Christine Ourmiéres-Widener, engenheira aeronáutica de formação, tem uma carreira internacional de trinta anos no setor da aviação e larga experiência em processos de reestruturação de diversas companhias áreas, sendo, aos 56 anos, uma das mais respeitadas figuras nesse campo.
A contratação, há ano e meio, de uma das melhoras gestoras para salvar a TAP, no contexto de tantas decisões erradas tomadas sobre esta empresa pública, parecia vislumbrar uma mudança do destino da companhia aérea de bandeira portuguesa.
Os resultados recentemente obtidos, pareciam indiciar alguma recuperação da empresa, partindo esta recuperação de um plano de reestruturação, em curso entenda-se, que emagreceu a folha salarial da companhia, mas de igual modo, reduziu o número de trabalhadores ao seu serviço.
Contudo, Cristine Ourmiéres-Widener, logo após os primeiros resultados positivos, procedeu à recuperação dos índices salariais de uma parte significativa dos trabalhadores, com o argumento de que era desejável estimular os colaboradores da companhia.
No entanto, a gestora esqueceu uma regra de ouro em Portugal, neste caso a de que os políticos portugueses, ou pelo menos uma parte destes, nunca assumem responsabilidades quando os dossiers correm mal.
E assim foi.
Sendo uma gestora habituada à gestão privada e aos seus modelos de decisão, tratou de colocar na ordem, ou retirar do seu caminho, quem não se revisse nos métodos de implementação do seu plano de reestruturação, plano este que não foi ela que aprovou ou sequer desenhou!
Alexandra Reis, certamente um empecilho para os objetivos da CEO francesa, teve “guia de marcha”, não sem antes levar uma indemnização de meio milhão de euros, após a devida intervenção de um conjunto de ilustres advogados, contratados para defender os interesses das partes envolvidos.
Segundo declarações da então responsável pela gestão da TAP na Comissão da Assembleia da República, a informação da saída de Alexandra Reis e da respetiva indeminização, tinham sido comunicadas ao representante na companhia área do Ministério das Infraestruturas, e por acréscimo ao Estado, acionista da empresa.
Informações essas confirmadas, posteriormente, pelo já ex-Ministro Pedro Nuno Santos, assim como o respetivo “OK”.
No entanto, como o escândalo da indemnização era demasiado grande para fazer calar a opinião pública, lá se abriu um inquérito pela Inspeção Geral das Finanças, debaixo da alçada do Ministério das Finanças, liderado pelo Ministro Fernando Medina, que não deverá morrer de amores pelo ex-Ministro Pedro Nuno Santos, que conclui que a indemnização é ilegal!
Desgraça para a gestora da TAP, e Christine Ourmiéres-Widener recebe como prenda, igual “ guia de marcha”, desta vez para o desemprego.
Dessa forma, e de acordo com quem tutela a companhia área, perante a respetiva ilegalidade não havia condições para manter a gestora francesa.
Infelizmente, para o contribuinte português, alguém terá de pagar mais esta peripécia na TAP.
Além de já não terem chegado os mais de 3 mil milhões de euros injetados na TAP, na sequência de uma renacionalização forçada de uma empresa que já era privada, ainda terá que se arranjar uns trocos para pagar as indemnizações que vão ser reclamadas em tribunal pela agora ex-CEO da TAP e dos vários elementos da equipa que a acompanharam.
Pelo que parece, terá sido a gestora, com expressiva delicadeza, a única a dizer a verdade na casa da democracia Portuguesa.
O objetivo a que Christine Ourmiéres-Widener se propôs alcançar foi a execução do plano de reestruturação da TAP, plano esse da responsabilidade do Governo Português e sujeito a aprovação por Bruxelas.
Contudo, o Plano que justificou a contração da experiente gestora, assim como a definição de um chorudo prémio, no caso da concretização dos objetivos elencados, e respetivo salário, parece já não interessar nesta equação.
Na realidade, a única coisa que parece interessar é despachar a dita Senhora, pois tornou-se demasiado incómoda.
Caberá aos tribunais a decisão sobre a justeza do despedimento de Christine Ourmiéres-Widener, cuja missão foi interrompida porque alguém, que não ela, se terá esquecido de informar as finanças da pretensão, e posterior pagamento, de uma indemnização a Alexandra Reis.
Talvez seja por isso que o provérbio popular que diz – “ quem compra barato, sai-lhe caro” – é a melhor expressão para a desgraça que é, e vai, na TAP que não descola!
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)