Nos últimos dias temos andado envoltos nas polémicas do alegado racismo das forças de segurança e da exploração laboral no Qatar, país que acolhe o mundial de futebol, competição que começou esta semana.
Em relação ao primeiro assunto, o do racismo nas forças de segurança e da constante tentativa de transformar os Portugueses em hediondos racistas, parece-me que estamos perante o retomar de uma agenda política de certos Partidos Políticos e movimentos extremistas que não olham a meios para atingir os seus fins e propósitos.
Partidos que são céleres a condenar comentários nas redes sociais, alegadamente efetuados por membros das forças de segurança, mas que dão guarida a cidadãos como Mamadou Ba, luso-senegalês e dirigente da SOS Racismo, que afirmou “matar o homem branco” e “bosta de polícia”, bem como outras declarações atentatórias de todos aqueles que acreditam na igualdade e na democracia de um Estado de Direito.
Nenhum cidadão que enverga uma farda e faz um juramento sob a bandeira nacional, representando a autoridade do Estado, não pode, nem deve, colocar em causa a dignidade de qualquer outro Ser Humano, discriminando-o ou perseguindo-o, e isto é um princípio que não deve suscitar qualquer dúvida para ninguém, a começar pelos membros das forças de segurança.
Por isso, cabe às hierarquias dessas entidades e à Inspeção Geral da Administração Interna, aplicarem os normativos e regulamentos existentes, sem complacência diga-se, expulsando quem não for digno de usar uma farda.
Mas de igual modo, também se impõe que essas mesmas hierarquias e essa mesma Inspeção, ajam judicialmente contra todos aqueles que enxovalham e atacam os elementos das mesmas forças de segurança no seu dia-a-dia, muitas vezes camuflando-se sob uma falsa retórica racista para intimidarem as forças policiais no desempenho das suas funções.
No entanto, toda esta campanha informativa sobre eventuais casos de racismo nas forças de segurança suscita dúvidas, muitas dúvidas, a começar pelo momento em que esta vem a público.
Isto é, na sequência da atuação das forças policiais nas manifestações relacionadas com o clima, e antecedendo a própria manifestação dos sindicatos e associações das forças de segurança contestando a situação salarial destes elementos do Estado.
Mas pior que isso, é esta ignóbil tentativa de se querer transformar a Sociedade Portuguesa num espaço estruturalmente racista e, de uma vez por todas, os Portugueses dão meças a qualquer Sociedade sobre este tema.
Não quer dizer que não existam focos de problemas de racismo, mas é bom que se perceba que os Portugueses, pela sua Cultura, pela sua História e pelos seus Valores, são tolerantes para com os outros.
Contudo, o poder político ainda não percebeu, ou não quer reconhecer, que existem problemas de integração de algumas franjas da população, ou de algumas etnias, e que esconder isso apenas vai adiando o eclodir do problema.
É caso para recordar o provérbio popular: «quem semeia ventos colhe tempestades!»
Quanto ao Qatar e à exploração laboral dos inúmeros imigrantes aí residentes, é também caso para perguntar: onde estavam os defensores dos direitos destes quando foi anunciada a candidatura desse País árabe à organização do Mundial, ou quando, em 2010, foi anunciada a sua escolha em definitivo?
Ou, onde está a moral da Europa quando expulsa e recusa acolher os milhares de imigrantes que dão às suas costas na procura de uma vida melhor?
Contudo, o tema desta crónica não são estes assuntos, mas antes o que se passa no antigo império Persa, ou melhor, na República Islâmica do Irão.
Há três meses atrás, uma jovem, Mahsa Amini, da minoria Curda Iraniana, foi presa pela “Policia da Moralidade“ por, supostamente, ter mal colocado o véu islâmico, acabando por morrer passados três dias da sua detenção, em condições desconhecidas e nunca cabalmente esclarecidas.
Posteriormente, uma informação clínica revelou que uma TAC apontava a existência de uma fratura óssea, com hemorragia e edema cerebral, sugerindo ter sido atingida na cabeça.
Hoje, e ainda desconhecendo-se as reais causas da morte desta jovem, o Irão está a braços com uma revolta popular que não se restringe a pequenas franjas da população, mas é antes transversal a toda a Sociedade, e cuja morte dessa jovem que tinha acabado de entrar na Universidade, e membro de uma minoria perseguida, desde sempre, pelos regimes árabes, foi o rastilho para esse levantamento popular.
Infelizmente, poucos têm sido aqueles, seja nos órgãos de comunicação social nacionais, seja nos Partidos Políticos com assento na Assembleia da República, que optam por falar sobre este assunto, assistindo-se a uma estranha letargia na abordagem desta “revolução”.
As mulheres têm sido caladas e os seus direitos relegados para segundo plano no mundo árabe, e nesse mesmo mundo a luta destas passa por coisas tão simples como poderem escolher o que querem usar como vestuário.
Pelo contrário, na nossa Europa de enorme altivez moral, há grupos étnicos que impõem a sua forma de ver o mundo, e em que, o mesmo véu islâmico, como símbolo religioso, entra nas nossas escolas, ou nos nossos estabelecimentos públicos, mesmo que as regras de um Estado laico o impeçam.
E tudo por respeito cultural e liberdade de escolha! O respeito à liberdade que muito iranianos dizem não possuir.
No Irão estão a morrer crianças baleadas, e os seus corpos enterrados pelas autoridades sem que os Pais se possam despedir delas.
No Irão, as mulheres sujeitam-se ao domínio de uma Sociedade Teocrática, cujo poder radica nos líderes religiosos, e o poder político é apenas a expressão destes.
No Irão, as mulheres virgens condenadas à morte, são previamente violadas para que possam ser mortas, pois o Islamismo Xiita diz que não se podem matar virgens.
No Irão, a Internet é bloqueada quando a população sai à rua, e as mortes são caladas pela comunicação social do Estado. No Irão, os iranianos não entendem a complacência das democracias ocidentais para com a sua ditadura, e as mulheres não percebem porque não há liberdade para não se usar o véu islâmico.
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)