
Algumas semanas atrás tinha a ideia de que o Orçamento de Estado para 2025, apesar das fitas do costume, iria ser aprovado. Na realidade, a aprovação desse era quase uma inevitabilidade, na medida em que, aparentemente, a reprovação do mesmo não interessava a ninguém.
Os Partidos no Governo (PSD e CDS) não vislumbravam vantagem nas sondagens para uma rutura de um possível acordo com o maior Partido da oposição (PS), tanto mais que as medidas de maior estímulo a algumas classes profissionais ainda não tinham, e não têm, produzido os efeitos desejados para promover uma dinâmica de vitória eleitoral.
Por outro lado, as medidas de promoção do crescimento económico, através da estimulação das empresas, por meio da redução do IRC, bem como o aumento do salário mínimo nacional, apenas podiam, e podem, ser introduzidas na programação do próximo exercício das contas públicas, com implicações diretas nas receitas para os cofres do Estado.
Tal significava que o Governo pretendia a aprovação do Orçamento de Estado.
Do lado do Partido Socialista ir a eleições, num cenário em que pouco, ou nada, seria alterado, acrescendo à necessidade de afirmação do novo líder, Pedro Nuno Santos, dando-lhe uma roupagem de estadista e politico responsável, não era, aparentemente, interessante.
Assim, para o PS o mais importante seria criar as condições para que o Orçamento de Estado visse a luz do dia, cultivando uma, pelo menos aparente, disponibilidade para negociar as suas bandeiras, esperando pelo momento oportuno e adequado para aceitar disputar novas legislativas, sem colocar em risco as eleições autárquicas.
Do lado do Partido CHEGA a passagem do Orçamento de Estado, de preferência com o seu voto contra e abstenção do PS, era o ideal para continuar a lutar por uma agenda mediática capaz de manter a esquerda radical encostada “às cordas”, ao mesmo tempo que agitava a bandeira de um referendo à imigração descontrolada, sem ter que colocar em risco a dimensão da sua atual bancada parlamentar.
Quanto aos outros partidos, mesmo que votassem contra o Orçamento de Estado, coisa que na realidade ainda não existe sequer, pois em bom rigor não foi entregue na Assembleia da República, a sua aprovação era suficientemente confortável para manter o discurso do “bota abaixo”.
O Bloco de Esquerda poderia continuar a desfilar alegremente pelas avenidas da Lisboa cosmopolita e culta, apregoando a candura da imigração desregulada, os direitos das minorias e da igualdade dos diferentes géneros, a ocupação de casas, a denúncia do abuso de autoridade pelas forças policiais, e por aí adiante.
Já o Partido Comunista Português poderia continuar a manipular os Sindicatos que controla para manter acesa a luta de classes, encerrar serviços e empresas públicas para assegurar a sua importância no condicionamento do Setor Público, e organizar a festa do Avante para ter o vislumbre do apoio da juventude e amealhar uns trocos para aumentar o seu já enorme património imóvel.
O PAN teria tempo para dar cabo das touradas e dos toureiros, o LIVRE encher-nos-ia a alma com as filosofias do rendimento básico incondicional, por meio do qual quem quisessem poderia abdicar de trabalhar, ser feliz, vivendo na natureza.
Quanto ao Iniciativa Liberal, podendo aprovar o Orçamento de Estado, continuaria a pregar a sua literatura do neoliberalismo, na qual o Estado é apenas um empecilho à livre iniciativa.
Em bom rigor a aprovação do Orçamento de Estado interessava a todos, menos ao Presidente da República!
Ao fim de alguns dias tudo mudou radicalmente, o Presidente da República começou a falar, a falar, a intrometer-se na política dos Partidos, a fazer pressão e acabou por baralhar a cabeça aos Deputados, e em particular aos portugueses.
Num ápice todos perceberam que o melhor é chumbar o Orçamento de Estado, mas ninguém tem a coragem para o assumir, enquanto o Presidente da República, qual paladino da estabilidade, lá irá aparecer a dar um “raspanete” aos alunos impreparados que colocaram em causa a harmonia do País.
No momento atual já ninguém quer um Orçamento de Estado que ninguém conhece, e estamos a um pequeno passo de irmos para eleições, no entanto, se ao Presidente da República interessava o chumbo do Orçamento, já a realização de eleições não é algo que lhe agrade…tudo porque manter tudo como está será a única forma de poder ter acesso a um palco mediático…
Afinal, Pedro Passos Coelho era o único que conhecia bem o prof. Marcelo Rebelo de Sousa!
Haja juízo, precisamos do Orçamento de Estado, caso contrário nem o PRR nos poderá valer.