NOTA DA SEMANA: A Ucrânia abandonada e à sua sorte

Fez esta semana, 24 de Julho, cinco meses desde que a Rússia atacou e invadiu um Estado soberano e independente, neste caso a Ucrânia.

Ao contrário da profecia de muitos de nós, o Povo Ucraniano conseguiu resistir a essa invasão, repelindo, durante algum tempo, o colosso russo na sua tentativa de conquistar Kiev, capital desse País invadido.

Pensou-se que a resistência Ucraniana, apoiada numa mensagem politica bastante estruturada e forte do seu Presidente, Volodymyr Zelensky, conseguisse “virar o jogo” e correr com o invasor que pouco, ou nada, quis saber dos tratados internacionais e muito menos dos direitos humanos.

Infelizmente, e apesar do avanço lento, os russos, após um recuo estratégico inicial, continuam a sua caminhada para controlar e dominar esse povo e respetivo Estado, através de uma política militar de terra queimada, fazendo uso do seu massivo poder de fogo para arrasar aldeias, vilas e cidades do mapa.

Utilizam a velha máxima da força contra a razão, e a força russa é muita perante a razão que assiste à Ucrânia.

Assinam tratados, como foi o caso da exportação dos cereais, para, simplesmente, os rasgarem no dia seguinte, com a altivez que assiste a um império que olha com desdém para o mundo ocidental, que se tem revelado incapaz de pegar em armas para defender os ideais da democracia contra o autoritarismo dos que se vêem como “Czares e senhores feudais”.

Tal como seria de prever, os europeus começam a dar sinais de claudicarem, especialmente porque as sanções contra a Rússia começam a mexer na nossa carteira e na nossa economia.

A Ucrânia começa a ficar sozinha, e a Rússia conta com isso e com o desejo de bem-estar dos europeus, que agora verificam, diariamente, o aumento do custo de vida e a necessidade de começarem a fazer sacrifícios.

Por outro lado, a eventual entrada da Ucrânia no clube europeu assusta muitos dos países economicamente mais frágeis e dependentes dos fundos comunitários, e que o diga Portugal, que se encontra na iminência de ter em 2030, o último ano de apoios comunitários de grande envergadura como nós os conhecemos.

E não será para menos, tanto mais que o nosso País, infelizmente, tem vivido à custa dos dinheiros de Bruxelas e pouco mais.

Aproximamo-nos da hora da verdade, aquela hora em que já não basta a indignação gritada na rua, ou as manifestações culturais de alguns espetáculos contra o “Putin” russo, cujos insultos a essa mesma figura fazem já parte da indumentária da moda e da liberdade de expressão, como alguns agora já o consideram.

Esse momento da verdade é aquele em que teremos de decidir se os nossos militares colocarão, ou não, as “botas na lama”.

E Vladimir Putin conta com a incapacidade dos europeus para entrarem numa guerra, na medida em que depois de tantos anos de paz, parecem ter-se esquecido da “arte da guerra”.

Restam aos ucranianos os britânicos e os americanos, mas também estes têm receio das suas opiniões públicas, e se inicialmente estas eram defensoras da integridade territorial da Ucrânia, são agora cada vez mais céticas quanto ao seu envolvimento militar.

Enviar armas tem sido a solução, mas estas, por mais eficazes que possam ser, não têm a força dos números dos soldados que são necessários para repelir a invasão russa.

A guerra é cruel e implica muitos soldados, e saber combater está cada vez mais reservado aos tiranos da nossa época e estes, infelizmente, têm essa consciência.

Contudo, os nossos receios não deverão terminar por aqui, desde logo, porque Moscovo já ensaiou, conjuntamente com Pequim, uma nova arquitetura geopolítica do mundo e nessa, nós passaremos a ser um mero borrão no mapa!

Faltam-nos políticos como Churchill, Roosevelt e De Gaulle, e militares como Eisenhower, Montgomery e Patton.

O curioso é que, nos discursos que Zelensky faz, parece estar a chamar por eles!

NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)