Alguns meses atrás, nesta mesma coluna, abordei os quinhentos anos do nascimento do poeta maior da portugalidade, Luís Vaz de Camões, e figura icónica da epopeia dos “lusitanos” nos Descobrimentos.
Foi através de “Os Lusíadas”, obra incontornável no panorama cultural da humanidade, que Camões imortalizou as grandezas e desgraças de um povo, de forma sublime e sob a estrutura de poesia, cuja leitura e entendimento são essenciais para perceber as razões da existência deste País.
Um País que leva já quase 900 anos de história, mas que, lentamente e até de forma agoniante, vai apagando o legado de Luís Vaz de Camões.
Essa personagem e figura, não fica atrás de nenhum herói imortalizado pelas telas do cinema, ou sequer é inferior a qualquer líder ou estadista cuja memória perdura nas páginas de uma qualquer obra biográfica.
Foi estudante, soldado, aventureiro, amante, prisioneiro, mas acima de tudo foi o poeta que melhor representou o classicismo em Portugal, escola em que se alicerçou o renascentismo.
Profundo conhecedor da história, da geografia e da literatura, tendo estudado na Universidade de Coimbra, então transferida de Lisboa por D. João III em 1537, no curso de Teologia mas que rapidamente trocou, em 1544 com apenas 20 anos, pelo curso de Filosofia.
Sempre foi impetuoso com as suas paixões, dando brado os seus sentimentos pela dama de companhia da então Rainha D. Catarina da Áustria, esposa de D. João III, de seu nome D. Catarina de Ataíde, imortalizada pelo poeta com o anagrama Natércia.
Em 1547, para fugir a inúmeras perseguições, divididas entre os invejosos da elite intelectual da época e os esposos ofendidos com o seu versejar, embarcou para África, combatendo em Ceuta onde veio a perder um dos seus olhos, passando a usar a pala no rosto e que apenas contribuiu para reforçar a sua áurea mítica.
No regresso a Lisboa, em 1549, envolve-se em constantes paixões amorosas, conflitos e duelos, o último dos quais dará origem, em 1553, a um ano de prisão, acabando por escrever o primeiro canto da sua imortal obra “Os Lusíadas”, voltando a embarcar, em 1554, com destino traçado para as Índias.
Passou por Goa e esteve em Macau, onde escreveu seis cantos da sua obra, sobreviveu ainda a um naufrágio na foz do Rio Nekong, salvando a nado os seus manuscritos, regressando, volvidos dezasseis anos, a Lisboa onde chegou em 1570, tendo publicado “Os Lusíadas” em 1572 e falecido em 10 de Junho de 1580.
Pelo meio, teve conhecimento, ainda em Goa, da morte prematura do amor da sua vida, D. Catarina de Ataíde e passou a receber, após a publicação da sua obra, uma pensão anual de El-Rei D. Sebastião.
De pouco lhe valeu tal reconhecimento, não apenas Portugal perdeu a sua independência para a dinastia Filipina, como veio a morrer na miséria, tendo sido sepultado em campa rasa.
Apenas em 1594, D. Gonçalo Coutinho, manda esculpir na sua lápide – “Aqui jaz Luís de Camões, Príncipe dos Poetas do seu tempo. Viveu pobre e assim morreu”
No entanto, a escolha do nome de Luís de Camões para o novo Aeroporto de Lisboa, não apenas reconhece a importância da cultura portuguesa e do contributo dessa figura para a mesma, mas acima de tudo respeita a História de Portugal e o mérito dos que por ela viveram e por ela deram a vida.
Ao mesmo tempo, o Governo Português dá uma lição silenciosa ao Presidente da República, enaltecendo não apenas aquele que contou a epopeia dos Descobrimentos, mas também deixando bem claro, com a escolha deste nome, que o tema das reparações das antigas colónias é um disparate.
Por arrasto, explica à extrema-esquerda que a História não se reescreve e à extrema-direita que não é preciso gritar para se defender essa mesma História.
Impõe-se agora, que haja coragem para que a escola volte a respeitar a obra de Luís Vaz de Camões, neste caso volte a dignificar o ensino de “Os Lusíadas”, enfrentando a chamada cultura “Woke” que estigmatiza tudo o que não se enquadre na sua ditadura moralista, por meio da qual pretende definir o pensamento correto na Sociedade atual.