NOTA DA SEMANA: Ai, Timor… Se outros calam, cantemos nós…

Passaram vinte anos desde a data em que o território de Timor-Leste se tornou independente e livre. Foi a 20 de Maio de 2002, e Portugal teve um papel decisivo nesse propósito, especialmente na promoção de um referendo, que em 30 de Agosto de 1999 revelou que 78% dos timorenses desejavam a sua independência.

Esse referendo foi realizado após a morte de Suharto em 1998, homem forte do regime indonésio, o mesmo regime que proibiu o uso do Português na antiga colónia Portuguesa e restringiu o Tétum, impondo um controlo absoluto sobre o território e explorando as riquezas do Mar de Timor.

E durante anos a Indonésia contou com o beneplácito da Austrália nessa intenção, sem esquecer a cumplicidade dos Americanos, que não condenaram a invasão do território após 28 de Novembro de 1975, data da primeira independência do território, por receio de que Timor-Leste caísse nas mãos dos “comunistas”.

Dessa invasão surgiu a FRETILIN, Frente Revolucionária de Timor Leste Independente, cujo líder mais icónico é Xanana Gusmão, liderando a luta armada, enquanto Ramos Horta liderou a luta política, com a presença constante de D. Ximenes Belo, então líder religioso da Igreja Católica. Estes dois últimos agraciados com o Prémio Nobel da Paz.

De referir que José Ramos Horta foi o quarto Presidente da República de Timor-Leste, entre 2007 e 2012, passando agora a ser o sétimo, tendo tomado posse no dia da celebração dos vinte anos da independência (20 de Maio de 2022).

Muito provavelmente a libertação de Timor-Leste terá sido uma das mais importantes vitórias diplomáticas de Portugal, mas que, retirando obviamente a liberdade de um Povo, pouco mais adiantou no contexto internacional para a afirmação do nosso País.

Quem não se recorda do empenho do poder político nacional e, acima de tudo, dos portugueses na luta pela libertação do povo timorense, revelando uma unidade em redor de uma causa comum como já não se via há bastante tempo?

Um empenho que ficará nas memórias de todos os que assistiram e participaram na defesa dessa causa, através da música “Timor”, com poema de João Monge e música de João Gil, cantada, inicialmente, por Luis Represas, transformando-se numa referência musical do grupo “Trovante”.
Talvez por isso, e pela história comum existente entre Portugal e Timor-Leste, de onde sobressaem laços de séculos, a presença do mais alto dignatário da República Portuguesa, Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, tenha sido o momento alto das celebrações dos vinte anos.

Tanto mais que a lógica dos afetos e o culto da proximidade às pessoas, que caracterizam o Presidente da República, se veio a revelar como algo extraordinário para um povo que, apesar de livre, ainda se debate com níveis acentuados de pobreza e que, quiçá por alguma nostalgia, ainda encara Portugal como a sua metrópole.

Infelizmente, nós Portugueses, continuamos a desperdiçar esses laços que nos unem ao Mundo Lusófono, um espaço que deveria ser valorizado através do reforço da promoção do ensino do Português, do apoio ao estabelecimento de parcerias comerciais e, acima de tudo, na defesa de uma História comum, com altos e baixos é verdade, mas que não pode ser apagada.

E Portugal deveria ter uma estratégia bem definida, suportada num plano de ação pensado para várias décadas, capaz de atravessar diversos executivos governamentais, presentes e futuros, mas suficientemente mobilizador de toda a nossa Sociedade.

Esse plano deveria começar por reforçar o apoio aos atuais países mais “pequenos” (dimensão territorial) do contexto ultramarino Português, como Timor-Leste, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, reforçando a nossa presença nos mesmos em todos os níveis, incluindo a colaboração militar, mas sem pretensões de ingerência, obedecendo apenas ao objetivo claro de fomentar e reforçar os laços que nos unem.

Após a consolidação dessa presença, Portugal teria que passar ao nível seguinte e aumentar a presença nos Países de maior dimensão, nos quais se incluem Brasil, Angola e Moçambique, e nestes apostando em dois grandes vetores: a língua e a economia.

Na realidade, Portugal terá que se libertar, de uma vez por todas, de quaisquer preconceitos pela presença secular nesses Países, tendo em vista a constituição de uma comunidade económica, assente na partilha da mesma língua.

Só dessa forma será possível libertarmo-nos desta nossa incapacidade em darmos o “salto” para o futuro, e o futuro está na nossa língua materna – o PORTUGUÊS.