
Em pleno mundial do Qatar o panorama desportivo nacional perdeu uma das suas referências contemporâneas, e precisamente na área do futebol.
Aos 66 anos, Fernando Mendes Soares Gomes, mais conhecido por Fernando Gomes, deixou-nos e com ele partiu uma figura icónica das últimas décadas, merecedor do reconhecimento dos principais clubes nacionais, mas também de todos os que amam o Futebol.
Enquanto profissional, jogava com o mítico número 9 na posição de avançado, tendo realizado 452 jogos e marcado 355 golos, passando por três clubes, Futebol Clube do Porto, Sporting de Gijon e Sporting Clube de Portugal, este último foi onde acabou a sua carreira aos trinta e quatro anos.
Entrou ao serviço da equipa principal do Futebol Clube de Porto com dezassete anos e, aos vinte anos, sagrou-se como melhor marcador do Campeonato Português, competição onde ostentaria seis vezes esse estatuto.
Conseguiu catorze títulos, entre os quais vários Campeonatos Nacionais, Taças de Portugal e Supertaças, conquistando por seis vezes igual número de Bolas de Prata.
No entanto, de entre esses títulos, não posso deixar de destacar a nível internacional a conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus (1986-1987), a Supertaça Europeia (1987) e a Taça Intercontinental (1987), fazendo parte de um dos períodos mais gloriosos da história do clube azul e branco.
O Futebol Clube do Porto foi, pois, a sua casa, o seu amor, a sua desilusão, mas também o seu amparo e regresso.
Talvez poucos se recordem dos motivos que levaram à saída do seu clube do coração, mas as suas razões foram sempre decorrentes do seu carácter e, em momento algum, escondeu o amor ao seu Futebol Clube do Porto, sabendo-se que essa paixão nunca colocou em causa o seu profissionalismo, razão pela qual fez duas épocas no Sporting Clube de Portugal (1989-1990 e 1990-1991), marcando ainda, 38 golos em 79 jogos.
Aliás, foi sempre essa sua postura de profissional de excelência, dotado de uma enorme cordialidade no trato e educação para com os outros, fossem colegas ou adversários, que fez com que tivesse granjeado um respeito que, não raras vezes, se sobrepôs ao próprio clube que sempre amou.
Foi certamente por essa dimensão humana e reconhecimento interpares que foi convidado para desempenhar o papel de responsável pela formação no Futebol Clube do Porto, tendo-lhe sido atribuído, em 2021, o título de Dirigente do ano.
A reta final da sua vida não foi fácil, tendo sido marcada pela perda de uma filha que tinha apenas 32 anos, para logo em seguida ser assaltado pela doença, tendo sido diagnosticado com cancro no pâncreas e vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), pelo meio, conseguiu ainda, ser novamente pai de uma menina, isto em Maio de 2020, algo que lhe deu novo ânimo para enfrentar as dificuldades.
Infelizmente, a doença ceifou-lhe a vida impedindo-o de concretizar alguns dos seus objetivos como dirigente, quiçá o de ser Presidente do Futebol Clube do Porto, como tantos vaticinaram e muitos desejavam, mas, acima de tudo, a doença impediu-o de concretizar na plenitude o seu mais recente e importante projeto – o de ser, novamente, Pai.
Contudo, Fernando Gomes será sempre o BIBOTA Português, troféus (bota de ouro) que ganhou na Europa nas épocas de 1983 e 1985, e o maior goleador do Futebol Clube do Porto.
Adeus Fernando, até sempre Bibota.
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)