Uma das deputadas mais ativas da Assembleia da República, especialmente na promoção de uma agenda de igualdade de género e dos direitos de grupos minoritários como os transsexuais e outros grupos LGBT, tem sido Isabel Moreira, da bancada do Partido Socialista (PS).
Até aqui nada de novo, ou de extraordinário, especialmente para mim que considero que tal deputada, não raras vezes, é excessiva na promoção dessa agenda, mais mediática do que eficiente, esquecendo o estado de desenvolvimento em que se encontra a nossa Sociedade e as maiorias que ainda a compõem, bem como os valores dominantes.
O que eu não sabia, e muitos certamente também não, é de que Isabel Moreira é, nem mais nem menos, a quarta descendente de uma estirpe de seis filhos, de Adriano José Alves Moreira, antigo Ministro do Ultramar no período que foi de 1961 até 1963.
O antigo Ministro, recentemente falecido com a idade de cem anos (6 de Setembro de 1922 – 23 de Outubro de 2022), teve de lutar ao longo de várias décadas pelo ónus que lhe foi atribuído pela reabertura do Campo de Trabalho de Chão Bom, mais conhecido pelo Tarrafal, assim como pelo peso de ter feito parte do antigo regime, convidado diretamente por António de Oliveira Salazar, inicialmente para Subsecretário de Estado da Administração Interna, em 1959, e, posteriormente, para Ministro do Ultramar, em 1961.
Efetivamente, a vida de Adriano Moreira não deixa de ser curiosa, para além de professor universitário brilhante, destacou-se ainda como advogado, tendo sido simpatizante da oposição democrática, assinando inclusive uma lista do Movimento de Unidade Democrática (MUD) em 1945.
Contudo, o que muitos desconhecem é que chegou a ser preso pelo Estado Novo no Aljube, tendo sido companheiro de cela, nem mais nem menos, de Mário Soares.
As razões que levaram à sua prisão prenderam-se com a defesa da família do General José Marques Godinho, contra o então Ministro da Guerra, Fernando dos Santos Costa, recordando-se que o então General tinha falecido na prisão, com problemas cardíacos, depois de ter sido detido pela participação na Abrilada de 1947 do movimento da Junta de Libertação Nacional.
Não obstante, Salazar veio a convidá-lo com o intuito de reformar a política do ultramar, dizendo-lhe, segundo consta, de que, Adriano Moreira, tinha todas as razões para não aceitar tal convite, mas que reconhecia nele as capacidades para levar a cabo as reformas que apresentou nos estudos e teses lusotropicalistas.
Talvez por isso, são da responsabilidade de Adriano Moreira a abolição do Estatuto do Indigenato, assim como a aprovação do Código de Trabalho Rural, mas também a criação de escolas do Magistério Primário, assim como a fundação do Ensino Superior, fazendo arrancar os Estudos Gerais Universitários em Angola e Moçambique, reformas cruciais para o avanço civilizacional nas províncias ultramarinas.
Mais tarde, e após o 25 de Abril, foi Presidente do Centro Democrático Social (CDS), isto entre 1986 e 1988, regressando a esse lugar, interinamente, entre 1991 e 1992.
Não tenho dúvidas de que foi um Estadista, atento à política Internacional e um efetivo pensador do Mundo Português, integrando um grupo restrito de políticos que olhava para o País e tinha um pensamento sobre este.
Infelizmente, tenderá a ser recordado, por alguns entenda-se, como sendo o Ministro do Ultramar no momento em que eclodiu a guerra nas antigas Colónias Portuguesas, esquecendo o seu espírito reformista no interior do Estado Novo e, mais tarde, um dos rostos mais importantes na afirmação do regime democrático em Portugal.
Termino como comecei, Isabel Moreira, reconheça-se, tem o ímpeto reformista e estou certo que o herdou junto de alguém, neste caso talvez de seu Pai, o incompreendido Adriano Moreira.
NUNO GOMES (Director de A COMARCA DE ARGANIL)