NOTA DA SEMANA: A vingança de Sócrates serviu-se fria

FOTO: Diário de Notícias

O Governo está demissionário, as eleições estão marcadas para 10 de Março do próximo ano, o Partido Socialista (PS) está em plena campanha para escolher o novo líder e candidato às legislativas, o Partido Social Democrata (PSD) terminou um Congresso Nacional que, inicialmente, era para tratar de alterações estatutárias e acabou em abertura da campanha eleitoral, com a Presença de Aníbal Cavaco Silva a marcar a partida.

Simultaneamente, Carlos Moedas celebrou o 25 de Novembro, contra toda a esquerda nacional e fora da Assembleia da República, mas com uma projeção mediática e política para o centro e a direita, ao mesmo tempo que reconheceu os papéis de Mário Soares, Ramalho Eanes e Jaime Neves, nesse evento que recolocou a Democracia nos eixos, no pós 25 de Abril de 1974.

Contudo, e no recato de sua casa, há certamente uma figura que vai olhando para tudo isto que se vai passando e, seguramente, deverá ter, pelo menos, um sentido de ironia ao apreciar a realidade política e judicial do País.

José Sócrates, ex-Primeiro-ministro detido em direto nas televisões, à saída de um avião quando regressava a Portugal, estará hoje mais confortável com as suas intervenções nos últimos anos na praça pública.

São sobejamente conhecidas as suas críticas ao Ministério Publico e à Procuradoria-Geral da República, críticas estas que pareceram renascer com a queda do atual Governo, e a referência feita por muitos quadros do PS de que estávamos perante uma judicialização da política e um golpe judicial que derrubou uma maioria.

Afinal, José Sócrates, sobre o qual foi feita uma “cerca sanitária” por muitos dos que agora lideram, e desejam liderar, o PS, está no recato do seu lar sorrindo e gracejando com a situação (imagino eu).

E não será para menos, desde logo porque António Costa foi Ministro de José Sócrates, e Vítor Escária, o agora ex-chefe de Gabinete do ainda Primeiro-ministro, foi, entre 2005 e 2011, o principal assessor económico de…. José Sócrates.

Por outro lado, foi José Sócrates que descobriu João Galamba e o convidou para integrar o Fórum Novas Fronteiras, lançando-o para as listas de Deputados em 2009, numa altura em que o PS tinha que se abrir à Sociedade Civil, vindo o político a integrar o grupo dos “jovens turcos”, composto por Pedro Nuno Santos, Duarte Cordeiro, Isabel Moreira e Pedro Delgado Alves e que fizeram a vida negra a António José Seguro, então Secretário-geral do PS.

Também o atual candidato à liderança do partido Socialista, Pedro Nuno Santos, é conhecido de José Sócrates, tendo sido eleito pela primeira vez para o Parlamento Português em 2005, ano que foi eleito Primeiro-ministro… José Sócrates.

Obviamente, não há aqui lugar para qualquer comparação ou leitura menos adequada da relação entre esses políticos e José Sócrates. No entanto, convenhamos que este último tem razões para sorrir, não apenas pelo que opinou durante todo o processo mediático que envolveu a sua detenção, mas porque olha agora em seu redor e terá, com certeza, razões para pensar que, mesmo que os que na altura o abandonaram, desejam agora não ser abandonados.

A vingança serve-se fria, é uma expressão cuja origem se desconhece, mas foi usada na novela epistolar “Liaisons Dangereuses” publicada em 1782 em França, e será, seguramente, uma expressão muito apreciada por José Sócrates.