal, dá origem a um conflito cultural entre duas visões distintas do Mundo, uma radicada na ancestralidade grega do ocidente e outra assente na visão oriental da China milenar, e que se ramificou com a não menos antiga rota da seda.

Por outro lado, ao longo das últimas décadas, os conflitos regionais têm sido o rastilho da preparação dessa guerra mundial que temos à porta.

Exemplos como a desagregação da antiga Jugoslávia e os conflitos étnicos daí resultantes, a instabilidade crescente no médio oriente, as invasões do Iraque, a radicalização religiosa de parte das Repúblicas Muçulmanas como o caso do Irão, ou até mesmo a transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China, fizeram parte desse processo de preparação do cenário beligerante que hoje existe.

Já para não falarmos do saque que os europeus deixaram fazer às suas antigas colónias no continente Africano, e que hoje estão nas mãos dos interesses Chineses, Russos e até de radicais religiosos.

As grandes democracias como os Estados Unidos da América, o Canadá e os Países da União Europeia, há muito que tinham trocado a produção de bens pela de serviços, permitindo assim, a ascensão dos países com regimes antidemocráticos como a República Popular da China e a Federação Russa.

Contudo, foi a pandemia provocada pela COVID-19, e muito provavelmente estimulada pelo regime comunista Chinês, que “abriu os olhos” das grandes democracias para a necessidade de uma rápida reindustrialização, a começar pelos Estados Unidos da América que, fruto da manutenção da capacidade de gerar conhecimento e novas tecnologias (do qual a produção de vacinas foi um exemplo crucial), aproveitou esta nova oportunidade para liderar, mais uma vez, o mundo livre.

Os dados estão lançados, e as mães de todo o mundo, mais uma vez, terão que se preparar para que os seus filhos venham a colocar “as botas na lama”, indo para a frente da guerra, desconhecendo-se ainda, onde esta realmente se desenrolará.

A Ucrânia, é hoje apenas mais um campo de batalha, por detrás do qual se desenha um conflito maior.
Perder a Ucrânia será acelerar a III Guerra Mundial, mas vencer na Ucrânia e pela Ucrânia será ganhar mais alguns anos de paz.